Nas últimas duas semanas, a corrupção do governo do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) encheu totalmente a agenda política da Turquia.
Na manhã de 17 de dezembro, 80 pessoas foram presas, entre as quais havia filhos de três ministros, também o diretor geral do Halkbank (um banco público) e o prefeito do distrito mais antigo de Istambul chamado Fatih, alguns empresários próximos ao governo, acusados de suborno, requalificação fraudulenta de terrenos através de ordens ilegais de autoridades governamentais, contrabando de ouro, evasão de impostos, etc.
Os Ministros de Indústria, de Urbanização e do Interior cujos filhos foram detidos, também estavam sob acusação. É evidente que os filhos de ministros dirigiam a corrupção em nome de seus pais, ou o faziam juntos. O Ministro da União Européia também é acusado por receber subornos. Enquanto isso, 24 dos detidos o foram pelo tribunal, entre eles há filhos de dois ministros – o do Ministro da Urbanização foi liberado – e o diretor do Halkbank.
O primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, qualificou a operação policial e judicial como um golpe de estado que atenta contra seu governo. Segundo o Primeiro-ministro, a organização religiosa cujo líder é Fethullah Gülen, um líder islâmico (sua organização é conhecido como “Cemaat ou Hizmet/el Serviço” antigamente aliado do governo) tinha dirigido a operação ilegalmente para derrubar o governo, obtendo apoio dos EUA e Israel com acusações falsas.
Rapidamente, o governo deslocou todos os oficiais de polícia implicados na investigação do caso de corrupção a diferentes postos; sob o pretexto de que estavam ligados à organização de Gülen. Cerca de 400 oficiais e chefes de polícia lhes atribuíram posições mais passivas. Por outra lado, desprezaram alguns fiscais e conferiram a outros o trabalho neste caso.
Neste processo diferentemente de anteriores, os meios de comunicação, exceto os jornais e televisões próximos ao AKP, informaram sobre este caso e o público organizou protestos para pedir a demissão imediata dos quatro ministros e a execução da operação judicial contra a corrupção.
Embora nos primeiros dias Erdogan repetisse suas acusações de golpe de estado e afirmasse que não sacrificaria seus ministros, sucumbiu à pressão pública e exigiu a renúncia de três ministros.
Um dos ministros demissionários, o Ministro do Desenvolvimento Urbano, saiu acusando o Primeiro-ministro e “Se o que fiz é ilegal, o Primeiro-ministro também é culpado porque minha assinatura está acompanhada pela sua em todos os documentos”, declarou. Enquanto mais seis deputados saíram do AKP.
O primeiro-ministro Erdogan afirmou que os fiscais e agentes de polícia implicados na investigação deverão informar ao governo e os fiscais e a polícia deverão fazê-lo ao ministro do Interior, a respeito das investigações sobre seu filho.
Entretanto, estas posturas não estão só contra a lógica, mas também contra as leis. Um fiscal responsável por uma investigação secreta não tem que informar a ninguém e é ilegal que a polícia faça quaisquer tipos de comentários sobre a investigação.
Mas, o governo do AKP fez uma mudança no regulamento da Polícia Judicial, obrigando-a a denunciar todas as investigações realizadas aos superiores.
O órgão máximo de representação dos fiscais e dos juízes, HYSK, declarou que a emenda está contra a Constituição e que as investigações dos fiscais não devem sofrer interferências. O Conselho de Estado impediu a aplicação da emenda.
Em sua última declaração, o Primeiro-ministro disse que tudo se trata de um ataque por parte do Movimento de Gülen, porque estão preocupados com o impacto financeiro que teriam diante da tentativa do governo de fechar o setor “dershane” (cursos privados de preparação para os exames de ingresso aos institutos e às universidades, que é um setor grande e muito lucrativo onde o Movimento de Gülen tem muitos negócios).
