UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

“O Brasil está leiloando uma riqueza sem saber o seu valor”

Outros Artigos

Ildo SauerIldo Sauer é professor titular e diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP. Foi diretor de gás e energia da Petrobras no primeiro Governo Lula. É um dos maiores cientistas brasileiros na área de energia com diversos artigos publicados em periódicos internacionais e livros. A Verdade foi ouvir este especialista para mostrar os sérios riscos que correm hoje as riquezas naturais do Brasil, sua economia e sua soberania. 

A Verdade – No momento se fala muito das divisões dos royalties, mas pouco se discute no Congresso Nacional sobre a nova rodada de leilões do pré-sal. O que isso significa, quais os ganhos e as perdas desses leilões para os brasileiros?

Ildo Sauer – O grande problema é que não sabemos quanto petróleo foi entregue pelos leilões. Isso significa que o Brasil leiloou uma riqueza sem saber o seu valor. É uma grande irresponsabilidade o Governo organizar outra rodada desta mesma maneira, considerando ainda o momento de valorização do óleo existe nos blocos.

As perdas são enormes numa situação como essa. A luta pelo lucro suplementar, definida por Karl Marx, é uma luta radical entre a burguesia. Seus interesses são contraditórios. O petróleo tem o poder de, com um investimento baixo, gerar uma margem de lucro enorme.

Há muita divulgação na imprensa sobre os prejuízos da Petrobras. Qual é a situação real da empresa?

Na minha opinião, são três disputas que existem em relação aos rumos do controle e produção de petróleo no Brasil.

Os acionistas fazem uma enorme pressão política para que a Petrobras seja extremamente produtiva. Afinal, querem o retorno do que investiu o quanto antes, levando em conta também a pressão do capital em época de crise. Portanto, quanto mais alto o valor de venda, maior o lucro, e não importam as consequências para a economia.

Outra tendência capitalista é a da indústria nacional. Para a economia interna interessa que os derivados de petróleo acompanhem o mercado internacional. Para empresas como a Gerdau e a Vale, quanto mais baixo o valor dos derivados, mais lucros poderão ter.

Essa disputa tem reflexão na imprensa do Brasil, pois trata-se de uma disputa para pressionar o Governo para que consigam seu objetivo.

Qual deve ser a posição do movimento popular diante dos leilões?

Os setores populares do Brasil, desde a luta “O petróleo é nosso”, liderada pela UNE, até hoje, defendem que os recursos gerados pelo petróleo sejam utilizados para o povo: reforma urbana e agrária, saúde, educação, investimento em ciência, tecnologia e agroecologia, é o que eu defendo.

Diante desse quadro, o Governo brasileiro, com o PT assumindo em 2002 com a esperança de o programa popular ser atendido, sucumbiu às pressões do capital financeiro e traiu o povo que o elegeu.

O Governo Lula organizou cinco rodadas de leilão contra quatro de FHC. Além disso, manteve a ANP (Agência Nacional de Petróleo), criada pelo Governo tucano, que é uma agência que fundamentalmente cumpre o papel de expor e oferecer as riquezas nacionais para o superlucro.

Diante dessa realidade, o Governo joga uma cortina de fumaça para a população e para fazer propaganda política nas próximas eleições. Os royalties não passam de 15% do valor total gerado pelo petróleo nacional. A UNE deveria defender a estatização e o controle público do pré-sal e toda a cadeia petroleira do Brasil. A UNE não pode ser pautada pelos royalties, que é um jeito inócuo de resolver os grandes problemas de nosso país. Esse debate gerou também uma luta fratricida entre o bloco São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo contra os outros estados. A verdade que é o Estado brasileiro é que tem ficar com o lucro. Os locais de extração, em sua maioria, são longe da costa e sob responsabilidade da marinha brasileira.

Estão privatizando o nosso petróleo?

Tenho informações seguras, do Consulado americano, de que a Dilma sempre defendeu os interesses do capital financeiro. Quando secretária no Rio Grande do Sul, seu nome sempre esteve ligado às privatizações. Inclusive, o Governo vem criando empresas extremamente lucrativas financiadas pelo endividamento público, coordenadas pelo BNDES, por exemplo.

Por fim, o capital quer retirar o óleo e transformá-lo em dinheiro o mais rápido possível. Deixando migalhas para serem repartidas pela população. Estão no Brasil todas as grandes empresas mundiais do setor. A novidade é a agressividade das três petroleiras chinesas que estão com mais dinheiro para comprar, sob qualquer custo, o lhes interessarem. O correto seria o Brasil deixar o petróleo debaixo da terra e controlar a produção. Por isso, a imprensa ataca tanto a Venezuela, que produz e investe sob o interesse da população venezuelana. O papel da esquerda e de entidades como a UNE, não é ficar submetidas às contradições da burguesia, mas sim defender os interesses populares, que historicamente foram de uma Petrobras pública, sob controle do povo.

Ricardo Senese, São Paulo

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes