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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

“Bandeiras na mão, liberdade de expressão”

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Foto: Camila Sol
Foto: Camila Sol

A explosão de manifestações ocorridas em todo o Brasil também teve profundas repercussões em Minas Gerais, em particular Belo Horizonte. Diferente do aconteceu em outros estados, o maior alvo dos protestos foi a Fifa e os Governos Federal, Estadual e Municipal.

A primeira jornada de manifestações aconteceu no dia 15 de junho, reunindo oito mil pessoas, que fizeram uma passeata da Praça da Savassi até a Praça Sete, tendo à frente o Copac (Comitê Popular dos Atingidos pela Copa), o Movimento Fora Lacerda e a União da Juventude Rebelião (UJR).

A segunda manifestação ocorreu no dia 17 e reuniu cerca de 30 mil pessoas. Neste ato, foi visível a presença de grupos de direita, de pessoas ligadas ao PSDB, de skinheads, de P2s, grupos militares de extrema direita com o objetivo de atacar os partidos de esquerda e as organizações populares. Ao final desse ato, um provocador infiltrado rasgou uma bandeira do MLB, demonstrando a clara intenção de intimidar as lideranças populares.

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A partir daí, uma assembleia popular horizontal, organizada pelo Copac, reuniu milhares de pessoas debaixo do Viaduto Santa Tereza. Na primeira assembleia, muitas pessoas defenderam a retirada das bandeiras de partidos de esquerda das manifestações, mas a maioria rechaçou esta posição, por se tratar de posição antidemocrática, defendida, inclusive, pela direita e seus meios de comunicação. Fez-se um grande e rico debate sobre a necessidade de todos defenderem as bandeiras vermelhas e combater os fascistas, num entendimento de que os partidos que estavam nos atos não eram governistas, bem como da necessidade de conversar com os milhares de manifestantes para esclarecê-los, ou seja, disputar suas consciências.

Essa luta política aberta modificou radicalmente a organização e a condução das manifestações seguintes. Deu um rumo às mobilizações e garantiu a vitória da unidade. Nesse mesmo dia, após a assembleia, todos comprovaram que grupos de provocadores, fascistas e oportunistas de direita depredavam o prédio da Prefeitura de Belo Horizonte para responsabilizar o movimento social organizado. Sem nenhuma presença policial no Centro de BH, quebra-quebra e saques seguiram-se pela madrugada, reforçando ainda mais o sentimento de que as manifestações deveriam ser comandadas pelas organizações políticas e lideranças populares que se reúnem em torno do Copac.

Uma lição aplicada no ato organizado no dia 20 de junho, que reuniu 40 mil pessoas. Centenas de infiltrados provocavam os militantes dos partidos de esquerda, insuflavam as pessoas a agredir os que estavam com bandeiras vermelhas. Um grupo de 30 skinheads neonazistas armados investiu sobre os partidos, mas foram rechaçados por anarquistas, comunistas, militantes populares e todos os que condenavam o fascismo.

A repercussão foi tão grande que a edição do dia 21 de junho do jornal Estado de Minas, comentando sobre a presença dos partidos nas manifestações o jornal reconheceu a firmeza dos militantes do PCR, descrevendo-o como “uma organização de esquerda muito forte no movimento estudantil”, por não ter se intimidado, respondendo “bandeiras na mão, liberdade de expressão”.

Uma nova assembleia do Copac atraiu uma presença ainda maior de pessoas, consolidando-se como núcleo de aglutinação de forças, fortalecendo as decisões anteriores e avançando nos preparativos para o ato do dia 20, dia do jogo entre México e Japão pela Copa das Confederações, no Mineirão, quando 200 mil pessoas participaram da maior manifestação da história de Belo Horizonte. As bandeiras vermelhas tremulando, todos os movimentos sociais e organizações políticas de esquerda presentes. Grande unidade popular. O verde e amarelo predominava, mas todas as cores estavam presentes. A resposta do Governo foi reprimir violentamente os manifestantes. Outras 100 mil pessoas participaram do ato no dia 26 de junho, dia do jogo entre Brasil e Uruguai. Na véspera, o governador Antônio Anastasia pediu reunião de urgência com os presentes do Copac. Uma comissão de dez pessoas se reuniu com o governador, entre elas, Gladson Reis, da AMES-BH e da UJR, e Leonardo Péricles, do MLB. Apesar da ampla divulgação dada pelo Governo, nenhum acordo foi assinado e foi exigido que a PM não infiltrasse provocadores no meio dos manifestantes.

Diferente do que ocorreu em vários lugares, em Belo Horizonte conseguiu-se vencer os oportunistas de todo tipo, sabendo enfrentar as adversidades com unidade popular e combatividade, respeitando a amplitude e diversidade, mas sem se descaracterizar sua política de enfrentamento às políticas conservadoras e neoliberais dos governos constituídos.

Fernando Alves, dirigente do PCR de Minas Gerais

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