Será lançada pelo estado alemão da Baviera, no sudeste da Alemanha, uma nova edição comentada do livro Mein Kampf (Minha luta), escrito por Adolf Hitler, e que não é publicado no país desde 1945.
Markus Söder, ministro de finanças da Baviera, afirmou que o motivo da publicação é que os direitos autorais da obra, pertencentes ao estado, irão expirar em 2015, e que isso poderia levar grupos neonazistas a divulgarem amplamente a obra, levando mais jovens a conhecê-lo. Söder reconheceu que o livro ainda tem em si algo “místico”, o que explicaria seu poder de atração.
A nova edição, que terá versões para escolas e também em áudio-livro, incluirá comentários que supostamente refutarão os argumentos de Hitler, deixando o livro “sem atrativos”, o que impediria que os leitores fossem seduzidos pela propaganda do líder nazista.
A obra nunca foi oficialmente proibida no país. De um ponto de vista jurídico, o único impedimento à sua publicação era o fato deste estado ser o detentor dos direitos autorais dos títulos de uma das principais editoras do partido nazista, a Eher-Verlag, desde o final da Segunda Guerra Mundial. Isso, todavia, não impediu que Mein Kampf recebesse edições em outros idiomas.
Mas esta justificativa do estado, no entanto, parece apenas uma fraca racionalização de motivos obscuros não admitidos, não confessados. É no mínimo estranha – e muito suspeita, na verdade – a estratégia de lançar uma edição do livro agora, dando-lhe ampla publicidade, apenas para evitar que uma possível edição publicada por neonazistas seja um sucesso daqui a três anos, acreditando que notas de rodapé e nas margens sejam suficientes para combater uma obra que, como admite o próprio governo, seduz o leitor.
É preciso, antes de tudo, contextualizar o momento em que esta obra é relançada. A Europa passa por um período de agravamento da crise capitalista, a maior desde a crise de 1929, a qual precisou de uma guerra mundial para se recuperar e assim garantir mais algumas décadas de sobrevida ao moribundo sistema capitalista.
E diante do aumento da xenofobia, dos ataques aos direitos dos trabalhadores, do aumento dos gastos militares e das invasões imperialistas que se intensificam nos últimos anos, não há dúvidas de que esta publicação prenuncia um aprofundamento e uma polarização da luta de classes para breve.
Pois em um contexto de crise, não apenas os comunistas apresentam uma solução definitiva para todas as crises do capitalismo em geral – isso é, sua superação revolucionária em direção ao socialismo. A direita também apresenta suas propostas, as quais tomam forma no fascismo, entram em curso pelas guerras e se desenvolvem até a “solução final”.
Glauber Ataide, Redação de A Verdade