A ditadura militar, embora tenha “terminado” há quase 30 anos, vitimou mais uma pessoa na madrugada deste sábado para domingo. Trata-se de Carlos Alexandre Azevedo, que completaria 40 anos em 2013. Carlos cometeu suicídio com uma overdose de medicamentos.
Carlos Alexandre foi usado pelos agentes da repressão para pressionar os pais que estavam presos. Assim descreveu o seu pai, *Dermi Azevedo, em seu mural no Facebook neste domingo acerca do que se passou com seu filho: “Com apenas um ano e oito meses de vida, ele foi preso e torturado, em 14 de janeiro de 1974, no DEOPS paulista, pela “equipe” do delegado Sérgio Fleury, onde se encontrava preso com sua mãe. Na mesma data, eu já estava preso no mesmo local. Cacá, como carinhosamente o chamávamos, foi levado depois a São Bernardo do Campo, onde, em plena madrugada, os policiais derrubaram a porta e o jogaram no chão, tendo machucado a cabeça. Nunca mais se recuperou. (…) O suicídio é o limite de sua angústia”.
O bebê Carlos Alexandre, enquanto esteve no DEOPS, foi “vítima de choques elétricos e outras sevícias. Ele foi jogado no chão e bateu a cabeça”, afirma Dermi. “Maltratar um bebê é o suprassumo da crueldade.”
Dermi e sua companheira na época, Darcy Andozia, foram presos acusados de tentar difamar o Estado brasileiro por conta de um livro intitulado Educação Moral e Cívica & Escalada Fascista no Brasil achado no apartamento onde moravam em São Paulo. Dermi permaneceu preso por 4 meses recebendo torturas físicas como choques elétricos e pau de arara, Darcy, foi torturada psicologicamente vendo seu filho ser torturado na sua frente como forma de pressioná-la nos interrogatórios.
Carlos Alexandre sofria de um transtorno chamado de fobia social, consequência direta das torturas que sofreu. Transtorno que o fazia ser uma pessoa bastante retraída. “Para mim a ditadura não acabou. Até hoje sofro os seus efeitos. Tomo antidepressivo e antipsicótico”, relatou Carlos em entrevista a Istoé Independente em 2010.
O anúncio de sua morte pelo seu pai através do mural no Facebook causou bastante comoção aos amigos da família e a pessoas ligadas aos Direitos Humanos em todo o país. “Meu coração sangra de dor” diz Dermi no início do texto.
Hildegard Angel, irmã de Stuart Angel, assassinado sob torturas pela ditadura, assim expressou em seu site como recebeu a notícia: “Não o conhecia, mas para mim a notícia deste suicídio é como uma facada no peito”. (…) “Agora, acabo de ser surpreendida por essa terrível notícia: o suicídio de um jovem que, quando bebê foi torturado pela mesma classe de algozes que assassinou meu irmão, minha cunhada, minha mãe e até hoje mortifica minhas lembranças”.
Emerson Lira
*Dermi Azevedo é jornalista e ex-preso político. Foi um dos fundadores do Movimento Nacional de Direitos Humanos. Dermi é portador da Síndrome de Parkison, que provavelmente adquiriu por conta das fortes pancadas recebidas na cabeça enquanto esteve preso na década de 70. É dele o livro “Travessias torturadas – Direitos Humanos e ditadura no Brasil” lançado no último dia 6 em Belém.