Para justificar guerras e repressão, capitalismo faz apologia da violência

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Soldados no IraqueCausou grande indignação a morte do jovem boliviano Kevin Beltrán Espada no dia 20 de fevereiro, provocada por um sinalizador disparado por um membro da torcida corintiana em Oruro, Bolívia, durante o jogo entre San José e Corinthians, pela Copa Libertadores. A violência no futebol voltou à primeira página dos jornais e ganhou reportagens especiais na TV condenando as torcidas organizadas.

Porém, a violência não só tem crescido no futebol.  Segundo o Mapa da Violência produzido pelo Instituto Sangari, entre 1980 e 2010, ocorreram no Brasil 1,09 milhão de homicídios, o que significa uma média de 36,3 mil mortes violentas por ano.

Apenas no mês de janeiro, informa a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, 455 pessoas foram assassinadas, 69 a mais do que em janeiro do ano passado. No Rio Grande Sul, os homicídios também cresceram 17% no último ano.

É claro que não é possível culpar as torcidas organizadas por esse aumento da violência. Até porque somente a PM de São Paulo matou em 2012, uma pessoa a cada 16 horas.

Vemos, assim, mais uma vez, os grandes meios de comunicação agirem como os romanos há 2000 anos: procuram um Cristo para crucificar. No caso da morte do torcedor boliviano, esse cristo é a torcida organizada.

Essa forma de agir da imprensa burguesa não é à toa. Na realidade, sua especialidade é encobrir a verdade para isentar de culpa o sistema capitalista. Entretanto, como prova a dialética, é impossível compreender um acontecimento ou fenômeno isolando-o ou separando-o de outros que o cercam e sem analisar o que o causa. Sem essa análise, qualquer fenômeno torna-se uma coisa sem sentido, surpreendente ou inimaginável.

Desse modo, a morte de Kevin Espada e a forma como ocorreu têm uma importante relação com o crescimento da violência tanto em nosso país como no mundo. Lembremos aqui que há três meses, em 14 de dezembro de 2012, outra grande tragédia chocou o mundo: o cruel assassinato de 20 crianças por um jovem de 20 anos, filho de uma professora, numa escola da cidade de Newtown, em Connecticut, EUA.

Quem são os donos das indústrias de armas?

Aliás, mesmo tendo ocorrido nos EUA, seis massacres em 2012, que mataram 45 pessoas, a maioria crianças e jovens, o comércio de armas continua crescendo no país e segundo dados da Associação Nacional do Rifle (NRA, sigla em inglês) existem em mãos privadas 300 milhões de armas de fogo para uma população de 330 milhões.

Na realidade, a sociedade capitalista tem hoje no armamentismo e na violência suas principais características. Não é por mera coincidência que as principais economias capitalistas do mundo são exatamente as maiores exportadoras de armas: EUA, Rússia, Alemanha, França e Reino Unido, juntos, são responsáveis por 75% das vendas de armas no planeta.

Mais: de acordo com o Instituto Internacional para a Paz de Estocolmo (Sipri), em 2010, em plena crise capitalista, as 100 maiores empresas do setor de armamentos venderam fabulosos 411,1 bilhões de dólares em armas.

Entretanto, é bom observar que os donos dessas indústrias armamentistas não constituem uma classe capitalista à parte. Eles são também proprietários dos principais bancos do mundo (aqueles que são grandes demais para quebrar), de fundos de investimentos e de monopólios industriais que fabricam de aviões a cigarros.

É para atender a insaciável ganância desses empresários e impedir a queda na taxa de lucro que os governos nada fazem para acabar com a fabricação de armas. Pelo contrário, cortam verbas da Saúde e da Assistência Social para assegurar recursos para a indústria bélica. De fato,  nunca numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, órgão integrado apenas pelos países imperialistas, foi apresentada uma proposta para proibir a produção de armas nucleares ou de qualquer outro tipo.

Por isso também, nunca se teve tantas guerras como neste início do século 21.  Em janeiro, as Forças Armadas da França invadiram o Mali, país africano e que foi colônia da França até 1959, e o gabinete de Obama já discute a intervenção militar na Síria, diz em manchete o jornal Washington Post.

