“É preciso lutar para banir a precarização e o assédio moral”

191

O Sinttel-Rio, que completou 70 anos de história em 2011, teve presença fundamental na luta ativa pela redemocratização do país na década de 1980. Na década seguinte, destacou-se na luta contra o projeto de privatização idealizado por Collor e implementado 1998 por FHC, que vendeu as empresas do Sistema Telebrás a preço de banana, estimulou as demissões em massa e a terceirização do setor. Nessas lutas, teve papel destacado Francisco Izidoro. Francisco, como é chamado pelos companheiros, chegou à diretoria da entidade em 1984, vencendo uma eleição na qual concorreram oito chapas. Foi presidente do Sinttel-Rio na gestão de 1996 a 1999. Ao longo de sua militância, construiu um grande acervo de publicações de todo o movimento sindical brasileiro Apaixonado por livros, Francisco mantém ainda uma livraria de livros raros. A Verdade entrevistou Francisco Izidoro, diretor reeleito para mais um mandato à frente da entidade.

A Verdade – Como surgiu o Sinttel-Rio?
Francisco Izidoro – O Sinttel surgiu em 1940, e uma marca desse surgimento é que a Associação Pró-Sindicato dos Telefônicos era formada por três telefonistas. Na época, o grupo Light era majoritário e o Sindicato de Carris Urbanos aglutinava os trabalhadores das companhias de luz, transportes, gás e de telefonia. Foi o crescimento do setor de telefonia que levou os trabalhadores a buscarem o Sindicato próprio. O Sindicato dos Telefônicos elegeu sua primeira direção em 1941 e, mais tarde, novamente pelo avanço das telecomunicações, veio a ser o Sinttel-Rio, que hoje representa mais de 70 mil trabalhadores de telecomunicações no Rio de Janeiro, tanto das operadoras (OI, Vivo, Embratel, Claro, TIM, etc.) como de suas terceirizadas (prestadoras de serviços de rede – instalação e reparo de linhas e aparelhos), além de trabalhadores de empresas de call centers, telefonistas e de operadores de rádio (Nextel, Rádio táxi, rádio chamadas, etc.).

Quais são os principais problemas da categoria?
Após a quebra do monopólio das telecomunicações em 1998 e a venda das empresas do setor a preço de banana, o principal problema dos trabalhadores passou a ser a terceirização e a consequente precarização de condições de trabalho, salários e benefícios. A maior luta do Sinttel-Rio desde então, e até hoje, é para elevar do piso salarial da categoria, melhorar os benefícios praticados e banir a precarização.

Os trabalhadores de call center sofrem com assédio moral, baixos salários e o alto índice de doenças relativas ao trabalho. Como o sindicato pretende enfrentar essa situação?
O Sindicato já vem enfrentando essa questão seriamente e há muito tempo. A primeira lei estadual que exigia das empresas o cumprimento da Norma Regulamentadora de nº 17 (NR-17), que, entre outras coisas, estabelece a pausa, foi resultado de uma luta do Sinttel e do Sindicato dos Bancários. Essa luta não parou até hoje. Além de denúncias nos diversos fóruns, em Audiências Públicas na Alerj e aos órgãos competentes do Ministério do Trabalho, temos dois departamentos (Jurídico e de Saúde) para dar assistência aos trabalhadores vítimas de assédio moral e de doenças relacionadas ao trabalho. O assédio moral é uma verdadeira praga hoje no setor.

O que você espera da campanha para a convenção coletiva 2013?
A estratégia do Sinttel-Rio para as próximas campanhas é intensificar a mobilização e conscientizar os trabalhadores de call center de que essa luta tem que se dar nacionalmente e com a categoria unida e determinada num mesmo objetivo. Sem essa consciência, sem essa mobilização nacional não vamos avançar.

Que papel a Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fenattel) precisa cumprir?
A Federação tem que ser o instrumento de articulação desta campanha em todo país e essa é uma exigência urgente e imprescindível. Aliás, não só nas campanhas de call center, mas de outros segmentos da categoria.