Para explicar as razões da greve nacional da educação federal, A Verdade entrevistou Aroldo Félix, professor de Engenharia do Petróleo da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), que possui campus em Mossoró, Rio Grande do Norte. Aroldo foi presidente do DCE da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, é mestre em Engenharia Química, membro do Comando de Greve da Ufersa e militante do Movimento Luta de Classes (MLC).
A Verdade – Quais as principais reivindicações da greve dos servidores federais da educação, em especial dos professores?
Aroldo Félix – Esta é uma greve em defesa da Educação Pública, Gratuita e de Qualidade. Estamos questionando a forma como está sendo realizado o Projeto de Expansão das Universidades e Institutos Federais em nosso país e que é tão propagandeado pelo Governo Federal. O que conseguimos observar é uma Expansão que não prioriza a qualidade do ensino. Universidades com estrutura precária; salas de aulas superlotadas, algumas com mais de 100 alunos; disciplinas sem professor. Por isso, reivindicamos 10% do PIB para a educação. Mas não é possível melhorá-la sem valorizar seus profissionais (professores e técnico-administrativos). Daí a reivindicação dos docentes por melhores condições de trabalho e pela reestruturação da carreira. A nossa proposta de reestruturação da carreira passa por garantir no início da tabela, como primeira faixa do piso salarial, o salário mínimo nacional proposto pelo Dieese, que é de R$ 2.329,35. Este valor seria pago ao professor graduado com regime de trabalho de 20 horas, seguindo uma escala crescente até o último nível da carreira, quando o professor se aposenta. Também reivindicamos incorporação das gratificações ao vencimento básico; carreira única; progressão em treze níveis com percentuais constantes na passagem de um nível para o outro; percentuais fixos por titulação; paridade de reajustes entre ativos e aposentados. Em contrapartida, o Governo Federal apresentou nos últimos dias uma proposta que não valoriza o professor e que desestrutura nossa carreira, ao contrário do que está sendo amplamente divulgado na mídia, com o objetivo de colocar a opinião pública contra nossa categoria. O Governo propõe reajuste diferenciado para as classes (auxiliar, assistente, adjunto, associado e titular) e em três parcelas, sendo a primeira para 2013 e a última para 2015. Quando contabilizamos a inflação prevista até lá, vamos ter, na verdade, perda salarial ao receber a última parcela. A proposta também não contempla nenhum ponto da reestruturação da carreira. Por isso que a proposta do Governo foi rejeitada pelas assembleias de professores em todo o país.
Como você avalia a construção desta greve nacional?
São 58 das 59 universidades federais em greve. Apenas a UFRN não parou, mas já existe um grupo de professores se organizando para reverter este quadro isolado. Isto mostra o tamanho da indignação dos professores com as atuais condições de trabalho e com a desvalorização da carreira. Até fevereiro deste ano, o piso do professor universitário na tabela da carreira era de R$ 557,00, menor que um salário mínimo! Se compararmos o salário dos professores universitários com doutorado ao dos demais servidores públicos federais que possuem apenas a graduação, vamos observar que o primeiro está bastante abaixo. Este conjunto de situações, somado ao descumprimento, por parte do Governo, do acordo assinado no ano passado (apresentar em março deste ano uma proposta para a reestruturação da carreira), levou à deflagração da greve desde o dia 17 de maio. É visível a quantidade de professores jovens participando ativamente das assembleias, dos atos e dos comandos de greve, mostrando muita disposição de luta e abrindo novas perspectivas para que os sindicatos renovem suas diretorias num futuro próximo, fortalecendo ainda uma linha combativa dentro do Andes, o sindicato nacional dos docentes universitários.
Você é professor da Ufersa. Quais as principais atividades desenvolvidas pela greve na universidade?
O movimento grevista na Ufersa está muito dinâmico. As assembleias têm ocorrido semanalmente, onde fazemos uma avaliação da greve e planejamos várias atividades. São atos públicos pelas ruas da cidade, em sua maioria em conjunto com os técnico-administrativos em greve; panfletagens em frente à universidade; piquetes dentro do campus, como no dia em impedimos, junto com os técnico-administrativos, a realização das matrículas no SISU, o que causou uma grande repercussão no estado. Também já realizamos atividades culturais e esportivas, com o objetivo de construir um momento de integração entre os professores. Nos últimos dias, fizemos uma carreata nas ruas de Mossoró, circulando com um carro de som e dialogando com a sociedade para desmascarar a proposta mentirosa que o Governo Federal está anunciando na mídia e mostrar o porquê de estarmos em greve. Os estudantes da Ufersa, assim como em várias outras universidades, deliberaram em assembleia geral o apoio à greve.
Qual sua expectativa para o movimento docente universitário e para a universidade brasileira?
O Governo Federal conseguiu, com seu descaso e intransigência, colocar em movimento uma categoria que há alguns anos não fazia greve. Porém, acredito que o próprio Governo não esperava tanta força. Esta greve fortaleceu bastante a categoria, elevando seu nível de consciência política, uma vez que estamos discutindo não apenas salários, mas melhorias na qualidade da educação nas universidades brasileiras. Com certeza, o movimento docente terá uma dinâmica mais ativa do que vinha apresentando. E isto será extremamente necessário para garantirmos uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade em nosso país. O que estamos observando hoje é uma total falta de compromisso com o setor. O país que é a sexta maior economia do mundo, possui uma das maiores arrecadações tributárias e diz que 10% do PIB para educação é muito, que valorizar o professor causará um grande impacto financeiro. Contraditoriamente, entrega de mão beijada quase metade de todas as riquezas do país para os banqueiros e agiotas nacionais e internacionais através do pagamento dos juros da dívida. Enquanto isso, vemos a universidade pública sucateada. A luta por uma educação de qualidade exigirá uma grande força do movimento docente, do movimento estudantil e dos técnico-administrativos, mas não só destes setores, e sim de toda a sociedade.
Rafael Freire, Redação