Luta pela Comissão da Verdade em Contagem

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Comissão da Verdade em Contagem, MGA cidade de Contagem, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nasceu para ser um polo de indústrias no Estado de Minas Gerais. O município concentra inúmeras fábricas com grande variedade de produtos, destacando-se os setores de metalurgia e de alimentos. Mas Contagem também guarda em sua história uma grande contribuição à luta contra a ditadura militar e pela democracia: a greve de 1968, ano de acirramento na luta contra a “gorilada” que estava no poder em nosso país.

No ano de 1968, o centro industrial de Contagem mantinha cerca de 20 mil operários, concentrados principalmente nas indústrias metalúrgicas e de cimento. A greve histórica conseguiu a incrível adesão de 17 mil operários, que cruzaram os braços e abriram caminho para a grande greve de Osasco, no mesmo ano.

Motivados por esta história, ainda pouco conhecida pela população da cidade e de todo o Estado, entidades como o Sindicato dos Empregados em Indústria de Massas Alimentícias e Biscoitos de Contagem (SindMassas), a União dos Estudantes Secundaristas de Contagem (Uesc), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e outras entidades e organizações decidiram organizar um movimento pela Comissão da Verdade de Contagem. Isso acontece num momento em que surgem várias comissões com o objetivo de descobrir e apurar os crimes praticados pela ditadura militar em todo o país.

Para isso, algumas atividades têm sido feitas para debater a conjuntura daquele período e para mobilizar para a luta de hoje. Um exemplo são as reuniões quinzenais que acontecem com a participação das entidades e de vários companheiros que defendem a abertura dos arquivos da ditadura para investigação e punição dos criminosos e torturadores. Também já aconteceram debates, a exemplo do realizado com o camarada Braz Teixeira da Cruz, ex-preso político, atualmente militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que relatou a organização das lutas dos trabalhadores e dos militantes comunistas que lutavam durante os anos de chumbo, enfrentando as ações violentas que o Estado brasileiro praticava. Neste mesmo debate, houve a exposição de Guilherme Amorim, estudante de História da PUC, que fez o resgate das ações da ditadura militar.

Além disso, o movimento tem pautado esta bandeira durante o período eleitoral na cidade, que conta o apoio do deputado e candidato a prefeito Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, notório defensor das causas dos direitos humanos.

Neste curto processo de pesquisa do movimento pela instalação da Comissão da Verdade em Contagem, já descobrimos que, dentro das instalações da antiga fábrica metalúrgica Belgo Mineira, hoje Arcelor Mittal, existia um centro de torturas para punir os operários que se revoltavam contra o poder vigente na época. Isto só comprova que ainda há muito a descobrir e tornar público. Coisas como a luta do movimento operário, as fábricas e empresas que financiavam e colaboravam com a ditadura, os principais algozes dos lutadores do povo. Tudo isso ainda é pouco conhecido e obscuro, o que dificulta o reconhecimento de um povo sobre seu passado recente.

O movimento continuará a promover debates e palestras, atuando nas universidades, escolas e sindicatos de Contagem, ampliando suas forças para que consigamos criar a Comissão da Verdade na nossa cidade e lutar para punir aqueles que praticaram crimes contra a humanidade.

Renato Campos Amaral, presidente do SindMassas-MG