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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

A Bahia é um Estado negro?

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Sim, são muitos negros na Bahia. Mas os negros da Bahia servem como enfeite de cartões-postais para atração do mercado turístico, para produzir a riqueza de alguns poucos, para sustentar a falácia do paraíso étnico, onde todas as etnias comungam tranquilas e felizes, sem preconceito e discriminação. Sofrem a exploração sob um duplo aspecto: pela classe à qual pertencem, em sua imensa maioria, e pela cor da sua pele.

Segundo dados dos Indicadores Sociais Municipais do Censo Demográfico 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 17,8% dos negros do Estado são alfabetizados, e os pardos, 17,1%. A Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Salvador (PED/RMS) de 2011, edição especial sobre raça, mostrou que o negro possui rendimento médio por hora trabalhada de apenas 52,3% do rendimento do ocupado não-negro. Segundo este estudo, as mulheres não-negras recebem cerca de 85,5% dos rendimentos de um homem branco, enquanto as mulheres negras ganham apenas 43,8% disso, ou seja, menos metade do que recebe uma branca.

Dados como esses são imprescindíveis para escapar de dois discursos: aquele que tenta enxergar alguma dignidade no tratamento do negro no Estado da Bahia, e aquele que acusa como racistas as opiniões que tendem a associar a exclusão social com o negro.

A exclusão social acontece primeiramente com um caráter de classe, e, em segundo lugar, em um caráter racista ou sexista. Não deve ser, de forma alguma, nenhum demérito para o negro admitir que as periferias e subúrbios da cidade são ocupados predominantemente por negros, ao contrário dos luxuosos bairros da cidade em que negros são raridade. Essa segregação existe por um processo histórico e se perpetua por incompetência ou falta de vontade das administrações públicas em resolvê-la.

Não é, portanto, nenhum absurdo, apesar de trágico, associar as mais precárias condições de sobrevivência do ser humano com os negros. Mas absurdo total é pensar que a Bahia é um lugar bom para o negro viver.

O mais grave de tudo isso é, sem dúvida, que a raiz de todos os problemas às vezes se camufla e se esconde nos discursos dos movimentos negros. É bem verdade que o racismo existe, mas é bem verdade também que ele interessa muito ao Estado. Como disse o ativista sul-africano Steve Biko, “Racismo e capitalismo são duas faces da mesma moeda”. Interessa porque quanto mais hostis os heterossexuais forem aos homossexuais, os negros aos brancos, as mulheres aos homens, etc., mais divididas estarão as suas lutas, mais distantes estarão de se identificar uns com os outros e com aquilo que são: proletários, cuja bandeira é o que pode os unir para uma luta comum.

Quando não mais houver quem lucre com a desvalorização da imagem do negro para justificar sua exploração com baixíssimos salários; quando não mais houver quem massifique a imagem negra feminina para mercantilizá-la, nem quem reprima suas manifestações culturais e religiosas por não haver mais parâmetro estadunidense ou eurocêntrico que determine o que é esteticamente bonito ou religiosamente bom; só aí o negro será verdadeiramente respeitado.

Gabriela Bacelar,
militante do PCR e diretora do Grêmio do IFBA

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