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sábado, 23 de novembro de 2024

Audálio Dantas: “Minha dívida era contar a verdade dos fatos”

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Audálio DantasO Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) lançou, no dia 27 de fevereiro, no auditório do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, a Comissão Estadual da Verdade dos Jornalistas do Ceará. Sua tarefa será a apuração de denúncias dos crimes cometidos pela Ditadura Militar fascista brasileira e os seus órgãos de repressão a jornalistas no Estado. Presente ao ato, o jornalista Audálio Dantas, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), lançou seu novo livro As duas guerras de Vlado Herzog, um relato sobre a vida e o trabalho do diretor de jornalismo da TV Cultura, de São Paulo, desde a fuga da perseguição nazista na Europa até sua morte, sob tortura, no Brasil. Audálio é presidente da Comissão da Verdade dos Jornalistas e concedeu, gentilmente, entrevista a A Verdade.

A Verdade – Sua trajetória como jornalista e militante está muito vinculada ao período da Ditadura Militar no Brasil, em especial pelo assassinato de Vladimir Herzog. Estes foram os motivos que lhe levaram a escrever este livro?

Audálio Dantas – Sem dúvida, principalmente pelo papel que o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo desempenhou há época, realizando uma grande denúncia desse crime. As referências que se fazem na mídia sobre o caso Herzog omitem esse fato. Ao escrever o livro, busquei contar a verdade dos fatos, esclarecendo exatamente o papel fundamental do Sindicato para que o assassinato do Vlado não passasse por suicídio, como queria o regime.

Agora você preside a Comissão da Verdade da Fenaj, empossada no mês de janeiro. Quais são as expectativas para os trabalhos da Comissão?

Em princípio, nosso papel vai ser buscar os documentos porventura existentes. Há muitos deles sobre violência praticada contra jornalistas durante o regime. Em segundo, recolher depoimentos de casos que sejam importantes. Por exemplo, em São Paulo, existem vários casos de jornalistas que eram de outros estados, como Jayme Amorim de Miranda, militante do PCB, preso no Rio de Janeiro e levado para São Paulo, onde foi assassinado numa casa chamada Colina, que funcionava para isso. Não bastava o DOI-Codi para eles, queriam mais alguma coisa. Vamos procurar saber, através de familiares e amigos, dados e aspectos que existem e não puderam ser revelados.

Como ex-presidente da Fenaj, qual é o papel principal que você credita à Federação na atual conjuntura, onde verificamos uma crescente concentração da mídia em alguns monopólios?

Bem, fui presidente da Fenaj de 1983 a 1986, e, desde então, já havia essa luta em defesa de políticas democráticas de comunicação, o que não é possível no sistema atual, no qual prevalece uma concentração absurda dos meios de comunicação nas mãos de poucas pessoas, poucas famílias. Isso é um absurdo! Assim como também a concessão de canais de rádio e televisão para parlamentares. Quando fui deputado federal, lutei o tempo todo contra essas concessões, porque acho que são ilegais. O parlamentar, ao assumir o mandato, não pode negociar com o Estado, não pode, porque ele é uma parte do Estado! Então é um absurdo alguns políticos se beneficiarem dessas concessões e as utilizarem para si. Esses canais são do povo, pertencem à sociedade!

Como você vê a resistência de veículos de imprensa independentes no Brasil como o jornal A Verdade? É possível competir ideologicamente com a grande mídia?

Primeiro, a imprensa alternativa teve o papel, durante o regime militar, de ocupar o espaço da crítica que havia sido abandonado pelos grandes veículos de comunicação. Então, publicações como O Pasquim, que era um jornal humorístico, mas de crítica severa contra o regime, tiveram um papel importante. Com a reconquista da democracia, a maioria desses jornais desapareceu, e com razões até compreensíveis, porque não havia mais o inimigo para combater. Mas detectamos várias contradições no regime democrático, como a violência contra os pobres, tortura nas delegacias, etc. Então, os veículos alternativos, como A Verdade, são importantes para discutir essas questões. Não estamos numa ditadura, mas temos dentro do atual sistema uma série de injustiças que devem ser denunciadas.

Michell Plattini e Fábio Andrade, Fortaleza

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