Na manhã deste 18 de junho, faleceu em sua residência, aos 87 anos, o escrito e comunista português José Saramago. Ele vivia, desde 1993, com sua esposa e tradutora Pilar del Río na ilha de Lanzarote, arquipélago das Canárias, Espanha. Saramago lutava há anos contra leucemia crônica e veio a óbito por falência múltipla dos órgãos.
Filho e neto de camponeses sem terra, iletrados, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de novembro de 1922. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda tinha dois anos de idade. Passou a maior parte de sua vida na capital portuguesa. Fez estudos secundários, mas, por dificuldades econômicas, não pôde concluí-los. Seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas outras profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, o romance Terra do Pecado, em 1947, ficando até 1966 sem publicar. Em 1969, filia-se ao Partido Comunista Português (PCP) e enfrentou a repressão do regime fascista de Antônio Salazar. Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1998 e de um prêmio Camões, a mais importante condecoração da língua portuguesa, o autor é considerado o criador de um dos universos literários mais pessoais e sólidos do século 20.
De volta à prosa, seu estilo característico começa a ser definido em Levantado do Chão (1980) e em Memorial do Convento (1982). Em 1991, lança sua obra mais polêmica, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a qual foi considerada uma afronte pela Igreja Católica de Portugal e o levou a deixar o país pouco tempo depois. Seu último romance editado foi Caim, publicado em 2009.
O escritor e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho considera que as literaturas portuguesas perdem sua referência com a morte de Saramago. “Além de um grande escritor no campo da narrativa ficcional, Saramago foi o primeiro de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, dando a ela um caráter mais universal e sintetizando-a historicamente”. Entre os romances de Saramago, Hildeberto aponta O Ano da Morte de Ricardo Reis como o melhor. “É nesta obra que ele revela um olhar crítico sobre a ditadura de Salazar e a história do escritor Fernando Pessoa. Também faz uma profunda reflexão sobre o papel da arte e da estética na história”.
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