Trecho perdido da entevista de Stalin a Emil Ludwig

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Reproduzimos abaixo um trecho até recentemente perdido de uma famosa estrevista de Stalin. A tradução do russo para o inglês foi feita pelo professor Grover Furr.

Trecho perdido da entevista de Stalin a Emil Ludwig

Em 13 de dezembro de 1931 aconteceu no Kremlin uma conversa de quase duas horas entre J.V.Stalin e o escritor alemão Emil Ludwig, o biógrafo de vários personagens históricos importantes de toda a Europa. Em abril de 1932 a transcrição dessa conversa foi publicada no jornal Bolshevik. Ela foi publicada em 1932 como um panfleto, e em 1951 foi reimpressa no 13º volume das Obras Escolhidas de Stalin. A Entrevista com o escritor alemão Emil Ludwig é um dos textos mais conhecidos de Stalin. Partes dele já se tornaram antológicas.

Uma busca na coleção dos documentos de Stalin no Centro Russo Para a Preservação e Estudo de Documentos de História Recente (RTsKhIDNI) me permitiu verificar que a versão publicada do texto dessa conversa não é a versão completa. Em 8 de fevereiro de 1932 a cópia datilografada deste documento foi distribuída a pedido de Stalin para os membros e candidatos a membro do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (Bolchevique). Este texto foi editado por Stalin, reimpresso com suas correções e então publicado.

O fragmento do texto original dessa conversa, desconhecido até hoje, não foi apenas editado por Stalin, mas também movido de seu lugar original para o final do transcrito, e então apagado da cópia enviada para impressão. Publicamos abaixo exatamente este fragmento. As frases em itálico no início e no final do texto marcam o local original em que estava.

Preparado para publicação por M.A.Leushin

STALIN: Sim, recentemente os alemães mudaram bastante… Mas agora me permita que eu lhe faça uma pergunta indiscreta. Isso é de fato uma pergunta, não uma proposta. Você pode escolher não responder. Mas se você responder na afirmativa, ninguém, sob nenhuma circunstância, jamais poderá saber que eu lhe perguntei isso.

LUDWIG: Estou de acordo.

STALIN: Espere um momento. Você publicará nossa conversa?

LUDWIG: Não como uma entrevista. Mas eu a utilizarei de alguma forma, quando for escrever sobre você.

STALIN: Você receberá algo por isso?

LUDWIG: Sim.

STALIN: Você doaria uma parte pequena do seu honorário para uma fundação que auxilia os filhos de trabalhadores alemães desempregados? Mas, claro, sem mencionar de maneira nenhuma que eu lhe pedi isso.

LUDWIG: Dentro de algumas semanas o Sr. Umanskii receberá de mim um cheque no valor de mil marcos. Farei isso com prazer. Mas você não gostaria de considerar a possibilidade de contar o que você me disse? Aos olhos de milhares de pessoas, daquelas que não lhe consideram ou um Tsar cruel ou um bandido nobre, isso causaria uma impressão muito positiva sobre você.

STALIN: Eu sei que os senhores no campo inimigo podem pensar de mim do jeito que acharem melhor. Eu considero abaixo de mim tentar mudar as mentes desses senhores. Eles pensariam que eu estou buscando popularidade. Não, eu não quero que essa minha proposta seja publicada. *

LUDWIG: Em todo caso eu agradeço sua proposta. Nada semelhante jamais ocorreu com nenhuma figura política entre as dezenas que eu já encontrei. Eu admiro sua proposta não só porque você tem pensado nas crianças alemãs, mas porque você acabou de provar que é um verdadeiro internacionalista.

Sob quais circustâncias a completa unidade da classe trabalhadora sob a liderança de um único partido é possível?…

NOTAS

* Antes da edição feita por Stalin esta passagem tinha a seguinte redação: “Eu sei que eles podem pensar de mim do jeito que quiserem. Eu considero abaixo de mim tentar mudar as mentes daqueles que me consideram ou um “Tsar cruel” ou um “bandido nobre”. Eles pensarão que estou buscando popularidade. Não, eu não quero que nada disso seja impresso.”

REFERÊNCIA

‘I CONSIDER IT BENEATH ME…’A fragment of a note on the conversation between J.V. Stalin and Emil Ludwig in 1931″. Istoricheskii Arkhiv 3 (1998), 216-218.

Tradução de Glauber Ataide para o Jornal A Verdade