UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Argentina expropria multinacional espanhola

Outros Artigos

O Senado argentino aprovou, por ampla maioria, o projeto de lei enviado pela presidente Cristina Kirchner ao Congresso, no final de abril, que declara de interesse público a exploração do petróleo e seus derivados no país e reestatiza a empresa YPF, antiga estatal privatizada na década de 1990.

A partir de agora 51% das ações da YPF serão retomadas pelo governo argentino, ficando este com 26,06% e as regiões produtoras com 24,99%, enquanto os 49% restantes serão de responsabilidade das províncias (estados) nos quais a empresa atua. A YPF é a líder no mercado de combustíveis na Argentina, controlando 52% da capacidade de refinamento do país e dispondo de uma rede de 1.600 postos.

De acordo com o relator do projeto, o senador Marcelo Fuentes, da Frente para a Vitória, a expropriação das ações de YPF nas mãos da Repsol “marca o início do caminho para a recuperação da soberania energética e deve necessariamente definir nossa postura frente ao resto das petroleiras”. Já para a presidente Cristina Kirchner, o objetivo da medida é alcançar a autossuficiência do país em petróleo. “A Argentina é o único país da América Latina que não maneja seus recursos naturais”. Ela também afirmou estar seguindo o exemplo de outros países que têm o controle da maioria dos seus recursos de hidrocarbonetos, como Arábia Saudita, Irã, China, Venezuela, México, Chile, Uruguai, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Kuwait e Noruega.

De fato, nenhum país soberano pode abrir mão do controle de bens e recursos estratégicos. Logo, a decisão do governo argentino não é apenas justa, mas também lógica. A YPF é a única companhia nacional de petróleo e gás do país, mas foi vendida à Repsol por apenas US$ 15 bilhões em 1999, durante a onda de privatizações que atingiu a Argentina. Desde então, a produção de petróleo e gás argentinos caiu, a exploração de novas reservas foi interrompida e o país hoje importa o produto. Somente entre 2003 e 2010, o consumo de petróleo e gás subiu 38% e 25%, respectivamente, enquanto a produção caiu 12% e 2,3% no mesmo período.

A privatização da YPF tem custado muito caro à Argentina. Estima-se que o rombo do setor este ano será de 60 bilhões de dólares (há apenas três anos o setor era superavitário). “Depois de dezessete anos, pela primeira vez em 2010, tivemos que importar gás e petróleo. Também tivemos redução no saldo comercial devido à queda nas exportações do setor, que entre 2006 e 2011 foi de 150%”, afirmou Cristina Kirchner. Como se vê, não faltaram motivos ao governo argentino para expropriar a empresa e retomar para seu controle a exploração do petróleo e gás nacionais. Aliás, qualquer governo minimamente comprometido com os interesses do país teria feito o mesmo.

Privatização da YPF demitiu 36 mil trabalhadores

Durante todos os anos em que a YPF foi uma empresa pública, os trabalhadores da estatal estavam entre os que mais possuíam direitos e conquistas trabalhistas. Contratos coletivos de trabalho altamente protecionistas e amplos direitos sociais, além de moradia, hospitais, educação, instituições de repouso e lazer eram garantidos aos trabalhadores e suas famílias. Entretanto, com o início do processo de privatização, no começo dos anos 1990 essas conquistas foram destruídas e mais de 36 mil trabalhadores foram demitidos compulsoriamente entre 1990 e 1994.

A decisão argentina de expropriar a petrolífera gerou reações dos governantes espanhóis e de grande parte dos economistas burgueses, todos ainda defensores do receituário neoliberal que levou o mundo à atual crise econômica. Para Antônio Brufau, presidente da Repsol, a expropriação de sua empresa foi, além de uma quebra de contrato, uma maneira encontrada pelo governo argentino de “esconder a crise social e econômica que o país enfrenta”. Entretanto, a razão de tanta indignação nada tem a ver com “acordos quebrados” ou coisa do tipo, uma vez que os mesmos governantes e grandes capitalistas que se levantam contra tais medidas são aqueles que todos os dias rasgam acordos e contratos trabalhistas, reduzem salários e aposentadorias e cortam verbas de serviços públicos essenciais à população. O que na verdade provoca tamanha indignação desses senhores e de seus meios de comunicação é a perda de uma teta para mamar.

A nacionalização do petróleo e do gás argentinos e os demais acontecimentos similares que observamos na América Latina, como as nacionalizações na Venezuela e Bolívia, servem de exemplo para todos os países e povos do mundo, que tiveram suas riquezas entregues nas mãos de grandes monopólios e que hoje lutam pela reconquista de sua soberania.

Heron Barroso, Rio de Janeiro

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes