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sábado, 23 de novembro de 2024

Montadoras demitem para reduzir salário

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As multinacionais de automóveis enviaram cerca de 5,6 bilhões de dólares para suas matrizes no exterior no ano passado. Foi o setor da economia que mais enviou lucros, superando as empresas de telefonia e os bancos. A razão para o envio de todo esse dinheiro arrecadado do povo brasileiro para os EUA, a Alemanha, a Itália e a França é que desde o golpe militar de 1964, o Brasil não tem uma lei que controle a remessa de lucros.

Já a explicação para esses altos lucros não é difícil de encontrar: o Brasil tem o carro mais caro do mundo, embora as empresas paguem baixos salários e recebam diversos benefícios do governo.

Levantamento feito pela consultoria KPMG sobre competitividade revelou que o Brasil tem o quinto menor custo de produção em ranking de 14 países. Segundo a pesquisa, o custo de mão de obra na indústria de manufaturados – soma de salários e direitos trabalhistas – é de 30% a 35%, menor do que na Alemanha ou nos Estados Unidos. Em custos, O Brasil está atrás apenas da China, Rússia, Índia e do México.

Outro estudo, esse do Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA, mostra que em 34 países pesquisados, o Brasil, além de longas jornadas de trabalho, tem o mais baixo valor de encargos trabalhistas. Em dólares, a média brasileira é de US$ 2,70 a hora, enquanto em outras 33 nações, é de US$ 5,80 a hora.

Quando cobradas pelo alto preço do carro, as montadoras afirmam que os impostos são elevados. Entretanto, desde o início da crise capitalista, o governo federal vem reduzindo os impostos dos automóveis, além de financiar as montadoras com dinheiro do BNDES e, mesmo assim, o preço do carro vem subindo.

Além do mais, como revelou o banco de investimento Morgan Stanley, a taxa de lucro das indústrias de automóveis no Brasil é três vezes maior do que em outros países. Na verdade, nem o governo tem conhecimento de qual é a margem de lucro das montadoras, pois as empresas utilizam de diversos artifícios nos seus balanços como, por exemplo, importações de peças. Mas um setor que envia por ano 5,6 bilhões de dólares para o exterior, com certeza tem enormes lucros.

Em maio, o governo anunciou novas medidas em favor da indústria automobilística. Os carros até 1.000 cilindradas tiveram o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido de 7% para 0%. Para os automóveis de 1.000 a 2.000 cilindradas, o imposto caiu de 11% para 6,5%. Porém, as montadoras disseram que não irão repassar esses mesmos percentuais para os preços. Por quê? Ganância! As multinacionais querem ganhar mais dinheiro para poder enviar mais lucros para o exterior, já que na Europa e nos EUA estão com dívidas astronômicas e a venda de carros teve uma grande queda.

O pior é que a sede de lucros das multinacionais é tão grande que vez por outra inventam que estão com pátios lotados, que os custos de produção aumentaram, etc., para receberem mais subsídios do governo ou para intimidarem os trabalhadores a não realizarem greve na campanha salarial. Como sabemos, toda vez que ocorre uma elevação do salário do trabalhador, o empresário tem uma diminuição do lucro. Este é o motivo dos patrões estarem sempre buscando formas para que o operário produza mais com um salário menor.  É exatamente o que estamos vendo agora.

A General Motors lançou em junho dois PDVs (Plano de Demissão Voluntária), mês em que a empresa obteve maior crescimento no número de licenciamentos de carros, uma alta de 32%. “A montadora está usando o dinheiro conseguido com a redução de impostos para financiar as rescisões”, denunciou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José do Campos, Antônio Ferreira de Barros.

Também, a Mercedes-Benz de São Bernardo chegou a anunciar a demissão de 1.500 metalúrgicos. Mas, após intervenção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, um acordo foi fechado suspendendo as demissões até novembro. Até lá, os operários ficarão afastados da empresa, realizando curso de qualificação profissional e recebendo uma bolsa mensal do FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador) no valor de R$ 1.163. O restante do salário será complementado pela empresa.

Por coincidência, no último dia 29, os metalúrgicos do ABC realizaram uma manifestação em frente à sede da Fiesp na Avenida Paulista para entregar as reivindicações da Campanha Salarial 2012. Na pauta, os trabalhadores reivindicam reposição integral da inflação, aumento real no salário, jornada de 40 horas semanais, licença maternidade de 180 dias e seguro de vida.

No ato, o secretário-geral do Sindicato, Wagner Santana, fez questão de alertar os companheiros sobre a choradeira dos patrões: “O patrão vai exagerar nas tintas e pintar um quadro econômico muito pior do que acontece realmente. Por isso, como sempre vamos precisar de toda mobilização para arrancar uma proposta decente”.

Ao longo do tempo, vemos que toda vez que os operários se unem, lutam e realizam greves, eles conquistam suas reivindicações e derrotam os patrões. Não há outro caminho para enfrentar a exploração da classe capitalista e sua voracidade, senão a luta. Assim, é preciso conscientizar cada trabalhador dos seus direitos e da necessidade de travar uma dura luta contra o roubo realizado pelos patrões contra nós e o nosso país.

Lula Falcão
Membro do comitê central do PCR e diretor de A Verdade

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