A ocupação Eliana Silva, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no dia 22 de agosto na região do Barreiro, em Belo Horizonte, completou dois meses de resistência e está em plena consolidação. São cerca de 370 famílias que vêm construindo uma vida nova dentro da ocupação.
A experiência de poder popular é fator mais marcante deste processo. Todas as decisões são tomadas coletivamente, mantendo as famílias mobilizadas diariamente, participando das assembleias e reuniões dos núcleos do MLB.
As comissões de educação, segurança, estrutura, comunicação, limpeza, alimentação desempenham um grande papel para o crescimento da organização das famílias e para o desenvolvimento desta nova consciência coletiva. A comissão de segurança, por exemplo, garante a defesa da ocupação que desde o primeiro dia, funcionando 24h, o que impediu várias tentativas da PM e de representantes do Governo e da Prefeitura de BH em retirar as famílias, além de ter barrado a Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig) e a Polícia, que queriam cortar a luz da comunidade.
Este trabalho, movido à união e vontade de vencer, incomoda os poderosos, que, mesmo estando de certa forma vulneráveis devido ao processo eleitoral, buscam impor um clima de tensão e medo permanente às famílias, fotografando, filmando e tentando se infiltrar na ocupação, inclusive com homens à paisana.
Mesmo com todas essas ameaças, as famílias seguem firmes e convencidas da enorme possibilidade de vitória. É o que nos diz o relato dos moradores da ocupação: “O sonho que eu tenho de ter minha casa, para mim e para o meu filho e independente da situação, estarei aqui para luta e resistir, não tenho nada a perder”, afirma Cristiane Verrissímo, de 26 anos. “Moro de favor, a dona da casa colocou a casa a venda, o que ganho por mês não dá pra pagar aluguel e cumprir com as atividades que tenho, por isso, estou junto com vocês nessa luta para o que der e vier” disse Seu Geraldo Silvio, 67 anos. “Eu quero sim ter minha casa, para ficar com meus filhos sem passar humilhação, mesmo passando muitas dificuldades, chuva, sol, frio. Faço até o sacrifício de ter que ficar longe de uma parte dos meus filhos. Por isso tudo eu não desisto”, é o depoimento de Mônica Lima, 28 anos, mãe de quatro crianças.
A rede de solidariedade
A força da ocupação também vem da rede de solidariedade que cresce a cada dia. Além de centenas de estudantes, professores, sindicalistas, advogados populares, jornalistas, arquitetos e outros profissionais liberais, religiosos, parlamentares, etc., personalidades vêm declarando seu apoio à ocupação. Além do rapper Emicida, que desde maio vem constantemente defendendo a ocupação, outro grande rapper brasileiro, o Rebeld, do grupo SNJ (Somos Nós a Justiça) deu uma importante declaração de apoio à ocupação que pode ser vista no blog:http://www.ocupacaoelianasilva.blogspot.com.br/2012/09/rebeld-snj-declara-apoio-comunidade.html. Além disso, foram doados livros para a biblioteca, brinquedos e cadeirinhas para creche, além de roupas, cobertores, móveis e alimentos.
Alvenaria, o caminho para vitória
Com pouco mais de 20 dias de ocupação, as famílias, contando com grande apoio da rede de solidariedade e decididas em permanecer no local, já ergueram uma creche, que atende diariamente cerca de 40 crianças de 0 a 5 anos, e iniciaram a construção de suas casas de alvenaria.
Uma rede de professores e estudantes de arquitetura organizou um belo projeto de divisão equitativa dos lotes e abertura das ruas e avenidas. “Fizemos um projeto de parcelamento para garantir que as famílias tivessem melhores condições habitacionais e qualidade de vida. O projeto prevê como as famílias podem estar mais inseridas dentro do contexto urbano, dando a elas o direito à cidade”, disse a estudante de Arquitetura da UFMG Poliana Ambrósio.
No projeto, o novo bairro irá contar com alguns espaços coletivos, além da creche, uma sede para o MLB e a associação de moradores, uma igreja ecumênica e um espaço de lazer com quadra e brinquedos.
Dezenas de moradias já estão erguidas, e a luta continua para que a Prefeitura e os Governos Estadual e Federal possam garantir a posse definitiva da área às famílias bem como o financiamento para implementação do saneamento básico, asfalto, e demais obras de infraestrutura necessárias.
Várias outras iniciativas estão em discussão, como projeto pedagógico para educação de jovens e adultos, elaboração de programa de sustentabilidade para as famílias, reciclagem do lixo, projetos ecológicos, horta comunitária, entre outras atividades.
Assim é a nova vida para os moradores e lutadores da ocupação Eliana Silva.
Leonardo Pericles, membro da Coordenação Nacional do MLB