No Ceará foi assim…
Em Fortaleza, a primeira manifestação ocorreu no dia de 17 de junho, convocada pelas redes sociais. Sendo organizada em repúdio à dura repressão sofrida pelas passeatas na Capital paulista. Cerca de 500 pessoas se concentraram na Praça da Gentilândia, ao lado do Estádio Presidente Vargas, onde a seleção brasileira de futebol realizou seu primeiro treino antes do jogo contra o México. Os manifestantes caminharam pelas ruas do Centro até o Marina Park Hotel, onde a seleção estava hospedada. O protesto terminou de maneira pacífica.
No dia 19, cerca de 80 mil manifestantes se concentraram no supermercado Makro, na BR-116, e seguiram em passeata rumo à Arena Castelão no intuito de denunciar os gastos exorbitantes promovidos pelos governantes para garantir a Copa das Confederações. Foram impedidos de seguir adiante pelas barreiras promovidas pela Força Nacional de Segurança e da Polícia Militar. Mais de 50 manifestantes foram feridos.
No dia 20, cerca de 30 mil estudantes liderados por suas entidades se concentraram na Praça Portugal rumo à Assembleia Legislativa e, em seguida, ao Palácio da Abolição (sede do Governo Estadual). Eles exigiam redução imediata da tarifa de ônibus dos atuais R$ 2,20 para R$ 2,00; cancelamento imediato das obras do Aquário e da Ponte Estaiada; Reforma Política; criação de um Fundo para obras contra a seca; destinação de 10% do PIB para a educação e 10% para a saúde; aumento salarial para os professores; realização de concurso público para professor efetivo para as Universidades Federais e Estaduais; e entrega imediata de todas as carteiras de estudante 2013. Também se manifestaram contra as remoções e os despejos de comunidades ocasionados pelos megaeventos.
No dia 21, houve a concentração de manifestantes no Centro Cultural Dragão do Mar, por volta das 17h. Essa nova manifestação reivindicou maiores investimentos na área da educação, com o tema “Educação 10”, com a participação de 10 mil pessoas, culminando na Prefeitura. O Paço Municipal se encontrava cercado por 250 guardas municipais e pela tropa do choque, que reprimiram os manifestantes com bombas de gás e balas de borracha. Por volta das 21h, representantes da prefeitura receberam uma comissão de sete manifestantes.
No dia 27, cerca de 800 manifestantes se concentraram na Avenida Dedé Brasil, em frente ao Campus da UECE a partir de 10 horas. O movimento foi ganhando força e prosseguiu rumo à Arena Castelão, contando com cerca de cinco mil participantes. Nesse dia, ocorreu o jogo pela Copa das Confederações entre Espanha e Itália. Este ato, em especial, contou com a participação de vários segmentos sociais, entre eles estudantes, professores, policiais, enfermeiros, motoristas de ônibus, entidades estudantis, sindicatos, agricultores vítimas da seca, movimentos sociais que lutam por terra e moradia, além de partidos políticos.
Por volta das 13h, começou a violência policial com balas de borracha, bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e um canhão supersônico, que emite um som ensurdecedor, provocando danos à audição e náuseas, deixando as pessoas em estado de desorientação. Os manifestantes resistiram com muita coragem e sem recuar. Nesse ato foram detidas 84 pessoas, sendo 23 adolescentes.
Waldiane Sampaio, Fortaleza
Dez mil nas ruas de Natal
No dia 28 de junho, aconteceu mais uma grande passeata nas ruas de Natal. Cerca de dez mil pessoas foram às ruas para defender um transporte público de qualidade e o passe-livre. A concentração ocorreu na Praça Cívica e, em seguida, passou pela Câmara Municipal, Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio Grande do Norte (Seturn) e, por último, pela Prefeitura.
Participaram do ato diversos sindicatos, partidos de esquerda, movimentos sociais e, em sua maioria, a juventude. Palavras de ordem como “Da Copa eu abro mão, quero meu dinheiro pra saúde e educação” marcaram toda a passeata. Foi uma demonstração de indignação contra as injustiças do nosso País e também foi marcado por um espírito de unidade e liberdade para todos que estão na luta.
Alex Feitosa, Natal
Protestos na Paraíba garantem diminuição das passagens
Em João Pessoa, dois protestos marcaram a jornada de lutas do povo em defesa de um País melhor. No dia 20 de junho, cerca de 30 mil pessoas, de todas as idades e com diferentes reivindicações, tomaram as ruas do Centro da cidade e depois seguiram em passeata pela Av. Epitácio Pessoa.
