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terça-feira, 19 de novembro de 2024

Lançada Comissão da Verdade de Diadema

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Comissão da Verdade DiademaNo dia 8 de novembro, na Câmara Municipal de Diadema, foi lançada a Comissão da Verdade desse município do ABC Paulista, criada pela vereadora Lilian Cabrera (PT). Segundo ela, “O que me motivou a criação da comissão foi uma necessidade, que percebi na juventude, de conhecer de fato como as histórias se consolidaram e quais os reflexos que nós temos hoje do período de uma ditadura no nosso país. Eu não fui torturada, não vivenciei as ações desse período, mas vejo muitos reflexos nas desigualdades de direitos. Nossa sociedade é composta por mulheres, negros, afrodescendentes, que sofrem violência e resquícios dessa repressão. Outro objetivo é ouvir a história por outro ângulo. De quem vivenciou e dos familiares que participaram de formas diferentes”.

Quem abriu a audiência foi Derly de Carvalho, seguido pelo depoimento de Ernesto José de Carvalho, o Ernesto Guevara, filho de Devanir José de Carvalho, morto no período da ditadura, e Any de Carvalho, companheira de Derly e também perseguida, presa e exilada política.

Derly, Joel, Jairo, Daniel e Devanir, junto com os pais, mudaram-se de Minas Gerais para São Bernardo do Campo, também no ABC, em 1960. Tornaram-se operários e em poucos anos se viram diante de uma ditadura militar. Derly, também representante do Centro de Memória da Associação dos Metalúrgicos Aposentados-Anistiados (AMA-A), conta o que significou para ele e os irmãos os anos da ditadura:

“Ingressamos de corpo e alma no movimento sindical. Entrei em 1961 na Associação de Metalúrgicos de São Brnardo do Campo, na época não havia sindicato, fundamos ele depois. Fazíamos parte da formação de uma nova classe operária no Brasil, com a industrialização, a chegada de várias montadoras, empresas americanas e europeias no país. Essa classe operária acumulava experiências políticas internacionais do Vietnã, Cuba, China e União Soviética. Assim que ingressei no sindicato, ingressei também no Partido, que, naquele momento, era o instrumento de representação política dos trabalhadores – e eu me joguei por inteiro. Com a cassação da nossa diretoria (do sindicato) eu e meus irmãos também fomos para a clandestinidade e começamos a ter uma participação ativa no processo de resistência armada, pois, para qualquer atividade política relacionada à organização dos trabalhadores, era preciso resistir, pois, afinal, podíamos ser presos a qualquer momento. Acho que, resumidamente, foi essa nossa participação. A Comissão da Verdade nos permite levar à nova geração tudo o que aconteceu neste país nos anos da ditadura militar e mostrar quem são os responsáveis pelas torturas e desaparecimentos. Eu acredito em uma coisa: o que realmente vai mudar cara do Brasil, do ponto vista democrático, no futuro, são as próximas gerações, como essa geração como a de vocês do jornal A Verdade e essa juventude que está ativa.”

A Comissão da Verdade de Diadema colherá depoimentos, todas as sextas-feiras, até a segunda quinzena de janeiro do próximo ano. Abrir os arquivos da ditadura, trazer à tona o nome de quem ela torturou, matou ou fez desaparecer, tantos jovens trabalhadores(as), também é algo que esperamos que o governo faça depois de todo esse esforço das comissões que funcionam em todo o Brasil.

Thainá Siudá, Diadema

As sessões podem ser acompanhadas ao vivo pelo site: http://www.cmdiadema.sp.gov.br

Veja também o vídeo: Família Carvalho: retrato da resistência operária contra a ditadura

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