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sábado, 21 de dezembro de 2024

Jovens, redes sociais e ideologia

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Há alguns meses, a partir das revoltas e revoluções do mundo árabe, as empresas de informação e comunicação vêm tratando do papel central da juventude nesses episódios, sobretudo do papel fundamental das redes sociais de internet.

É estranho que se chame tanto a atenção sobre a importância da juventude nessas revoluções, quando, na verdade, em todas as revoluções da história os setores mais jovens desempenharam um papel central.

Sendo o setor mais dinâmico, a juventude sonha em estar na primeira linha de batalha em qualquer conflito sociopolítico. Portanto, é normal que tenhamos visto os jovens como um destacado setor das recentes lutas no mundo árabe, ainda mais porque a juventude representa um percentual altíssimo da população desses países1.

Neste sentido, como comunistas, devemos saber situar o papel dos setores da população em seu devido lugar, analisando em profundidade a realidade, sem observações superficiais. Por outro lado, devemos saber advertir os desejos de difundir discursos contrarrevolucionários dentro da esquerda, levando em conta que uma luta generalizada não é o que tem acontecido no mundo árabe, nem tampouco o que vá emancipar os setores populares e a classe trabalhadora. Devemos entender que o que se sucede ali é que os jovens compreenderam a necessidade de unir-se à luta popular com uma presença destacada.

Se devemos advertir sobre os desejos de difundir discursos contrarrevolucionários no seio da esquerda, faz-se também muito importante colocar no seu devido lugar as ferramentas comunicativas, como as redes sociais de internet. Devemos deixar claro que os comunistas devem aproveitar todas as oportunidades que possibilitam os avanços tecnológicos que o capitalismo oferece – desde a invenção do trem até a internet.

Desse modo, as redes sociais são uma nova maneira de dirigir as massas, igual ao que foram os panfletos, os cartazes, o rádio e que deve ser a televisão. No entanto, devido à possibilidade de participação ou interlocução dos membros das redes sociais, a burguesia e alguns discursos contrarrevolucionários, que querem se fazer passar por discursos de esquerda, pretendem transmitir a ideia de que essas redes sociais substituem as organizações de massas e, até mesmo, as organizações fundamentais das classes sociais: sindicatos e partidos.

É aqui que as empresas de comunicação e informação mostram seu caráter de classe, seus verdadeiros interesses de classe, pois, com esta análise, lançam-nos uma mensagem: não é necessário que nos organizemos, apenas devemos ficar diante do computador assistindo a um evento ou “curtindo” um comentário na internet. Quer dizer: não se organizem, apenas mostrem sua inofensiva opinião na internet.

Leia também: O que o Facebook faz com as suas mensagens?

Mas as redes sociais não podem substituir a organização, que é a única maneira autêntica de transformar a realidade, de conseguir melhorias reais, de preparar a transformação definitiva, de conquistar o poder e construir uma sociedade diferente. De fato, se atentarmos para o exemplo com que começamos – o das revoltas no mundo árabe – nos daremos conta de que os governos da Tunísia e do Egito foram derrotados sem uma importância significativa dos novos meios de comunicação, incluindo a internet, como mostra a tabela sobre o grau de acesso à internet2.

Nesses países, o fundamental foi a organização da classe operária, em primeiro lugar, e de outros setores populares, em sindicatos e partidos. Na Tunísia, várias greves sacudiram o país ao longo de 2010, enfrentando uma forte repressão por parte do governo de Ben Ali. No Egito, alguns meses antes das revoltas, houve importantes greves em vários setores, e o governo caiu diante de uma greve geral que se proclamou por tempo indeterminado. No que foram importantes as novas tecnologias da comunicação para difundir e retransmitir imediatamente os acontecimentos que estavam ocorrendo nesses países. Mas, dentro do país, essas tecnologias cumpriram certa função apenas sobre a base de um grau de organização, raiva e combatividade anteriores a qualquer “evento virtual”.

Uma vez mais, devemos responder à ideologia de classe dominante com firmeza e, sobretudo, com otimismo, dizendo com a cabeça bem alta que a organização das pessoas em torno de seus interesses, e com uma perspectiva política concreta e de superação, será o que nos permitirá transformar a realidade e construir o socialismo. Neste momento, mais do que nunca, devemos dizer: organizemo-nos e lutemos!

1. No Norte da África, os jovens entre 16 e 29 anos correspondem a cerca de 33% da população (na Espanha, a 20%), e, do ponto de vista econômico, nesses países os jovens são até 50% da população ativa (na Espanha é de 25%). Quer dizer, é normal que a juventude tenha presença marcante num país onde é o setor mais numeroso da população.

2. Como vemos na tabela, países de baixo acesso da população à internet conseguiram derrubar governos com mobilizações e greves, pelo que a ferramenta da internet não pode ser um fator fundamental. Ao mesmo tempo, vemos que Portugal, país da Europa onde se produziu a maior manifestação convocada pela internet, é um dos países europeus onde são mais fortes as organizações de esquerda, tanto na sociedade como no parlamento. Tudo isso nos confirma qual é o fator fundamental: o organizativo.

País Acesso à internet (% da população)
Argélia 13,6 %
Egito 21,2 %
Marrocos 33 %
Tunísia 34 %
Portugal 48,1 %
Espanha 62,6%
França 68,9 %
Alemanha 79,1 %


David Gómez, Madri

Fonte: www.jovenguardia.es

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