De acordo com pesquisa da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com dados ainda incompletos de 2012, já se constataram 189 ocorrências de trabalho escravo no País, com a libertação de 2.723 trabalhadores. O número de trabalhadores resgatados aumentou 11% em relação ao ano anterior e ainda pode ser alterado para mais, já que os resultados definitivos só serão divulgados em fevereiro, pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Ficam à frente na lista das atividades com trabalho escravo as lavouras e canaviais: foram 646 trabalhadores libertados em 36 ocorrências, mas continuam aumentando as ocorrências de trabalho escravo em atividades não agrícolas: 25 casos em 2012, dos quais 16 apenas na construção civil, em nove Estados, com 627 trabalhadores resgatados.
Em 2012, o Pará voltou ao topo do ranking em todos os critérios: número de casos (50), número de trabalhadores envolvidos (1.244) e número de libertados (519). O Tocantins vem logo em seguida com 22 casos, 360 envolvidos e 321 libertados; vêm depois Minas Gerais (287 trabalhadores resgatados), Paraná (246), Goiás (201), Amazonas (171), Alagoas (110), Piauí (97), Rondônia (46), Santa Catarina (45), além de outros. No conjunto, verifica-se o resgate de trabalhadores em 20 Estados do País, o que demonstra que essa prática criminosa persiste de Norte a Sul, mesmo diante das ações de órgãos do governo e de organizações sociais que lutam pelo seu fim.
Alguns casos merecem destaque, por terem ocorrido em locais ligados à família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), onde o irmão, André Luiz de Castro Abreu, foi apontado pela Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins como coproprietário da fazenda Água Amarela (plantio de eucalipto e produção de carvão). Aí foram resgatados 56 trabalhadores. Em São Félix do Xingu (PA), foram libertados quatro trabalhadores na fazenda de parentes do banqueiro Daniel Dantas, cuja irmã, Verônica Dantas, e o ex-cunhado, Carlos Bernardo Torres Rodenburg, são proprietários da Agropecuária Santa Bárbara.
Por fim, vale relembrar a ação realizada em agosto de 2012 na fazenda de gado Alô Brasil, em Marabá (PA), que foi acompanhada por quatro deputados da CPI do Trabalho Escravo e resultou na libertação de oito trabalhadores. Na ocasião, o insuspeito deputado federal Giovanni Queiroz (PDT/PA), integrante da bancada ruralista (que costuma contestar a existência de trabalho escravo no País) considerou a situação “vergonhosa e constrangedora”.