Neste último dia 21 de agosto faleceu a companheira Valdete Pereira Guerra, militante do Partido Comunista Revolucionário e do Movimento de Luta nos Bairros Vila e Favelas.
Valdete cresceu na periferia pobre de Natal e, assim como milhões de mulheres em nosso país, sentiu na pele a exploração e a opressão do injusto sistema capitalista. Pobre, mãe de família e com pouco estudo, não via nenhuma perspectiva de futuro para ela e sua família.
Em 8 de abril de 2004 houve a ocupação Leningrado, com 1.200 famílias sem-teto; oito dias depois, chegaram a Leningrado a companheira Valdete e sua família. Rapidamente a companheira se destacou por sua valentia e disposição para a luta; ingressou no MLB e no PCR e passou a ser a principal liderança do assentamento Leningrado.
Foram vários anos a lutar e enfrentar os interesses dos ricos que se diziam donos da terra ocupada. Valdete organizou inúmeras passeatas para arrancar dos governos o direito à moradia para aquelas famílias. De baixo de sol forte e muitas vezes de chuva, levava até as famílias a certeza de que, quando um povo se une e luta, esse povo vence.
E venceu! Hoje, o Conjunto Habitacional Leningrado tem mais de 600 moradias populares conquistadas pela luta do povo.
Exemplo de fimeza e fé revolucionária
Valdete também explicava aos moradores que a luta pela moradia não bastava, que eram milhões de famílias que não tinham onde morar, nem emprego ou mesmo o que comer. Dizia que era preciso fazer uma revolução em nosso país para que todos pudessem ter direito a uma vida digna, com saúde, educação, moradia e emprego; e que só em uma sociedade socialista, construída pelos trabalhadores, isso era possível. Afirmava sempre, com muito orgulho, e em qualquer lugar, sua condição de militante do PCR, como prova sua última entrevista ao jornal Tribuna do Norte, no dia 6 de novembro de 2009.
“Temos que lutar para conseguir viver com dignidade. Meu marido é soldador, veja bem; e nós não temos dinheiro para comprar o portão que ele ajuda a fabricar”, dizia Valdete Pereira Guerra.
Para quem não reconheceu, as palavras de Valdete exalavam marxismo. E não era por acaso: Ela era a presidente da Associação de Moradores do Conjunto Habitacional do Leningrado e integrante do Movimento de Luta em Bairros, Vilas e Favelas (MLB). O MLB quer a revolução socialista, mas enquanto o proletariado não toma o poder, eles pleiteiam luz, água, segurança, escola e postos de saúde. A pavimentação já existe. “Conseguimos com muito esforço, com muita luta, que a Prefeitura fizesse o calçamento, depois de um ano de criação do Conjunto. Isso aqui parece mais um depósito de pobre”, afirmava Valdete. (Tribuna do Norte, 6/11/2009)
Com apenas 41 anos de idade, Valdete Guerra morreu; lutava há meses contra um câncer. Pobre e comunista, não teve os cuidados nem o tratamento que os burgueses têm num país com a saúde cada dia mais privatizada. De fato, o falecido José Alencar, dono de uma das maiores empresas têxteis do Brasil, e, por isso mesmo, ex-vice-presidente da República, fez 13 cirurgias, usou as modernas drogas existentes no mundo contra o câncer e se internou no maior hospital privado do país, o Sírio-Libanês, por vinte vezes.
Valdete não teve nada disso. A quimioterapia foi interrompida sob a alegação de que o câncer tinha avançado muito e, em vez de continuar internada no hospital, deveria ser mandada para casa. E foi.
Mesmo assim, sofrendo muito e vendo a morte chegar, Valdete não parou de lutar. Deu-nos uma verdadeira lição de vida ao permanecer na militância revolucionária, defendendo seu partido – e ainda deu à luz sua filha Vitória Ester, provando que a vida não se esvai, continua pulsando em outras pessoas, nas gerações futuras.
Com uma firmeza inquebrantável, Valdete expressou seu desejo de ser sepultada com a camisa do MLB, com a bandeira do PCR sobre seu caixão, e de que todos os presentes ao seu enterro cantassem a música que, quando cantava, enchia seus pulmões: a Internacional, o hino dos trabalhadores de todo o mundo.
Com um pesar muito grande, mas com muito orgulho e honra, cumprimos esta última tarefa que a companheira nos deixou.
No dia 22 de agosto, centenas de pessoas vindas de vários bairros de Natal, principalmente do Leningrado, compareceram ao Cemitério Bom Pastor para prestar essa última homenagem. Em sua imensa maioria eram companheiros e companheiras que conheciam Valdete de lutas.
Não temos dúvida em afirmar que a grande companheira Valdete continuará viva em todas as lutas do sofrido e explorado povo brasileiro e do nosso Partido, o PCR; reafirmamos o nosso compromisso de, igual a Valdete, lutar sem descanso por justiça, igualdade e uma sociedade socialista.
“Um povo unido é um povo forte que não teme a luta nem a morte.
Avante, companheiros, que essa luta é minha e é sua.”
Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR)
saudades da minha companheira de luta
Muito triste.