O dia 28 de março vai ficar na memória dos movimentos sociais de Feira de Santana, devido à repressão sofrida pela juventude que lutava contra mais um aumento nas passagens de ônibus da cidade. Oito estudantes que dirigiam uma grande manifestação no Centro de Feira de Santana foram violentamente agredidos e presos pela Polícia Militar.
Indignados com os constantes aumentos e o péssimo transporte, três mil estudantes e famílias sem-teto foram às ruas com a palavra de ordem “nenhum centavo de aumento” e contra o aumento abusivo de R$ 2,50 na passagem, o mesmo preço da capital do Estado, Salvador.
A manifestação percorreu as principais ruas de Feira com muita empolgação e combatividade, sendo saudada pelos trabalhadores do comércio, que gritavam das lojas palavras de apoio. Ao chegar em frente à Prefeitura, sentimos um clima pesado e, logo em seguida, a Cavalaria da Polícia Militar tentou avançar sobre a passeata, mas os manifestantes gritaram “Ih, fora, Ih, fora!” e “Policial, não seja jumento, seu filho também vai pagar aumento”.
Quando chegamos ao Terminal Central, a Polícia deu início a uma guerra contra a manifestação. Centenas de policiais fortemente armados começaram a amedrontar os estudantes com o avanço de cavalos, cachorros e a passagem de motos no meio da passeata.
Os estudantes, porém, não se intimidaram e partiram também para cima dos policiais. Numa ação planejada, a Polícia surpreendeu os organizadores da manifestação e lançou dezenas de policiais para prender de surpresa os oito estudantes que coordenavam o ato. Ao agarrar as lideranças, começou o espancamento e a covardia.
Jader Dourado, dirigente do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e do Partido Comunista Revolucionário (PCR), foi arrastado pelo pescoço por vários policiais. Em seguida, foi a minha vez e, logo depois, prenderam Eslane Paixão, Ana Claúdia Mota, Bruno Alexandre e Carla Emanuelle, diretores da Associação dos Estudantes Secundaristas de Feira de Santana (Ames). Antes disso, dois estudantes que participavam pela primeira vez de uma passeata já haviam sido presos: Layla Guimarães e Jackson.
Todos nós fomos levados com violência para dentro de viaturas, algemados e machucados com chutes e murros. Até chegar à Delegacia, as mulheres foram xingadas de putas, cachorrinhas e vagabundas. O major Amon, um dos comandantes desse ato fascista, demonstrando total despreparo para o cargo que ocupa, além de um machismo doentio, gritou para mim: “O que é seu tá guardado!”. E lembrou a Ditadura: “Se você estivesse na década de 1980, ia ver o seu”. Ao longo do percurso, ainda foram colocadas pedras para forjar um (falso) flagrante, além de apagados filmes e fotos de várias câmeras dos estudantes que haviam registrado tudo.
Os estudantes continuaram até o anoitecer fechando ruas, puxando palavras de ordem e esperando por notícias sobre os companheiros presos. Depois de mais de 11 horas na Delegacia, fomos liberados mediante pagamento de fiança e acusados de “desacato à autoridade, depredação do patrimônio público, incitação à violência, vandalismo e resistência à prisão”. Já os policiais, provavelmente receberão alguma medalha por terem defendido a ganância e o lucro das duas famílias que são donas das empresas de ônibus de Feira de Santana.
Durante nossa prisão, contamos com a solidariedade de vários estudantes, sindicalistas, representantes de associações e membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores, que divulgavam fotos, vídeos e manifestações de apoio, além da disponibilização, por parte da UEFS, de advogados para nossa defesa.
As ações da repressão só contribuíram, no entanto, para a uma maior indignação do povo. A luta agora é contra dois tipos de violência: o aumento das passagens e a repressão cometida contra os estudantes no dia 28 de março.
Iracema Santos, Feira de Santana – Militante da UJR-BA