Confira abaixo o relato da detenção imotivada, autoritária e atroz de Isabela Rodrigues, ocorrida durante a concentração do ato do Tarifa Zero em Belo Horizonte na última quinta-feira (6).
No dia 6 de fevereiro, por volta das 17hs, fui detida na Praça 7, no centro de Belo Horizonte. Eu estava na concentração do ato da Tarifa Zero e me chamou a atenção a abordagem que a PM realizava junto a três pessoas bem próximas a mim. Fiquei atenta, uma vez que os policiais estavam revistando uma menina e bem sei que seria necessário uma PM mulher para poder revista-la. Nesse instante o Sargento Carvalho, que estava revistando essa moça, que eu nunca havia visto na vida, me olhou e começou a gritar para eu me afastar, alegando que eu estava atrapalhando o serviço dele. Eu só estava atenta caso ele fizesse algum abuso, dei um passo pra trás e continuei observando, assim como várias outras pessoas. Ele continuou a gritar comigo e eu disse que não ia me afastar mais, pois não estava atrapalhando nada. Nesse momento veio outro indivíduo e começou a discutir comigo e eu fui explicar pra ele que só estava acompanhando a ação e que eu tinha esse direito. Ele começou a gritar e disse que era policial também (que estava a paisana), mas não mostrou nenhuma identificação e ficou afirmando que eu estava atrapalhando o trabalho da PM. Enquanto eu falava com ele o Sargento Carvalho veio por trás gritando que eu estava desacatando o PM e me algemou imediatamente e me puxou. Eu não entendi nada e comecei a gritar, falando que era um absurdo, que não tinha feito nada, e vieram outros PMs que também me puxaram e torceram muito meu braço, já algemado. Várias pessoas se aproximaram, tentaram me ajudar, mas nada adiantou e fui levada rapidamente para viatura.
Permaneci algemada e fui conduzida sozinha dentro da viatura com um soldado e o Sargento Carvalho, que no instante que me colocou na viatura começou a intimidação e a me insultar. Na Companhia da Polícia Militar sofri mais abusos, me colocaram sentada no chão, ainda algemada , ao lado de outros presos, que não sei o motivo de suas detenções, mas que poderiam colocar minha integridade em risco.
Depois de alguns minutos, antes de fazer a minha ficha o Sgt. Carvalho me mandou levantar e me levou para um corredor nos fundos da companhia. No caminho me deu socos na cabeça e um no queixo e novamente começou a me ameaçar e fazer várias perguntas abusivas e a me filmar. Depois de alguns minutos o sargento me levou novamente para sentar na frente com os outros presos.
Não bastasse isso tudo ainda sofri revista intima, sem nenhuma justificativa, uma vez que a alegação de minha detenção era por desacato. Depois fui levada para o juizado especial e depois para um posto de apoio da PM e depois para a UPA. Na UPA mais um abuso, o soldado Nesio e o Sargento Fidelis entraram comigo no consultório e viram todo o atendimento, o que me constrangeu mais uma vez, pois tive que levantar a blusa para o médico fazer o exame. Depois voltei para o posto de apoio da PM e por fim fui levada para o juizado especial novamente para dar meu depoimento e terminarmos o BO.
Em vários momentos me perguntaram porque eu fui me intrometer e tomar as dores dos outros, que eu nem precisava estar ali. Eu pensei em responder várias vezes, mas pensei que não ia adiantar de nada naquele momento, talvez eles nunca entendam o que é amor ao próximo de verdade, o que é tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo…
Estou bem dolorida, já tomei vários remédios e minha cabeça não para de doer, meus braços torcidos e com hematomas, mas o que mais dói em mim é pensar que eu tive a sorte de ter companheiros que estavam próximos e acionaram rapidamente advogados, amigos, familiares e pude ser solta no mesmo dia. Parece contraditório, pois eu deveria ficar feliz com isso, mas penso que isso é uma exclusividade que eu preferiria que não existisse, pois sei e vi como pobre e preto é tratado, sem advogado, sem direito, sem nada, todos os dias.
Um turbilhão de coisas que passam pela nossa cabeça nessas horas, pra quem está de fora são só algumas horas, mas só quem passa por isso sabe, ainda mais mulher totalmente indefesa em um Estado ainda machista.
Me orgulho de não ter deixado cair nenhuma lágrima e estar fazendo algo que considero certo e justo. Mas só tive essa força pois sabia que tinham camaradas do PCR (Partido Comunista Revolucionário), familiares e amigos me apoiando e fazendo de tudo pra me liberarem e que dia a dia caminhamos lado a lado! Obrigada a todos!!!
Isso não me intimidará nem um pouco e só reforça mais ainda minha convicção de que o sistema capitalista está falido. Sou estudante de Ciências Sociais da UFMG e militante dos movimentos sociais na busca de um mundo mais justo, mais igualitário e mais humano. Enquanto isso a luta segue firme!!!
Não vai ter copa!!!
Fim da PM já!!
Viva o Socialismo!!!
“Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte!!”
(Bertolt Brecht)
Isabela Rodrigues, militante da PCR