O 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Goiânia-GO, finaliza suas atividades neste domingo (17). Cerca de cinco mil estudantes, entre delegados e observadores, participam dos debates com pautas diversificadas, focando nas políticas governamentais para o ensino superior. As universidades da PUC-GO e da UFG concentraram a maior parte das atividades, que agora partem para os últimos debates e aprovação do plenário no Goiânia Arena.
Abertura para ninguém
Esvaziado, o Congresso da UNE teve sua abertura manchada por poucas delegações estaduais terem chegado ao local do evento na quarta-feira. Muitas universidades públicas ainda estão em fim de semestre letivo, o que atrapalhou a participação dos estudantes. Uma abertura de poucos aplausos, baixa combatividade e participação de todas as teses que compõem a UNE infelizmente resume bem a abertura.
Quinta-feira de atrasos
O primeiro dia, realmente, para o congresso foi a quinta-feira. Neste dia, o Congresso começou a tomar forma e começaram suas principais atividades. Na manhã, contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Educação Fernando Haddad, num “encontro” organizado pela UNE em defesa do Prouni – programa do governo que investe em faculdades privadas recursos que deveriam ir para aumentar vagas nas universidades públicas.
Também neste dia os estudantes saíram em passeata desde o Centro de Convenções até a UFG em um ato público. Notória foi a divisão das forças que compõem a entidade, entre governistas (UJS/tendências do PT/JMDB…) e a oposição de esquerda (Rebele-se/Juntos/Contraponto/Rompendo Amarras/Vamos a Luta…). O primeiro sempre defendendo o governo e suas propostas de educação, com ressalvas muito vazias. Já o segundo, mostrando muita disposição por propostas que realmente possam mudar a educação brasileira e questionando posições retrógradas do governo, como a proposta de Reforma Florestal do senador Aldo Rebelo (PCdoB) e o próprio Prouni.
À noite, os grupos de discussão trouxeram pautas importantes para os estudantes, como preconceito, Centro de Cultura da UNE, direitos humanos, financiamento do movimento estudantil, assistência estudantil e o próprio movimento estudantil em debate. Nos grupos, muita denúncia da precariedade das universidades públicas e o abusivo aumento das mensalidades, que a força majoritária da UNE é conivente, chegando à vergonha de, no dia seguinte, chamar na mesa de ensino privado um representante dos donos de faculdades particulares para defender o ensino privado e o Prouni.
Sexta dos acuados e sábado de voz
Com as bancadas já formadas, a manhã de sexta-feira foi de intensa disputa entre a oposição de esquerda e a força majoritária da UNE em todos os GDs. Iniciados depois de muito atraso, várias denúncias da oposição irritaram os governistas que, por várias vezes, tentaram mover o rumo dos debates desvalorizando as críticas. Acuados, já tinham uma resposta pronta: “…este governo é o que podemos ter de mais avançado e temos que respeitar seus limites…” e “…isso é o melhor para o Brasil…”.
O principal debate esperado pelos estudantes era sobre o novo Código Florestal. Buscando impedir o debate – que consequentemente deixaria visível as relações de Aldo Rebelo (PCdoB) com os ruralistas e o DEM -, colocaram o debate em uma sala longe de todo o resto dos GDs com espaço para somente 50 estudantes. Com sala superlotada e o corredor cheio de pessoas ainda tentando entrar flertou-se começar o debate. Os estudantes logo denunciaram a manobra da UJS para impedir a participação de todos e exigiram que fosse mudado para um auditório ou um espaço maior. Em meio à discussão gerada o representante do governo na mesa esbravejou que o código não interessava aos estudantes e que ‘apostava’ que ninguém tinha lido a proposta de novo Código Florestal e então se retirou da sala. Menosprezando a capacidade do estudante e incapaz de continuar em meio a uma discussão tão ampla e importante, a diretoria da UNE, envergonhada pelas palavras de ordem contra o novo código, fez encerrar o GD antes mesmo de começar.
O sábado resumiu-se a plenária de propostas com importante espaço de denúncias nas defesas de propostas, o que chegou a sensibilizar forças de oposição independentes a retirar suas propostas em apoio a oposição de esquerda.
Rebele-se na UNE indica presidente
A chapa Rebele-se na UNE, formada por membros e simpatizantes da UJR e uma das principais forças da oposição, cresceu muito desde sua formação em meados de 2003. O nome escolhido foi o de Yuri Pires, estudante de História da UFRPE. Pires foi presidente do DCE-UFRPE e membro da Federação do Movimento Estudantil de História. Na sua gestão do DCE, em 2009, organizou a luta pela reabertura do Restaurante Universitário, fechado há anos, e quando este foi reaberto, a ocupação que garantiu o aumento no número de refeições e a queda em 50% do preço do RU – hoje a R$ 3 -, já noticiado por A Verdade. De acordo com Yuri: “A UNE tem que se colocar na frente da luta de enfrentamento a mais uma crise do capitalismo. Tem que se colocar contra as injustiças sociais como fome, miséria, desemprego… se colocar contra o corte de verbas para a educação. É preciso se posicionar por uma sociedade mais justa, uma universidade popular e pelo socialismo”.
Eduardo Augusto
Correspondente no 52º CONUNE
Fotos: Camila Sol