UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Democratizar o Ceeteps: uma tarefa para a comunidade

O mandato da atual diretora superintendente do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps) se encerra no segundo semestre de 2012 e não há possibilidade de recondução por tratar-se do seu segundo mandato.

Assim como na indicação nos dois mandatos de Marcos Antonio Monteiro e nos dois mandatos de Laura Laganá, seis pessoas, estranhas ao Ceeteps em sua “maioria”, que compõem o Conselho Deliberativo é que vão “eleger” o próximo dirigente da autarquia e enviar o nome do escolhido ao governador para sua nomeação, tudo obviamente já combinado.

Através deste sistema, o Ceeteps vai sendo dirigido por pessoas ligadas ao partido da situação, submetidas às demandas do partido, alheias aos interesses da comunidade e sem qualquer compromisso com os professores, funcionários e alunos. É por isso que temos o mais baixo salário da Educação Profissional e Tecnológica do Brasil; é por isso que as condições de trabalho são ruins e, às vezes, até precárias; é por isso que a expansão do Ceeteps é feita aos sabores dos desejos e compromissos políticos; é por isso que não há democracia em nossa instituição e, mesmo no último rincão de participação da comunidade, a escolha de diretores de unidades, nem sempre o primeiro colocado é o nomeado.

Este quadro já foi diferente, mostrando que é possível, com a força da comunidade acadêmica, democratizar o Ceeteps com eleições para os dirigentes, ampliação e participação dos diversos segmentos no Conselho Deliberativo e a implantação de novos Conselhos para discussão Administrativa, de Ensino, Pesquisa e Extensão de Serviços à Comunidade, objetivos diretos de uma instituição pública da educação profissional e tecnológica.

Tão logo o processo democrático foi conquistado no país e a Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, os ares da democracia começaram a rondar todas as instâncias e, no Ceeteps, não foi diferente.

Assim, em 1991, com a proximidade do término do mandato de Oduvaldo Vendramento, as entidades representativas dos servidores administrativos, docentes e dos estudantes, cansadas dos processos sucessórios de cartas marcadas e de constrangimentos em listas de apoio a um ou a outro candidato, reivindicam a participação da comunidade no processo sucessório que se iniciara.

A negativa do Governo em permitir a participação da comunidade e manter o processo sucessório restrito aos seis membros do Conselho Deliberativo do Ceeteps impulsiona o movimento chamado de “Processo Paralelo de Consulta”, encabeçado pela Asps, Adeteps, Adfatec e CA XXIII de Abril.

O processo paralelo foi realizado com regras claras, debates entre os candidatos e uma participação maciça da comunidade. Neste mesmo período, um processo sucessório oficial é deflagrado pela instituição, mas, temendo a iminente revolta da comunidade – que não teria seu escolhido nomeado pois fora votado num processo não reconhecido pelo Governo, a Unesp interveio e nomeou como diretor superintendente interino o então vice-diretor Kazuo Watanabe.

Face às pressões, paralisações de trabalhadores e estudantes e com a ocupação da Congregação pelos estudantes da Fatec São Paulo, o reitor da Unesp, professor Dr. Milton Barbosa Landim, atende aos clamores da comunidade e, usando prerrogativas do vínculo e associação do Ceeteps à Unesp, convoca nova consulta com regras definidas e a participação oficial das entidades no processo. Não houve paridade, os docentes representaram 60%, os funcionários 25% e os alunos 15%, mas houve proporção entre o 2º e o 3º graus. As entidades e a comunidade entenderam que as regras atendiam às reivindicações, e a normalidade voltou ao Ceeteps. Ao final do processo, foi sagrado vencedor o professor Elias Horani, que obteve aceitação em todos os segmentos.

Empossado em setembro de 1992, Elias Horani demonstrou que valeu a pena a luta da comunidade. Foi um mandato organizado, democrático, participativo e resistente. Tão resistente que causou seu afastamento do cargo logo no primeiro ano da gestão tucana em São Paulo.

Foi no mandato do professor Elias que vários entraves foram resolvidos, como a contratação inédita de um profissional da área de recursos humanos para gerir este setor. Os coordenadores de área passaram a ser eleitos por seus pares; diretores escolhidos nos processos de consulta eram nomeados quando ganhavam; a política salarial do Cruesp foi respeitada; acordos trabalhistas foram feitos, como pagamento do adicional noturno, entre outros.

Foi também nesta gestão que o processo de consulta à comunidade se consolidou, com a repetição do processo de consulta à comunidade para o cargo de vice-diretor superintendente (na época os mandatos não eram coincidentes) e com a realização do primeiro e único Congresso do Ceeteps, convocado pelo Conselho Deliberativo da instituição e organizado pelas entidades representativas da comunidade. Plenárias, debates, seminários e o congresso propriamente dito contaram com representação paritária entre professores, funcionários e alunos das Etes e Fatecs, que discutiram, pela primeira e única vez na história da instituição, os rumos que queriam impulsionar ao ensino técnico e tecnológico público paulista.

Foi um momento rico, único e inspirado pelo processo de democratização no país.

Infelizmente, em 1995, o PSDB vence as eleições nacionais e no Estado de São Paulo, e o recente processo de democratização do país foi interrompido pelos compromissos da corrente com o Consenso de Washington e com o neoliberalismo.

No Ceeteps não foi diferente. A construção democrática iniciada em 1991 foi interrompida no início de 1995 com a criação de um “grupo de trabalho” para rever o papel da escola técnica.

Mas a clara demonstração que o neoliberalismo estava errado; que os mercados não são capazes de se autorregular; que é o povo que os socorre quando colapsam, como a recente crise norte-americana comprovou, aliada ao grande movimento de democratização do mundo árabe, com a queda de ditadores históricos, há décadas no poder sem qualquer participação do povo nas decisões do país e ainda, com a recentíssima crise na União Europeia, fizeram o mundo perceber que o bem-estar social deve ser reivindicado, e que o mundo está se transformando.

Como o Ceeteps fica no mundo, a coletividade deve perceber que é possível, é viável, é justo e é legal reivindicar a sua participação nos destinos do Ceeteps.

O Sinteps defende a ampla, geral e irrestrita democratização do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Queremos a eleição paritária de nossos dirigentes, seja na administração central, seja nas unidades.

Queremos a ampliação do Conselho Deliberativo, com a participação paritária de todos os segmentos da comunidade: professores, funcionários e alunos nas discussões e deliberações sobre os rumos da instituição, da educação profissional e tecnológica pública do nosso estado; a instalação de novos conselhos: o de Ensino, Pesquisa e Extensão de Serviços à Comunidade e o de Administração, ambos com a participação de todos os segmentos da comunidade; a realização de Congressos Institucionais, onde os temas centrais sejam discutidos e aprovados por delegados eleitos pela comunidade. Enfim. Queremos respeito! Queremos votar e ser votados!

Silvia Elena de Lima, São Paulo
(Secretária Geral do Sindicato Dos Trabalhadores Do Centro Paula Souza)

Outros Artigos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes