Estupro em Patos é mais um caso de violência contra a mulher na Paraíba

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Um crime sexual, com fortes traços de crueldade, foi praticado em Patos na noite do dia 28/09 e continua até agora sem solução. A jovem de nome Carol (nome fictício para preservar a identidade da vítima), de 31 anos, foi estuprada no Delírious Motel (antigo Bar do Vaqueiro), na BR-230 (saída para Sousa). O suspeito de praticar o crime, conhecido como Gledson, de aproximadamente 37 anos, está foragido.

Carol estava saindo do expediente no Bar do Dallas, no bairro do Novo Horizonte, onde trabalha, e Gledson (que é conhecido da vítima) estava bebendo no local. Ele então lhe ofereceu uma carona, alegando que estava bêbado, sem condições de ir sozinho para casa. Assim, Gledson convenceu Carol a ir com ele até o bairro do Noé Trajano, de onde pegaria um moto-táxi até sua casa, na Vila Cavalcanti.

Entretanto, segundo Carol, no meio do caminho Gledson teria travado as portas do carro e sacado uma arma de fogo, conduzindo o automóvel até o Delírious Motel. Sem que houvesse qualquer tipo de identificação na portaria ou recepção, os dois entram num dos quartos, e Gledson iniciou uma verdadeira sessão de terror. “Ele me arrastou para dentro do quarto pelos cabelos, trancou a porta e colou a chave no bolso da calça. Começou a me dar tapas e socos e a me xingar”.

Segundo Carol, o suspeito não chegou a penetrá-la com o pênis. “Ele me mandou descer o short e me abusou com a mão. Ele colocou a mão inteira na minha vagina. Senti uma dor muito grande e comecei a sangrar, uma hemorragia, porque ele me rasgou da vagina até o ânus”.

“Gritei muito e derrubei o telefone que ficava numa banquinha em cima da cama, que era para a moça da recepção escutar, mas ninguém apareceu para saber o que estava acontecendo”, relata Carol.

Neste momento, Gledson teria novamente ameaçado a jovem com a arma na cabeça e a obrigado a ligar para a recepção, pedindo que abrissem o portão para ele sair. Já com o portão aberto, o acusado teria fugido no carro.

O martírio de Carol, porém, não terminou por aí. Ainda falando com a recepcionista do motel pelo telefone, ela pediu para a funcionária ligar para a Polícia e o Samu, mas a funcionária teria se negado a prestar socorro, e sequer foi ao quarto verificar o estado da vítima. Carol então conseguiu contatar uma amiga, que foi ao local com o namorado e a mãe. A recepcionista do motel ainda exigiu o pagamento de R$ 20,00 pelo uso do quarto.

Levada ao Hospital Regional de Patos, foi reencaminhada à Maternidade Dr. Peregrino Filho e depois novamente ao Hospital, onde, finalmente, após uma hora e meia de perambulação, ingressou na sala de cirurgia por volta da meia-noite do sábado 29/09. Após cerca de duas horas de intervenção cirúrgica, Carol teve o períneo reconstruído e foi internada num quarto.

Apenas na segunda-feira pela manhã, dois dias após a violência, o crime foi oficialmente comunicado à Polícia, já que a Delegacia da Mulher não funciona no final de semana. A vítima foi até a Delegacia, que funciona na Rua Bossuet Wanderley, mas não conseguiu prestar o depoimento, por ainda estar em estado de choque. Carol foi encaminhada para o serviço psicológico do Centro de Atenção Psicossocial da Prefeitura (Caps) e, no dia seguinte, a delegada Tâmara Lenina, que acompanha o caso, foi até a casa onde se encontra a vítima e colheu seu depoimento.

Segundo a delegada, “o inquérito sobre o caso foi instaurado, e as diligências para localizar o acusado estão em andamento. Estamos trabalhando em sigilo para não atrapalhar as buscas. Já colhemos os depoimentos das testemunhas ligadas à vítima e realizamos o exame de corpo de delito. Ainda estamos aguardando o resultado final do laudo médico, que tem um prazo de dez dias para ser concluído”. De acordo com Tâmara , além do suspeito, os responsáveis pelo Delírious Motel também serão responsabilizados pelo fato de terem se negado a prestar qualquer tipo de socorro emergencial à vítima.

Aline Leite, do Movimento de Mulheres Olga Benario, realizou visitas à vítima, e pôde constatar o abalo emocional de Carol, assim como de sua família e de seus amigos. “Ela está na casa da avó e não tem conseguido dormir porque simplesmente não consegue esquecer o que aconteceu. O criminoso que cometeu este crime horrendo ainda chegou a ligar para ela, dizendo estar arrependido do que fez e oferecendo dinheiro para que ela não denunciasse o caso. Este é mais um triste episódio de uma história que vem se repetindo cada vez com maior frequência no nosso Estado e no Brasil”. E conclui: “Não toleramos mais tanta violência contra as mulheres! Lutamos contra o machismo na sociedade, contra os abusos físicos, sexuais e psicológicos, e defendemos que cada município tenha sua própria Delegacia da Mulher, e que estas funcionem 24 horas por dia, todos os dias da semana. Na Paraíba, apenas sete dos 223 municípios possuem delegacias especializadas para atender as mulheres vítimas de violência”.

Em conversa com a nossa reportagem, Carol afirmou que sente como se sua vida tivesse sido destruída e que espera que “a justiça seja feita, para que ele não faça pior com outras mulheres”.

Violência contra a mulher na Paraíba

Segundo informações repassadas pelo Movimento Olga Benario, o relatório nacional Mapa da Violência (elaborado pelo Instituto Sangari/Ministério da Justiça) aponta a Paraíba como o sétimo estado do País em assassinatos de mulheres. O índice de homicídios é de seis por 100 mil mulheres, bem acima da média nacional de 4,4. Dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social mostram que, só em 2012, cem mulheres foram assassinadas em solo paraibano. No ano passado, foram 146 mulheres.


Rafael Freire