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sábado, 23 de novembro de 2024

Uma análise da crise econômica mundial

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Uma análise da crise econômica mundial A crise econômica atual teve como estopim a falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers (fundado em 1850), em outubro de 2008. Em efeito dominó, outras grandes instituições financeiras quebraram, no processo também conhecido como “crise dos subprimes”.

Em poucas semanas, importantes instituições financeiras dos Estados Unidos, Reino Unido, Suíça e França declararam ter tido perdas colossais em seus balanços, o que agravou ainda mais o clima de desconfiança, que se generalizou. No Brasil, grandes empresas como Sadia, Aracruz Celulose e Votorantim anunciaram perdas bilionárias.

Desde que a crise de confiança se agravou e se generalizou, paralisando o sistema de empréstimos interbancários mundial, o governo estadunidense decidiu pôr de lado suas teorias neoliberais e passou a socorrer ativamente as empresas financeiras em dificuldades. Um pacote aprovado às pressas pelo Congresso destinou 700 bilhões de dólares de dinheiro do contribuinte americano para o socorro aos banqueiros.

No mesma época, países como Alemanha, França, Áustria, Holanda e Itália anunciaram pacotes que somavam 1,17 trilhãode euros (o que equivale a 2,76 trilhões de reais) em ajuda aos seus sistemas financeiros.

Em abril de 2009, o grupo dos vinte países mais ricos do mundo, denominado G-20, reunido em Londres, anunciou a injeção de um trilhão de dólares na economia mundial a fim de combater a crise econômica global.

Entretanto, esses vultosos pacotes de ajuda destinados a salvar bancos e grandes indústrias, que, na época eram considerados antídotos para a crise econômica, acabaram se tornando um fator agravante dela. Este fato é comprovado pela insolvência das nações ditas desenvolvidas. O grande acúmulo da dívida governamental fez estourar a capacidade de endividamento dessas nações e causou uma enorme turbulência financeira ao provocar o temor de que essas nações não pudessem honrar seus compromissos e decretassem o calote da dívida. A principal consequência da crise das dívidas soberanas foi uma grande instabilidade social, como se vê no caso da Grécia, causada pelos cortes dos benefícios sociais que eram usados pela população dos países desenvolvidos.

Em nações como o Japão, que detém o maior percentual de endividamento, a relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB) já ultrapassa os 200%. Nos Estados Unidos, entretanto, está a maior dívida bruta entre todas as nações do mundo, que já supera os 14,3 trilhões de dólares. Nesse ponto, aliado às recentes crises de insolvência na Grécia, Irlanda e Portugal, e ao temor de que a Espanha, a Itália e o Reino Unido também não consigam honrar seus compromissos, a economia mundial sofreu mais um forte abalo.

Karl Marx, um autor que muitos consideravam ultrapassado, já havia elaborado uma explicação para esse fenômeno. Segundo ele, a enorme capacidade produtiva do capitalismo e a constante valorização do capital (que aumenta muito mais rápido que o poder de compra da população, fato que é potencializado pela sua valorização fictícia através do aumento da especulação financeira a partir dos anos 1970), são elementos que contradizem a capacidade de consumo das sociedades (que, em relação a esse aumento assombroso da produção, torna-se cada vez menor) e as condições de valorização desse capital em permanente expansão. Daí as crises econômicas. Nas palavras do filósofo alemão, “todas as contradições da população burguesa atingem coletivamente a explosão nas crises mundiais gerais”.

Portanto, analisando a crise mundial atual sob uma perspectiva marxista, não se pode admitir o argumento, que muitos economistas difundem, de que este fato (e certamente as crises anteriores) é fruto somente de uma desregulamentação do mercado financeiro que não está presa a nenhuma estrutura produtiva. Um dos fatos que negam esta opinião é o de que o primeiro estopim da crise econômica, em 2008 (a “crise dos subprimes”), foi o aumento ilusório do poder de compra dos cidadãos estadunidenses através da baixa de exigências para a concessão de financiamento de imóveis. Esta medida tinha como objetivo diminuir o excesso de oferta existente no mercado imobiliário dos Estados Unidos, mas ela acabou fracassando devido à falta de lastro nas negociações interbancárias com os papéis relativos aos financiamentos. Isso caracteriza uma crise de superprodução.

Hoje o capitalismo mundial está num campo minado, pois o extremo endividamento de muitos países, principalmente os desenvolvidos, não permite a adoção de medidas paliativas (de viés keynesiano), que colocam o Estado como o agente indutor do reaquecimento da economia, através da realização de grandes investimentos em áreas de interesse social. Aliás, a situação atual está forçando o mundo inteiro a fazer cortes cada vez maiores de gastos nas áreas sociais. Isso faz com que o grau de exploração sobre a classe trabalhadora (que representa a maioria da população mundial) se torne cada vez mais insuportável e que seja proporcionalmente necessário, segundo Marx e Engels no livro A Ideologia Alemã, que a mesma realize a abolição da propriedade privada e a instauração da regulamentação comunista da produção por meio de uma revolução. Somente desta maneira, a força da relação da oferta e da procura, que impera no modo de produção capitalista, será reduzida a zero, e os homens retomarão o seu poder, o intercâmbio, a produção, a sua modalidade de comportamento uns face aos outros.

Felipe Vasconcelos Carneiro, Rio de Janeiro

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1 COMENTÁRIO

  1. Numa visão mais holística das crises mundiais, percebemos que essas crises são muito convenientes para os governos e os bancos. Justamente os donos de metade da riqueza do mundo ficam insolventes e quem paga é a população. Com uma boa justificativa, fica mais fácil tomar os imóveis dos trabalhadores, aumentar impostos, prejudicar benefícios previdenciários, tudo a favor de quem? Dos governos e dos bancos. O povo cada vez mais sufocado e a elite cada vez mais rica.
    De onde vem todo esse dinheiro senão de um assalto em massa da população mundial? Qual seria a melhor forma de fazer isso senão por meio de uma grande crise mundial? Tudo embasado em teorias econômicas também muito convenientes à elite. Elas explicam tudo e a população nem se atreve a entender o que querem dizer tantos números, gráficos e fórmulas, ou seja, o povo fica sem saber o que aconteceu, só sabe que está cada vez mais pobre. Mas todos os dias acordam e vão trabalhar, recebem o que lhes resta de seus salários (após os tributos) depositados nos bancos, que também levam uma boa parte dele com seus serviços tentadores. Saem para comprar e pagam quase o dobro por um produto, pq praticamente metade daquilo também são tributos. Cada dia mais endividados, pois pagam cada vez mais caro pelos produtos. E a elite a cada dia que passa fica mais rica. Por que não ficam mais pobres também, em tempos de crise? Talvez porque se beneficiem das crises econômicas, principalmente quando são mundiais.
    Vivemos uma época em que trabalhamos para os bancos e o governo, que ficam com a maior parte do que recebemos. Eles estão comprando todo planeta Terra. Gera angústia pensar que vivemos todos num planeta abundante, mas que somente quem tem dinheiro possa desfrutar dele. O resto passa fome ou vive trabalhando para sobreviver enquanto deixa as elites cada vez mais ricas. Nós é que deixamos, pois, infelizmente, o sistema atual faz com que sejamos totalmente dependentes da elite e todo o trabalho realizado nesse planeta acaba sendo favorável a ela, direta ou indiretamente. Todo trabalho e toda compra que fazemos reflete nos bolsos dos poderosos, tornando-os cada mais mais donos do mundo.

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