Dados do IBGE revelam necessidade de transformação social

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Ao longo deste ano o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou alguns dados preliminares acerca do último Censo. O desenvolvimento deste estudo, que é realizado a cada decênio, é fundamental para que os governos mapeiem as principais mudanças e/ou permanências verificadas nas áreas social, econômica, política e cultural que ocorreram no país nos últimos dez anos. Além disso, este tipo de estudo ajuda na elaboração e implementação das políticas públicas, seja no combate à miséria ou mesmo na elevação do nível educacional do País, por exemplo.

 Prestes a se tornar a sexta maior economia do mundo, superando inclusive uma das maiores potências mundiais, o Reino Unido, o Brasil amarga diversas permanências socioeconômicas. Uma análise pouco aprofundada do desempenho do País nos últimos dez anos nos revelou alguns dados positivos e outros extremamente negativos e duramente persistentes para a riqueza que é gerada no país. Na educação, por exemplo, houve uma redução importante, mas pouco significativa, do analfabetismo; ou seja, se em 2000 o Censo registrava uma média de 12,8% de analfabetos no Brasil, em 2010 os dados registraram uma redução de apenas 3,8%. Isso significa que 9% da população brasileira continua analfabeta; em termos absolutos, são 14,6 milhões de brasileiros com mais de 10 anos de idade que não sabem ler nem escrever.

Os números mostram ainda um envelhecimento gradual da população, uma vez que pessoas com 65 anos ou mais representam agora 7,4% nos dados de 2010, em contraposição aos 5,9% de 2000. O envelhecimento da população é um indicador que pode demonstrar uma melhora da qualidade de vida da população, mas é preciso analisar estes dados com profundidade, conhecendo a realidade de cada região, pois alguns dados são apresentados com uma média global, distorcendo, assim, a realidade. Além disso, é preciso saber se o País está preparado para realizar o atendimento, a partir das políticas governamentais, dessa mesma população.

Por outro lado, os dados trazem alguns números preocupantes e bastante corriqueiros quando nos referimos às características socioeconômicas do Brasil. Os serviços públicos e infraestrutura continuam a desejar. Para se ter uma ideia, no que se refere ao saneamento básico apenas 55,4% dos 57,3 milhões de domicílios são ligados à rede de esgoto; dos restantes, 11% utilizavam fossa séptica e os outros 32% utilizavam formas alternativas; isso significa que os rios, os córregos e as fossas rudimentares ainda são utilizados em substituição à rede de esgoto.

Mais: cerca de 10% da população brasileira ainda utiliza mecanismos no mínimo antiquados para a época atual, em função da tecnologia de que dispomos, ou seja, para que a água chegue ao lar de quase 20 milhões de brasileiros, a alternativa continua sendo o poço artesiano, os rios etc. Os números mais amargos continuam sendo os da desigualdade de renda entre os domicílios.

O país continua apresentando também uma grande desigualdade. Os 20% mais ricos do país têm um patamar de renda semelhante ao de países como Canadá e Alemanha, ao passo que o restante da população vive numa condição muito parecida com a dos países pobres.

O índice de Gini foi utilizado para medir o grau de desigualdade. Quanto mais próximo de 0, menor desigualdade; quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. Apesar de a taxa média do Brasil sofrer uma queda, cerca de 11,5%, o País ainda apresenta um índice de desigualdade superior a muitos países do Terceiro Mundo.

De acordo com o IBGE, a parcela dos 10% com os maiores rendimentos ganhava 44,5% do total de renda (recebia em média R$ 9.501 ao mês) e a dos 10% com os mais baixos rendimentos, apenas 1,1%. Em outra estimativa, agora com os 50% de menores rendimentos, chegou-se à conclusão de que este grupo concentrava apenas 17,7% do total (recebendo em média R$ 225 ao mês). Em termos práticos, isso significa que os ricos ganham 42 vezes mais que os pobres no Brasil.

Os dados mostraram ainda que metade da população recebeu, durante o ano de 2010, cerca de R$ 375, valor bem abaixo do salário mínimo pago na época, que era R$ 510. Por outro lado, a desigualdade de gênero e racial permanece, pois os maiores salários ainda são pagos a homens, cerca de 42% a mais que o das mulheres, e, ao mesmo tempo, os números mostram que a população negra e parda ganha 3,2 menos que a população branca.

Desta forma, a divulgação desses dados assinala a necessidade de uma permanente reflexão e luta pela transformação social. As reduções verificadas são insignificantes quando nos deparamos com o tamanho do país e a riqueza que possuímos. O que se vê é uma concentração regional, resultado de uma permanência histórica. Ao mesmo tempo, as ações públicas caminham a passos lentos.

Se a população está envelhecendo, quais as ações desenvolvidas que protegem o direito do idoso na atualidade? Será que o País está preparado para atendê-los em sua plenitude? Se há uma redução do analfabetismo. por que não questionar a qualidade da educação que é oferecida e a formação que é dada ao professor? O fato é que a materialização dessa desigualdade está refletida nas zonas rurais, nas cidades médias e nos grandes centros urbanos do País. Os espaços urbanos, por exemplo, dispõem de espaços para os pobres e espaços para os ricos: lojas, áreas de lazer, escolas, faculdades, condomínios privados e lugares. Cada dia eles segregam mais, aumentando o fosso de desigualdade que ainda persiste no Brasil.

Por isso, cada vez mais é fundamental o questionar permanente da atual sociedade capitalista, pois em todos estes anos ela foi incapaz de resolver os principais males que afligem nossa população, pois se houve mudanças, como eles apontam, todas vieram da luta dos povos oprimidos e subjugados que são responsáveis por produzir a riqueza deste País, mas que não usufruem do que eles mesmos produzem.

Cleiton Ferreira, geógrafo

Fontes: IBGE, Folha de S.Paulo, 29/04/2011; Agência Carta Maior, 16/11/11.

Fontes: Folha de S.Paulo, 29/04/2011; Agência Carta Maior, 16/11/11.