Depois de planejada e iniciada uma obra que vai expulsar cerca de 40 mil moradores que vivem em áreas que serão – e já estão sendo – prejudicadas pela construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte, no Estado do Pará, surge o boato de que os representantes da construção da hidrelétrica pretendem processar, por “formação de quadrilha e vandalismo”, os manifestantes que ocuparam a área administrativa em protesto contra a construção da usina.
Os protestos começaram na madrugada do dia 15 de junho, quando cerca de 300 manifestantes, juntamente com índios e moradores da Vila de Santo Antônio (a 50 km de Altamira e uma região muito afetada) ocuparam uma parte da obra onde estavam as chamadas ensecadeiras – grandes faixas de areia que passam pelo Xingu, dividindo o rio ao meio. A ação foi um ato simbólico feito para mostrar que o povo daquela terra não vai desistir de lutar pelo que é dele e, claro, fazer que o rio volte ao seu antigo curso. Após destruir parcialmente uma das duas ensecadeiras, foram plantadas cerca de 500 mudas de açaí. Foi formada uma faixa humana com a frase “Pare Belo Monte” e junto, foram encravadas na terra 200 cruzes brancas simbolizando a morte do rio para aqueles que dependiam do Xingu para sobreviver.
Durante o ato simbólico, um dos mais respeitados pajés das aldeias mundurucus fez um ritual chamado pajelança, em que ele apertava contra a terra uma espécie de cano preto, representando uma cobra, onde recebe o nome de “cracon” O pajé soprava uma fumaça fazendo uma poderosa reza e terminava o ritual enterrando a “cobra”. Segundo o pajé, tudo o que for construído naquele local vai ser destruído pela “cracon”.
Também como parte das manifestações, os indígenas fecharam a Rodovia Transamazônica e a rua que serve de entrada para a vila. O motivo de interditar a pequena rua de chão batido da Vila de Santo Antônio foi impedir que o carro-pipa fosse abastecido com a água do Xingu.
O ponto alto do protesto ocorreu no dia 16, quando foi realizado um ato nas dependências do canteiro central das obras, onde diversas lideranças indígenas, religiosas e populares se manifestaram contra a construção da usina de Belo Monte.
Mas, em vez de surgirem soluções, foi decretada, pela juíza da 3ª Vara Penal de Altamira, a prisão preventiva de 11 ativistas do Movimento Xingu Vivo para Sempre que participaram do seminário “Xingu + 23”.
Durante a realização do seminário Xingu+23, de 13 a 17 de junho, os manifestantes transformaram a pequena vila em acampamento, onde foram acomodados manifestantes vindos de diversas partes do Pará e de outros Estados, além do ator Sérgio Marone e de vários índios de tribos diferentes. A união dos indígenas era tão grande que muitos acreditavam que todos faziam parte da mesma aldeia. Os representantes de povos indígenas que estavam na vila eram os caiapós, mundurucus das bacias do rio Teles Pires e Tapajós, jurunas, tembés, xipaias e xinkrins.
Toda a programação do Xingu+23, organizado pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre, foi inteiramente dedicada a debates, desabafos, ações para a derrubada do “dragão” e rituais feitos por mundurucus e jurunas. Todos os manifestantes esperam que alguma coisa seja feita para acabar com a obra da UHE Belo Monte.
Kamila Nascimento, Castanhal, Pará