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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A destruição de Detroit

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DetroitO filme de Robocop, feito em 1987, conta uma história que se passa numa Detroit do futuro, nos Estados Unidos, que convive com uma decadência econômica e altos índices de criminalidade. No filme, um policial da cidade é ferido e volta a viver como Ciborgue (robô) e continua a combater o crime. Qualquer semelhança com a atual Detroit, cidade do estado de Michigan, nos Estados Unidos, não é mera coincidência.

Detroit, outrora a capital do automóvel, berço do fordismo e orgulho dos EUA, viu a prefeitura da cidade decretar pedir moratória de sua dívida, acumulada em quase 20 bilhões de dólares. É a maior falência municipal da história do país.

Reconhecida pelo seu parque industrial metalúrgico, principalmente na produção automobilística, e visando a possibilidade de produção de armamentos e tanques de guerra, a cidade era uma verdadeira esperança econômica norte-americana durante e após a segunda guerra. Hoje, em nada se parece com a cidade onde Henry Ford, em 1913, montou sua primeira empresa para produzir o modelo Ford T.

Atualmente, metade das pessoas com mais de 16 anos já não tem emprego. Fábricas de automóveis se tornaram ruínas enferrujadas. A GM, Ford e Chrysler, já deixaram desempregados 250 mil trabalhadores. Cerca de 40 mil casas e terrenos estão abandonados. Prédios, teatros, igrejas, estações de trem, escolas, bibliotecas, também fazem parte da lista dos imóveis abandonados. A prefeitura está sem recurso para prestar o serviço de iluminação pública e muitas ruas estão às escuras. A criminalidade é 3 vezes maior que a média nacional e 36% dos moradores vivem abaixo da linha da pobreza. Quem precisa de ambulâncias ou polícia tem que esperar horas para ser atendido. A população foge de Detroit. De um total de mais de 1 milhão, hoje não passa de 300 mil habitantes.

Ao analisarmos a situação dos Estados Unidos nos últimos anos, principalmente depois da crise econômica do sistema capitalista iniciada em 2008, veremos que essa situação não é um fato isolado. 15% da população, em 2012, vivia em situação precária, o que significa 46,2 milhões de pessoas, segundo o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano do governo. Ainda hoje, cerca de 650 mil estadunidenses não têm onde morar. As tentcities, grandes acampamentos onde vivem famílias que perderam suas casas por dificuldades financeiras, já somam cerca de 30 por todo o país. Em geral são feitas em parques públicos ou nas áreas rurais, enfrentando falta de água, energia elétrica e rede de esgoto, como mostra o documentário CampTakeNotices, disponível na internet.

Isso é o que oferece o sistema capitalista de produção de mercadorias, num país modelo desse sistema. Até mesmo uma cidade que tinha tudo para dar certo, com uma grande oferta de mão-de-obra, abrigando grandes indústrias, se vê imersa numa crise quase irreversível, retirando gastos das áreas sociais para entregar a banqueiros e capitalistas.

Bruno de Melo, Recife

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