No domingo, 4 de dezembro de 2011, faleceu Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Dr. Sócrates. Notabilizado pelo excelente domínio de bola e pelo calcanhar mortal para zagueiros despercebidos, quase sempre deixava os companheiros de ataque de frente para o goleiro.
Mais. Notabilizou-se como homem de opinião e personalidade fortes. Foi craque nos gramados em um tempo em que os brasileiros não podiam votar no presidente da república e toda e qualquer opinião dissidente do regime era punida com seqüestro, tortura, sevícias e morte. E nestes mesmos tempos, foi à principal liderança de um time que ficou conhecido como “A Democracia Corintiana”. Nesta democracia, desde o roupeiro até os dirigentes do clube decidiam tudo através do voto e da discussão coletiva, inclusive o treinador, e tinham como palavra de ordem “ganhar ou perder, mas com democracia!”. Era o exemplo que aqueles homens queriam dar para toda a sociedade.
E quando o Corinthians discutia o seu passe com a Fiorentina (Itália), num comício pelas diretas, prometeu: “Se a emenda Dante de Oliveira (previa eleições diretas para presidente) passar na Câmara e no Senado, eu não saio do meu país!”. Infelizmente não passou naquele momento e Sócrates fez uma rápida incursão pelo exterior, sendo ídolo também daquela torcida. Depois voltou, ainda jogou pelo Flamengo, Santos e terminou sua carreira onde tudo começou: Botafogo de Ribeirão Preto.
Aposentado, Sócrates escreveu peças teatrais, crônicas desportivas e artigos sobre os mais variados assuntos. Em várias entrevistas, demonstrou a sua admiração por Cuba, chegando inclusive a colocar o nome de Fidel em seu último filho. Considerava Cuba como exemplo de democracia e se declarava um “Socialista no sentido pleno da palavra”. Numa entrevista histórica que concedeu a revista Caros Amigos, defendeu a revolução como saída para o capitalismo que “só explora a capacidade de consumo da nação” e “está pouco se lixando para se o povo passa fome ou está se matando”.
Vinha se dedicando ultimamente, a denunciar em sua coluna semanal em Carta Capital, os mandos e desmandos da CBF e das multinacionais que comandam a FIFA, com a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Em seu último artigo denuncia os impactos ambientais que a Copa trará e os poucos retornos sociais advindos dela. Também em sua última entrevista impressa, para o Jornal do Diretório Central dos Estudantes da UFRPE (que segue na íntegra) disse que a Copa de 2014 “passa ao largo da cidadania”.
Assim era o Dr. Sócrates, craque, inteligente, firme em seus princípios e profundamente humano. Lhe cabia melhor o nome de Sócrates Democrático Socialista Brasileiro.
(Yuri Pires Rodrigues é 1° Vice-presidente da União Nacional dos Estudantes e membro da coordenação da UJR)
Entrevista concedida por Sócrates ao jornal do DCE da Universidade Federal Rural de Pernambuco em 16 de novembro de 2011.
Na sua opinião, porque há tanto investimento para a construção de estádios para a Copa 2014, e quase nenhum para o desporto amador no Brasil?
Sócrates – Construir é onde se pode manipular mais recursos. Por isso se levantam tantos equipamentos esportivos. Investir em educação ninguém quer.
Recentemente o Deputado Federal Romário fez um discurso denunciando a questão das desapropriações de famílias pobres para a construção das obras da copa. Qual sua opinião sobre o tema?
Sócrates – Tudo o que está sendo e será feito passa ao largo da cidadania.
Talvez a experiência mais coletiva do futebol brasileiro tenha sido a democracia Corinthiana. O futebol é um esporte coletivo. Porque hoje vivemos um individualismo cada vez maior no futebol, chegando às vezes ao cúmulo de se criarem panelinhas para queimar tal ou qual jogador?
Sócrates – O individualismo está presente em toda a nossa sociedade. Poucos se preocupam com o bem estar coletivo e isso só favorece a manutenção do atual status social.
Sobre a meia entrada nos jogos da Copa do Mundo 2014, a FIFA é contra, mas nos estados onde se realizarão os jogos, existem leis que obrigam os empresários do setor a conceder meia entrada para estudantes. Qual a sua opinião?
Sócrates – Quando assumimos a realização da Copa também assinamos uma série de quesitos que provavelmente não foram lidos. Uma das questões é essa e agora deve ser resolvida sem que percamos nossa autonomia. Não deveríamos estar discutindo isso, mas também sendo um evento privado não deveria utilizar recursos públicos ao contrário do que está acontecendo. Está tudo errado assim como os mais lúcidos esperavam. Só não sabia quem não queria ver o que ocorreria.
Yuri Pires Rodrigues
E um cara desses, com esse pensamento, com essa visão, que muito contribuiu e que contribuiria ainda mais para a transformaçãod a sociedade, se vai, assim, tão precocemente e os “Sarneys” e “FHCS” da vida ficam aí e viram mumias!!Vá se entender os desígnios da Natureza!!!!