É preciso refletir sobre o acidente na maior refinaria do mundo, Amuay, situada na cidade de Ponto Fijo, na Venezuela, que deixou um saldo de 48 mortos e dezenas de feridos.
Em primeiro lugar, o acidente evidencia os riscos a que estão expostos os petroleiros. Quem trabalha no setor do petróleo, através de seus sindicatos, está sempre a cobrar políticas de segurança que assegurem a saúde e a integridade física tanto dos trabalhadores como dos moradores que vivem no entorno das refinarias e fábricas.
Na Venezuela como no Brasil, as nossas pautas de reivindicação vão além da questão remuneratória. No Brasil, os petroleiros da Petrobras, que no momento estão em campanha salarial, entregaram suas reivindicações à empresa desde 16 de agosto, e há capítulos inteiros sobre a falta de segurança no trabalho.
No entanto, mesmo com todas as precauções, o trabalho é de risco e os acidentes acontecem. No caso do incêndio na refinaria da Venezuela, alguns aspectos não podem ser ignorados.
O país está em ano eleitoral e o candidato Hugo Chávez se mantém com 20 pontos percentuais à frente de seu concorrente. De forma oportunista e desumana, parte da imprensa venezuelana tenta tirar proveito eleitoral desse drama, jogando a culpa do acidente nos petroleiros e no governo Chávez.
Vale lembrar um fato significativo da história recente da Venezuela: em 2002, alguns petroleiros da PDVSA “vendidos” ao capital estrangeiro queriam privatizar a companhia e apoiaram o lockout contra Chávez, chegando a paralisar as refinarias. Chávez precisou agir com firmeza, demitindo os conspiradores e passando o controle da empresa para as mãos daqueles que enfrentaram os sabotadores.
Desde sábado, 25 de agosto, quando começou o incêndio na Amuay, os mesmos petroleiros que no passado enfrentaram os sabotadores estão tentando lutaram, de todas as formas, para debelar o fogo, o que fazem fizeram com muito empenho e competência. Em pouco tempo será possível retomar as atividades da refinaria. Já os sabotadores preferem envenenar a opinião pública, correndo para abastecer a mídia de opiniões e informações infundadas, sequiosos de se aproveitar da tragédia para reverter índices eleitorais.
Também é necessário fazer-se um paralelo com o Paraguai. O presidente Lugo foi derrubado em decorrência de um golpe parlamentar, depois de um conflito agrário que resultou na morte de vários camponeses, a pretexto de ter sido incapaz de conter o conflito.
No caso do Paraguai, desde 2009 o WikiLeaks já denunciava que, nos Estados Unidos, o golpe contra Lugo estava em gestação. No caso da Venezuela, o jornal espanhol El País publicou, em 2006, matéria sobre um videojogo fabricado nos Estados Unidos que tinha como objetivo derrubar o governo venezuelano. Os vilões da história eram os “rojos” – vermelhos – e parte do jogo propunha um ataque à refinaria de Amuay.
Para nós, fica difícil deixar de considerar algumas hipóteses: diante desses antecedentes, faltando 40 dias para as eleições presidenciais, um acidente de tal proporção terá sido, de fato, mera coincidência? Fica no ar a pergunta: acidente ou sabotagem?
Toda a solidariedade dos petroleiros do Brasil aos mortos, feridos e a seus familiares!
Emanuel Cancella, secretário-geral do Sindipetro-RJ e diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)