A relação AKP e o Movimento de Gülen
O Cemaat de Gülen foi sócio do AKP no governo até recentemente. Nos últimos seis anos, através dos meios de comunicação, agentes de polícia e dos fiscais-juízes sob o controle de Gülen, encaminharam operações contra os políticos curdos, organizações de esquerda, contra setores nacionalistas e militares; foram liquidados alguns setores da oposição ao governo. Em troca, os quadros do Movimento Gülen ganharam importantes cargos dentro da burocracia governamental.
O Cemaat é uma operação semi-secreta onde são treinados jovens em idade escolar secundária e universitária em “dershane” e são colocados dentro do sistema como juízes, advogados, militares e agentes de polícia. Eles, em troca de servir a Cemaat atuam em seu próprio interesse quando for necessário.
O chefe do Cemaat, Fethullah Gülen vive nos EUA e há rumores de que trabalha sob o controle da CIA. O Cemaat tem centenas de escolas e de “dershane/cursos privados” na Turquia, Rússia, nos países da Ásia, África e EUA. Algumas de suas escolas na Rússia e na Ásia foram fechadas por acusações de que “abrigam atividades de espionagem a favor dos Estados Unidos”.
A primeira rusga entre o Cemaat e o AKP foi a reunião entre representantes do PKK e da Agência Nacional de Inteligência (MIT) que atuava em nome do governo do AKP em Oslo/Noruega. Isto é considerado contrário à lei e o Subsecretário do MIT foi posto sob investigação.
O Primeiro-ministro, alegando que os oficiais, fiscais e policiais que investigavam pertenciam ao Cemaat, tinham como verdadeiro objetivo o próprio Primeiro-ministro, impediu a investigação modificando a lei do MIT, estabelecendo que para investigar qualquer Secretário é obrigatório ter a autorização do Primeiro-ministro. Em conseqüência, o governo fechou os Tribunais de Foro Especial alegando que estavam sob o controle de Gülen, e trocou os cargos de uma grande quantidade de agentes de polícia. Isto foi seguido por uma ação legal para fechar os cursos privados (dershane), os quais são centros de percepção de poder econômico e de formação dos quadros do Cemaat.
O Cemaat se opôs aos fechamentos e conseguiu que o governo desse um passo atrás, postergando os fechamentos por outros dois anos.
O filho de Erdogan também está na lista da corrupção
Embora a operação começasse em 17 de dezembro, os efeitos ainda se sentem, o Escritório da Fiscalização acionou o botão para uma nova ronda de detenções como parte da investigação. Apesar dos novos chefes da polícia não seguirem as ordens da fiscalização para custódias e registros domiciliários. A polícia do Cemaat já tinha sido substituída pela polícia do AKP.
A desculpa dada pela polícia foi que a operação e a investigação teriam que ser reportadas à superintendente da polícia e ao governador, e era necessário uma permissão assinada por eles.
O fiscal filtrou os detalhes da investigação aos meios de comunicação. Desta vez, o filho do próprio Primeiro-ministro Erdogan também estava na lista de suspeitos. Da mesma forma que na primeira, nesta investigação, estão relacionados políticos do AKP, burocratas e empresários próximos sendo acusados de subornos e corrupção.
Milhares estão nas ruas
Hoje em dia, em muitos distritos e muitas cidades do país, as massas estão nas ruas exigindo a demissão do governo.
O novo ministro do Interior é conhecido por ordenar o brutal ataque realizado pela polícia nas manifestações em Gezi, o ano passado, e nos últimos dias tornou, uma vez mais, a utilizar uma força desproporcional contra as manifestações.
A investigação de corrupção realizada três meses antes das eleições municipais, levou o governo para baixo. O primeiro-ministro está debilitado como “pato manco”. É provável que antes das eleições apareçam mais notícias e investigações sobre a corrupção do governo do AKP, e as dissidências havidas no AKP poderão dar lugar a uma mudança de equilíbrio no parlamento.
Nosso partido e o Partido Democrático dos Povos, a aliança política que nosso partido participa, convocam a opinião pública para exigir a demissão do governo e aumentar a luta por uma mudança verdadeira em marcha ao poder popular.
Emek
Partido do Trabalho