A apologia da violência

Para justificar essa violência e apresentar as indústrias de armas como se fossem fabricas de chocolates, o cinema capitalista produz uma legião de filmes de guerras e de louvor à violência, tais como Guerra ao Terror, Duro de Matar, Violentos e Furiosos, Batman, o Cavaleiro das Trevas, Argo, G.I. Joe, etc., bem como games (jogos) que se tornaram moda para ado-lescentes. Um exemplo: quando do lançamento do game “Medalof honor Waefighter”, video game mais vendido no mundo, a EletrctronicArts, apresentou entre seus parceiros de marketing a empresa McMillan, fabricante de fuzil ultramoderno para atirador de elite e a Magpoul, empresa que vende pentes de balas.

Além do mais, a sociedade burguesa, inspirada na acirrada concorrência existente entre os grandes grupos capitalistas para dominar os mercados, (“Cada capitalista mata muitos outros”. Marx.O Capital, I ), necessita para justificar essa “sociedade altamente competitiva” e garantir a coesão social, além de um gigantesco aparato repressivo, escravizar corações e mentes. Daí, a estratégia de promover a alienação social e incitar o individualismo e a rivalidade buscando que o ser humano seja visto não como um companheiro, mas como um concorrente.

“Aniquilar o concorrente’ é o objetivo que precisa ser alcançado para sobreviver na moderna sociedade capitalista; ou você é vitorioso ou está “morto para o mercado”, dizem os especialistas em gestão de carreiras. Aliás, a frase “É preciso matar o adversário”, tornou-se um mantra na boca de técnicos, jogadores e comentaristas de futebol.

A hipocrisia dos meios de comunicação burgueses é tão grande que, ao mesmo tempo em que se mostram indignados com a morte do jovem boliviano, convidam os telespectadores a assistirem as violentas lutas de UFC, conhecidas também como vale-tudo ou “briga de galo humana”. No site http://www.putsgrilo.com.br/esporte/ufc-os-rostos-mais-detonados-do-mma/ podem se ver rostos de lutadores sangrando nesse novo esporte criado pela classe capitalista. Um esporte que garante diversão para ricos que apostam e ganha milhões à custa de um ser humano ser espancado quase até a morte. Entre as grandes empresas que patrocinam essa violência da UFC, estão a Nike, a Phillips, a Ambev, a Globo, a Gillete, a Fox e a Procter & Gamble (P&G),que  fabrica fraldas para bebê e produtos de higiene e limpeza.

Para culpar as torcidas organizadas, dizem ainda que no passado, as torcidas ficavam lado a lado e a violência era menor.  Mas também nesse passado, a violência era reduzida em todo o país, mais de 1/3 da humanidade vivia no sistema socialista, existia a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o capitalismo não estava tão apodrecido e as ideias e os valores comunistas tinham, sem dúvida, uma influência maior sobre as pessoas.

Por que se organizar?

A verdade é que um sistema que glorifica as armas, endeusa a violência, considera natural demitir um pai ou uma mãe que tem uma família para sustentar ou um jovem que precisa sobreviver, cria paraísos fiscais para fazer lavagem de dinheiro do narcotráfico e da corrupção, que promove guerras e bombardeia cidades para garantir o lucro de uma minoria e se apoderar das riquezas de um povo, não pode e nem quer resolver o grave problema da violência social.

Em outras palavras, não são as torcidas organizadas, mas a atual forma como o Estado está organizado, a sociedade burguesa e sua ideologia, tão ardorosamente defendidas pelos grandes meios de comunicação, que mantêm e propagam a cultura da violência, os principais responsáveis pelo crescimento da violência, seja no futebol seja em toda a sociedade.

Portanto, não é nos desorganizando que acabaremos com essas tragédias e injustiças, mas sim nos organizando e nos rebelando contra esse violento e desumano sistema. Como muito bem cantou Chico Science, “Eu me organizando posso desorganizar. Posso sair daqui para me organizar”.

Lula Falcão,
membro do comitê central do Partido Comunista Revolucionário-PCR