Os trabalhadores responderam ao chamado das centrais e ocuparam o centro do Rio de Janeiro no dia 11 de janeiro. O palco da manifestação foi a Av. Rio Branco, tomada de bandeiras, professores, estudantes, trabalhadores em telecomunicações, servidores públicos federais, estaduais e municipais; operários da construção civil, metalúrgica e naval; petroleiros, bancários e trabalhadores que aderiram na saída do trabalho.
Após as jornadas no mês de junho que movimentaram o país de norte a sul, conquistando a redução das passagens em mais de 50 cidades e colocando em pauta no Congresso Nacional o passe livre nacional, os trabalhadores, contagiados pelo entusiasmo da juventude que foi às ruas, relembrando as jornadas de maio de 68 do século passado, na França, não podiam ficar de fora.
Às 15 horas, a Praça da Candelária já estava lotada. De todas as partes da cidade chegavam os construtores das riquezas. Logo no início da manifestação, o primeiro enfrentamento com a tropa de choque, policias tentaram levar preso um manifestante, mas foram impedidos pela pressão popular.
A passeata correu tranquila, até a altura da Av. Almirante Barrosos com Rio Branco, quando mais uma vez outro confronto iniciou-se com a tropa de choque e uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo caiu sobre os manifestantes e as ruas do Centro do Rio. Chegando à Cinelândia outro enfrentamento e mais uma vez o Centro do Rio de Janeiro foi cena de uma batalha entre manifestantes e policia.
No entanto, os enfrentamentos não ficaram restritos ao centro da cidade. Outra manifestação marcada para o final da marcha das centrais saiu do Largo do Machado até o Palácio Guanabara e o confronto foi generalizado. O despreparo e a violência policiais é tão grande que a tropa de choque atirou uma dessas bombas em um hospital nas imediações do palácio do governo. Da mesma forma que no Centro, as ruas de Laranjeiras e Botafogo ficaram cobertas de fumaça de gás, sufocando os moradores e transeuntes, vindo um deles a falecer este dia.
Para os militantes do Movimento Luta de Classes – MLC, o dia 11 cumpriu um papel fundamental, demonstrando a necessidade urgente de ter oposições fortes e com um consistente trabalho de bases visto que as centrais foram obrigadas a um grande esforço para colocar os trabalhadores nas ruas.
Candidato pela chapa de oposição ao Sindpd-RJ, Marcos Villela disse: “O dia de hoje mostrou como nosso sindicato está distante e afastado das aspirações e necessidades da categoria. Nenhuma empresa foi paralisada e pouquíssimos trabalhadores em TI vieram para rua. Vamos retomar nosso sindicato para a categoria e, com certeza, iremos ocupar nosso lugar nas ruas do Rio de Janeiro, na luta com os companheiros de outras categorias”.
Já Victor Madeira, diretor da CONDSEF, afirmou: “As centrais mostraram estar, em parte, desconectadas das reivindicações. Nossa principal bandeira hoje no serviço público é a imediata revogação da Reforma da Previdência”. Diego Ramos, petroleiro e membro do Sindipetro-RJ, deixa um sinal claro para o governo -“Para nossa categoria hoje foi um dia importante. Aprovamos e realizamos 24h de greve e furamos o bloqueio da mídia com relação à luta contra os leilões do petróleo; ou o governo para os leilões ou vamos parar o Brasil”. Na área de telecomunicações os trabalhadores da rede externa pararam, foram mais de 1.500 de braços cruzados. Mas, de acordo com Rêneo Augusto, diretor do Sinttel-RJ, “Os operadores de telemarketing após as panfletagens estavam na disposição e alguns vieram para rua. Vamos avançar para construir uma grande campanha salarial. Um novo tempo chegou”.
Gabriela Gonçalves, diretora do Sindicato Estadual dos Trabalhadores de Ensino, SEPE-RJ, após participar de assembleia com aproximadamente 2.500 pessoas, que saíram dali e foram para rua, foi enfática -“Paramos escolas que nunca tinham aderido às greves e paralisações. Vamos avançar nas conquistas. Nenhum governo ou qualquer força pode deter o movimento de massas ascendente como estávamos vivendo e ajudando a construir”. E o presidente do Sintnaval-RJ, Carlos Roberto Maria, o Formigão, afirmou – “Eles disseram que a história tinha acabado, que os trabalhadores não precisavam e nem queriam mais lutar. Pode ter certeza que hoje à noite os jornais burgueses vão tentar desqualificar nossa mobilização. Só demos o primeiro passo. Nos aguardem, vamos para rua, vamos parar o Brasil pelos nossos direitos economicos e políticos. Estas lutas estão temperando a classe operária e o povo para luta pelo Socialismo”.
Com essa disposição demonstrada pelos militantes do MLC em organizar as categorias que atuam e de convocá-las para a luta, as próximas manifestações serão ainda mais combativas. Para ajudar a esse trabalho, o Movimento Luta de Classes convocou todos os seus militantes e aos trabalhadores a participar do debate promovido pelo jornal A Verdade no auditório do Sintrasef. Um novo tempo chegou e o Brasil, nas últimas semanas, se tornou a pátria das manifestações.
Vanieverton Anselmo, membro da Coordenação Nacional do MLC