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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Jornada do MST luta por Reforma Agrária

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MSTNo dia 14 de outubro, foi deflagrada a Jornada Nacional Unitária de Lutas Pela Reforma Agrária e a Soberania Alimentar. A jornada, que teve a duração de uma semana, foi organizada pela Via Campesina, articulação internacional que, no Brasil, reúne o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Quilombolas. Em 20 estados foram realizadas marchas, fechamento de rodovias, ocupações de prédios públicos, refinarias, portos, etc., denunciando que a Reforma Agrária está completamente paralisada no Brasil. O movimento reivindica o assentamento das mais de 160 mil famílias acampadas no País.

Na Paraíba, pode-se dizer que a jornada começou antes e se prolongou até o dia 24. É que no dia 05 de outubro, após várias ameaças durante a semana, três policiais militares entraram armados no Acampamento Wanderley Caixe, localizado às margens da BR-101, na cidade de Caaporã (divisa entre Paraíba e Pernambuco), buscando as lideranças locais sem qualquer mandato judicial. Foram, então, rendidos pelos trabalhadores sem terra e só liberados com a presença da Polícia Rodoviária Federal.

No dia 14, já com este clima de tensão, mais de 2.500 pessoas saíram em marcha do Acampamento em direção a João Pessoa, Capital do Estado. Após dois dias de marcha, percorrendo 70 km para chegar ao objetivo, os camponeses se dirigiram a sede do Incra, onde montaram acampamento. A jornada produziu uma agenda de mobilizações diárias em João Pessoa, como ocupação de bancos e fechamento de vias públicas, gerando grande repercussão na cidade e no Estado. O movimento cobrava, além das reivindicações da pauta nacional, o cumprimento de promessas feitas pelo governador Ricardo Coutinho (PSB) para acelerar a Reforma Agrária na Paraíba. Uma audiência agendada para o dia 17 com o governador foi frustrada, pois o mesmo exigiu a formação de uma comissão de apenas quatro pessoas para serem recebidas. Exigência que foi rejeitada pelo movimento, gerando assim um impasse que só foi resolvido uma semana depois.

Sem a audiência com o Governo, 2.500 pessoas que se encontravam na sede do Incra decidiram ocupar o Centro Administrativo do Estado no dia 21.

Após o êxito da ocupação, a Polícia Militar logo cercou o complexo administrativo, cortando a energia e impedindo a entrada de água e alimentos aos manifestantes. Balas de borracha e spray de pimenta foram utilizados pela PM contra os manifestantes, causando pânico aos funcionários do Estado que se encontravam no local. A PM, no entanto, não conseguiu intimidar o movimento, que, embora estivesse, com um saldo de seis pessoas feridas pelas balas de borracha, conseguiu construir rapidamente uma rede de solidariedade formada por sindicatos, organizações juvenis, parlamentares e movimentos ligados aos direitos humanos, que se fizeram presentes no local, impedindo a continuação dos abusos praticados pela ação policial.

A imprensa, porém, comprometida com os interesses do Governo e dos latifundiários, repercutiu a ocupação como um ato de vandalismo, onde os funcionários presentes foram tomados como reféns pelos manifestantes.

Após horas de tensão, numa reunião com secretários de Estado, ficou firmada uma nova audiência com o governador, sem a restrição do número de componentes da comissão, a se realizar três dias depois para dar fim ao impasse criado. Um clima de terror foi explorado pelo Governo nos dias seguintes, afirmando, pelos meios de comunicação, haver a possibilidade de novas ocupações em prédios públicos, justificando, o forte aparato policial deslocado para a frente de alguns prédios públicos e da residência oficial do governador.

No dia marcado, uma nova marcha pela cidade foi realizada pelo movimento em direção ao Palácio do Governo, onde uma comissão de 15 pessoas foi recebida. Antes, porém, a mesma Polícia das balas de borracha entregou rosas brancas aos manifestantes, que, representados pela comissão, responderam ao governador em audiência: “Não queremos rosas, queremos terra”. A audiência terminou após compromisso do governador em acatar os 20 pontos da pauta apresentada pelo movimento.

A luta, porém, continuará para que os compromissos firmados sejam efetivados. A todos ficou o aprendizado da luta política contra o poder do Estado, que, por meio da Polícia, dos meios de comunicação e de seu alto escalão de secretários, tentou a todo custo criminalizar o movimento social.

Emerson Lira, João Pessoa

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