Durante 24 dias, trabalhadores dos canteiros de obras da Refinaria Abreu e Lima e do Complexo Químico-Têxtil de Suape, na cidade pernambucana de Ipojuca (a 50 km do Recife), demonstraram que a classe operária responde com energia à exploração e à arbitrariedade de que é vítima. Fizeram mais uma greve contra o acordo coletivo fechado entre os patrões e o sindicato de trabalhadores (Sintepav-PE) sem que a categoria, composta por cerca de 51 mil funcionários, tivesse aprovado.
Ocorre que, no último dia 27 de julho, o Sintepav-PE iniciou uma assembleia para acreditando que a proposta a ser apresentada aos empregados seria aceita, mas, ao ver que a categoria contestava seus argumentos, resolveu pôr fim à reunião, deixando para deliberar num outro momento. Após a maioria esmagadora ter deixado o local, a direção do Sintepav-PE retomou a discussão para aprovar a proposta da empresa, de 10,5% de aumento, com apenas 300 empregados presentes.
Diante da manobra dos patrões, com a anuência do sindicato da categoria, aos trabalhadores restou se lançar com força total numa intensa mobilização para anular o acordo fraudulento. Sem o apoio da entidade que deveria lhe representar, os grupos que encabeçavam o movimento reivindicatório procuravam adesão para a greve explicando a força que teria o movimento caso todos aderissem. Diante das dificuldades enfrentadas, alguns recorreram mesmo à quebradeira e até ao incêndio de ônibus.
Além de reivindicar um aumento salarial de 30%, os operários pediam ainda melhorias no alojamento, folgas de campo, benefícios de produtividade e aumento no valor do vale-refeição. Nem mesmo uma decisão judicial, do dia 8 de agosto, determinando a volta ao trabalho, foi suficiente para convencer os grevistas a suspender a greve nos dias que se seguiram.
A pedido do Sintepav-PE e do sindicato patronal, em reunião no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PE), no dia 9 de agosto, o Batalhão de Choque entrou em ação: balas de borracha, agressões, policiais atirando para cima e prisões. Raimundo Amorim Filho, de 50 anos, e Johemert Moura, de 24 anos, acusados de lesão corporal, dano ao patrimônio público e suspensão de trabalho coletivo, foram encaminhados ao Centro de Triagem (Cotel), na cidade de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife.
Somente a partir de 20 de agosto é que a categoria, pouco a pouco, começou a retornar ao trabalho. A resposta dos cerca de 22 consórcios que atuam no grande canteiro de obras de Suape veio sob a forma de demissões. Cerca de 200 funcionários foram dispensados por justa causa. Não havia dúvida de que os capitalistas iriam impor pesadas penas aos operários revoltosos, mas os trabalhadores preferiram encarar os riscos a se submeter àquela arbitrariedade.
A jornada de lutas de agosto de 2012 dos operários de Suape demonstra que, apesar da traição de setores do sindicalismo brasileiro, o movimento se encaminha para o novo, para o enfrentamento, e não para a conciliação de classes.
Thiago Santos,
presidente do Sintelmarketing-PE