Em abril, após anos de luta, o movimento estudantil secundarista já havia conseguido o passe-livre para estudantes da rede municipal de ensino, e agora a Prefeitura baixou o valor da tarifa de ônibus de R$ 2,30 para R$ 2,20. Assim, buscando avançar nessas conquistas, uma nova manifestação, que reuniu três mil pessoas, sobretudo jovens, foi realizada no último dia 27, sendo as principais pautas a redução da tarifa nos ônibus e passe-livre. O ato se concentrou na porta da Prefeitura Municipal e no Governo do Estado. Logo após, o governador anunciou a redução de 6% no preço das passagens nas Regiões Metropolitanas de João Pessoa e Campina Grande.
Nesta cidade, também foram organizados protestos no dia 20 e nos dias seguintes, chegando o movimento a ocupar a sede da Prefeitura Municipal, conquistando a redução de dez centavos na passagem urbana, caindo a tarifa para R$ 2,10. O movimento agora concentra forças para estender o passe-livre a todos os estudantes secundaristas e universitários.
Prisão marca manifestação em Recife
Os atos pela redução das passagens em Pernambuco movimentaram diversas cidades do Estado, em especial na Capital, Recife. No Sertão, a famosa ponte que liga as cidades de Petrolina e Juazeiro (na Bahia) parou as duas cidades; em Caruaru, mais de cinco mil pessoas foram às ruas.
No Recife, desde o dia 20, milhares de pessoas ocupam as principais avenidas. Com a justificativa da eterna “proteção”, a Polícia colocou nas ruas um arsenal de guerra, com cavalaria, cachorros, guarda municipal, batalhão de operações especiais, carros, jipes, motos, helicópteros. Tudo à disposição para um enfrentamento, que certamente é desigual. Mesmo assim, cerca de três mil manifestantes saíram às ruas no último dia 26, com o objetivo de entregar uma pauta ao governador. Todos seguiram para o Centro de Convenção, onde está funcionando a sede provisória do Governo. Além os cartazes, faixas e caras pintadas, muitas bandeiras de sindicatos, entidades estudantis e de movimentos sociais foram erguidas.
Pouco diálogo e muita repressão
Uma dessas bandeiras era a do DCE-Fafire (Faculdade de Filosofia do Recife), erguida por sua presidente, a estudante de Biologia de 19 anos, Crislayne Maria da Silva. Cris, conhecida liderança estudantil, passou toda a manifestação à frente da marcha, com um megafone na mão, levantando palavras de ordens e ajudando na organização. Por volta das 19h, quando houve a dispersão do ato, foi presa quando voltava para casa com um grupo de cerca de 50 pessoas. Todos foram revistados e foi nada encontrado. Mesmo assim, a estudante foi cercada por mais de 20 policiais e, apesar de muito protesto e resistência dos presentes, a prisão foi efetuada.
Cris foi levada para diversos lugares: primeiro para o posto da PM no Hospital da Restauração, depois para a Delegacia de Menores; na madrugada, para a Delegacia do Bairro de Santo Amaro, às 06h da manhã para o IML e, em seguida, para a Colônia Penal Feminina Bom Pastor. Os manifestantes que acompanharam esta verdadeira saga também foram ameaçados de prisão. Imediatamente uma rede de aliados foi construída (OAB, sindicatos, entidades estudantis, professores, movimentos religiosos e centenas de estudantes). Um grupo de advogados entrou com o pedido de habeas-corpus.
A liberdade de Cris se deu por volta das 15h do dia 27, quando familiares amigos e manifestantes esperavam, em vigília, sua soltura. A seguir entrevista da líder estudantil Cris Maria ao jornal A Verdade.
A Verdade – Como foi sua prisão?
Cris da Silva – Quatro policiais abordaram nosso grupo, que seguia pacificamente pela Avenida Conselheiro Aguiar, e começaram a revistar a bolsa de todos e pediram que eu pegasse uma mochila que estava aberta no chão. Logo em seguida, sem diálogo, anunciaram que eu estava presa. Os outros manifestantes não aceitaram, pois era um absurdo o que estava acontecendo. Fui encaminhada à GPCA (Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente), onde a tal mochila já não existia mais. No lugar dela, eles estavam com uma sacola plástica contendo um refil para carregar isqueiro e fogos de artifício.
O delegado achou um absurdo aquela situação, e só então me perguntaram nome e idade. Respondi e fui encaminhada à Delegacia da Mulher e posteriormente, por volta das 18h, à Delegacia de Santo Amaro. Só fui ouvida às 04h da manhã. Antes mesmo de me ouvir, a delegada anunciou que eu só sairia de lá após pagar fiança de cinco mil reais.
Quais lições você tira deste processo?
Um governador que se recusa a ouvir o povo, que se esconde atrás da Polícia e reprime as manifestações populares não representa os interesses de ninguém, a não ser seus interesses e dos demais poderosos a sua volta! Tudo que passei me motiva ainda mais a estar nas ruas lutando por uma sociedade mais justa. Foi como uma prova que só fortaleceu a convicção daquilo que eu defendo, que é um governo do povo para o povo!
Elizabeth Araújo, Recife