Era ele que erguia casas / Onde antes só havia chão. / Como um pássaro sem asas / Ele subia com as casas / Que lhe brotavam da mão.
É assim que começa o bonito poema de Vinícius de Moraes, Operário em construção. O trabalho dos operários da construção civil é de enorme importância. Constroem casas, prédios, escolas, estações de trem, estádios de futebol. No entanto, sua importância social não lhes garante melhores salários, ou condições dignas de emprego. Ao contrário. O trabalhador da construção civil sofre com jornadas extensas e grande risco de morte. Só no primeiro semestre deste ano mais de 30 operários da construção morreram no local de trabalho. O exemplo mais recente foi em 22 de junho, quando um acidente em uma obra de extensão da linha Lilás do metrô, em São Paulo, matou dois operários. Dias antes, em 11 de junho, morreu o trabalhador José Afonso de Oliveira, de 21 anos, na obra do Estádio Nacional de Brasília.
Segundo dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) em 2011 ocorreram mais de 400 acidentes envolvendo esses trabalhadores. Vele lembrar que estes dados só consideram trabalhadores formais, ficando de fora os mais de 20 milhões de brasileiros que trabalham sem carteira assinada.
O elevado número de acidentes no setor tem diversas causas. A terceirização é uma delas. É comum que a realização dos serviços seja feita por subempreiteiras, nas quais a rotatividade dos trabalhadores é enorme, as condições de trabalho são precárias, a cobrança por produção é grande e o número de trabalhadores é insuficiente. Todos estes fatos deixam os trabalhadores muito mais vulneráveis a acidentes. Uma pesquisa realizada pela CUT sobre o tema também mostra que de cada 5 acidentes, 4 atingem trabalhadores terceirizados.
A pressão que sofrem os operários também é muito grande. Segundo um trabalhador do “Itaquerão”, o estádio que sediará a Copaem São Paulo, “pressão a gente recebe todo dia, principalmente em dia de chuva, em que a gente é obrigado a parar e eles não querem que a gente pare”. Outro trabalhador conta que, no dia da entrevista, ele entraria às 7 da manhã e iria trabalhar até as 23h, isso para substituir um colega do outro turno e receber as horas extras. Ele afirma fazer isso para poder pagar as contas. Esse operário ficou cerca de 15 horas em uma empilhadeira. Na mesma obra, outro trabalhador conta que todos são “obrigados” a fazer horas extras. A maioria entra às 7h30 e só sai às 18h, nos dias de semana, e aos sábados, a saída se dá às 17h, chegando um operário a trabalhar quase 55 horas semanais.
Há também trabalhadores sendo escravizados. Entre os meses de abril e maio deste ano, 167 trabalhadores foram libertos de condições de trabalho análogas à escravidão em três obras no interior de São Paulo, das quais duas eram de responsabilidade do Governo Estadual e Federal. Os resgates aconteceram entre 13 de abril e 9 de maio. As construtoras envolvidas são Geccom, em Fernandópolis, Rockenbach em Campinas, e a Croma, em Bofete.
A luta
A essa situação os operários têm reagido. Assim, milhares de operários da construção civil, milhares de trabalhadores de rostos sofridos, mãos calejadas e braços fortes dizem não à exploração e realizam greves em todo o País. Desde 2009, as obras nas três barragens no Norte do País, das obras do PAC, resultaram em no mínimo 10 greves. Além dessas, temos como exemplo a Arena Pernambuco, o Maracanã, o Estádio Nacional de Brasília, a Arena Fonte Nova (na Bahia), a Arena Pantanal (em Cuiabá), a Arena Amazonas, a Arena das Dunas (no Rio Grande do Norte), o Castelão (no Ceará) e o Mineirão. Em todas elas os trabalhadores também disseram “não” aos patrões e construíram greves e paralisações nas quais as principais reivindicações foram aumento salarial, cumprimento de carga horária de 40 horas semanais, de segunda a sexta, saúde e segurança no trabalho, cesta básica, convênio médico, aumento do valor pago para horas extras e fim do assédio moral.
Na Bahia, a greve atingiu obras como a Via Expressa e Via Bahia, o Pólo Naval, obras de saneamento, da ferrovia e do metrô, entre outras, e no Espírito Santo obras em área da Petrobras. Em Fortaleza, a greve ultrapassou 25 dias. No início do ano, trabalhadores fizeram greveem Teresina. Em Manaus, os 40 mil trabalhadores da construção ameaçaram cruzar os braços a partir do dia 1° de julho.
Os trabalhadores da construção civil são responsáveis por 11% do PIB do nosso país. Mas o significado social de seu trabalho não pode ser medido. Ao sairmos nas ruas e observarmos ao redor perceberemos que praticamente tudo tem suas digitais. Porém, os antagonismos da sociedade na qual vivemos não lhes garantem condições de trabalho à altura de sua importância.
Carolina Vigliar
Coordenação do MLC-SP
isso a globo nao mostra