Durante 21 anos (1964-1985), o Brasil viveu sob o regime militar. Partidos políticos, sindicatos, parlamentares foram cassados. Homens e mulheres foram exilados, perseguidos, torturados, assassinados, muitos até hoje não tiveram seus corpos encontrados.
Mesmo diante de toda essa repressão, o povo brasileiro não fugiu à luta e seguiu firme com seus melhores filhos o combate por liberdade e democracia no nosso país.
Em agosto de 1979, veio a anistia. Diferente do que o povo pedia, ela não foi ampla, geral e irrestrita. Os nossos heróis foram, aos poucos, voltando pra casa (o último anistiado só voltou ao Brasil no ano passado – 2010). Também lentamente, foram sendo aprovadas as indenizações às famílias. Muitos pedidos ainda faltam ser julgados. Contudo, o fato mais vergonhoso é o não julgamento dos torturadores e a negação, pelo ex-ministro de Defesa, Sr. Nelson Jobim, da existência de documentos ainda a serem abertos.
Diante desse quadro, passados 32 anos da anistia no Brasil, a Comissão da Verdade, proposta pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, ainda se arrasta para a sua aprovação e início dos trabalhos. Uma Comissão da Verdade soberana, independente, que dure o tempo que for necessário ao alcance dos objetivos, está entre as reivindicações do Comitê da Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, que foi lançado com a presença de mais de 150 pessoas no Auditório Rossini Alves Couto, do Ministério Público de Pernambuco.
Durante a programação, que contou com a presença de personalidades políticas que lutaram nos anos de chumbo, houve exibição de filmes, inauguração do novo hall de entrada do MP/PE e debates que emocionaram os que estavam presentes.
O evento foi presidido pelo ex-preso político e dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR), Edival Nunes Cajá, que falou em nome do Comitê Pernambucano da Memória, Verdade e Justiça. Na abertura, foi lido o Manifesto do Comitê por Marcelo Santa Cruz, irmão do desaparecido político, Fernando Santa Cruz. Além de estarem presentes Antônio de Campos, presidente da Associação Pernambucana de Anistiados Políticos – APAP; o professor e ex-deputado Clodomir de Morais; Yuri Pires, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes; o ex-preso político Ivan Seixas; Stephannye Vilela, presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco; Amparo Araújo, secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da Cidade do Recife; Agnaldo Fenelon, procurador geral da Justiça de Pernambuco.
Entre os depoimentos dos presentes, um dos mais emocionantes foi o de Elizabeth Teixeira. Uma senhora de mais de 80 anos, que relembrou aos presentes como seguiu a luta do esposo após seu assassinato a mando de latifundiários paraibanos. “Sempre que chegava em casa, João Pedro me abraçava e perguntava, na frente de nossos filhinhos, se eu continuaria a luta dele porque ele iria morrer, e eu nunca tinha coragem de responder. Quando o assassinaram, vieram me buscar pra ver o corpo, eu cheguei, segurei as mãos dele e disse que eu continuaria a luta dele”, afirmou dona Elizabeth, que continuou: ” 50 anos após a morte de João Pedro e ainda não foi feita a reforma agrária. Tem que ter uma reforma agrária nesse país”. Também participaram dos debates Abelardo da Hora; Agací de Almeida; Mariana Santa Cruz, representando Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando Santa Cruz; Silvia Montarroyos e Ataíde de Paula Crespo, filha de Francisco Julião.
Diante de todos os depoimentos, das denúncias de impunidade, de abusos de autoridade, de opressão, vale refletir sobre o que falou Ivan Seixas: “Houve um pacto de impunidade nesse país. Nenhum torturador foi julgado… hoje exigimos a punição dos torturadores… se não houver punição eles vão continuar torturando…”
Thays Santos, Recife