Histórias Cruzadas: vencendo o preconceito com a coragem e amizade

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Se existe uma mancha histórica na sociedade moderna, principalmente na sociedade norte- americana, apresentada sempre como exemplo de democracia, é o preconceito racial. E não é de agora. Desde os primórdios da colonização dos EUA, os índios e negros sempre foram tratados como seres inferiores que existiam apenas para servir à classe rica branca. O problema era tão grave que os Estados do norte, onde os trabalhadores eram livres, entraram em guerra com os sulistas, naquilo que ficou conhecido como a Guerra da Secessão e que terminou com a abolição da escravidão.

Entretanto, essa liberdade conquistada pelos negros não passou de ilusão e, na prática, a discriminação e o preconceito eram a realidade. Leis foram criadas para proibir os negros de frequentar as mesmas escolas, e sentar juntos em um ônibus era algo inconcebível. É nesse contexto que se desenvolve o filme Histórias Cruzadas (Help, The, 2011)  do diretor norte-americano Tate Taylor.

O filme nos transporta à cidade de Jackson, Mississippi, em meados da década de 1960, retratando o ódio e o rancor misturados a sentimentos de medo, tristeza e desejo de justiça. Para se ter uma ideia, a  Ku-Klux Klan, organização terrorista de ideologia racista, aterrorizava não só os negros e perseguiam todos os que lutavam contra a discriminação.

Tudo isso nos é mostrado através das aspirações da jovem Eugenia “Skeeter” (Emma Stone) que, logo após se formar, decide escrever sobre a relação entre as patroas brancas e as empregadas negras, seguindo uma direção pouco convencional, ou seja, a visão das negras. Nesse caminho, a jovem jornalista encontra a oposição daqueles que, diferentemente dela, defendiam o preconceito racial. Eugenia também precisa enfrentar o medo inicial das empregadas, mas, ao mesmo tempo, vê nessas mulheres uma coragem que a encanta. A aproximação delas é inevitável. A partir daí a jornalista tem o apoio de duas mulheres importantíssimas para seu projeto:   Aibileen (Viola Davis) e  Minny (Octavia Spencer) que contam várias histórias interessantes e “impublicáveis” sobre a maneira desumana e hostil em que eram tratadas por suas distintas patroas, capitaneadas principalmente pela arrogante Hilly (Bryce Dallas Howard), que, com sua força de persuasão, arrasta outras mulheres como a fútil Elizabeth (Ahna O’Reilly) para um abismo de preconceito em que usam as empregadas domésticas negras como pano de chão em qualquer canto, e fazendo as mais variadas chacotas. Sendo assim, a única opção para Aibileen, Minny e as outras mulheres negras é somente dizer o que sabem de forma que fiquem no ar os nomes das atingidas.

História à parte, o que mais marca nessa obra é a persistência dos personagens ao lutarem pela mudança de suas vidas e a atuação das atrizes. Geniais em todos os sentidos, o que dá emoção ao filme, tanto que Octavia Spencer já levou dois prêmios (Globo de Ouro e o Oscar de 2012) como melhor atriz coadjuvante.

Lene Correa, Recife