A partir do dia 10 de março de 2014 a vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) será oferecida pelo SUS a meninas de 11 a 13 anos. O HPV é um vírus capaz de infectar a pele e as mucosas, por isso um vírus sexualmente transmissível e que possui mais de 100 tipos circulantes, e sua consequência mais conhecida é o câncer de colo de útero.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras da doença (ou seja, mesmo não desenvolvendo os sintomas estão infectadas e transmitem o vírus) e que 270 mil mulheres morrem por ano devido à doença. No Brasil, 5.160 mulheres morreram em 2011 em decorrência desse tipo de câncer.
Diante desses dados alarmantes e das características fundamentais de transmissão do vírus, voltamos nosso olhar para a importância de medidas de investimentos em medicina preventiva e saúde pública, bem como na educação em saúde. A vacinação é uma medida eficaz e podemos considerá-la um avanço para a prevenção do HPV e do câncer de colo de útero entre nós mulheres.
É importante entender que a faixa etária da vacinação deve ser entre 9 e 13 anos, pois nessa faixa a vacina é eficaz para imunizar as mulheres quando futuramente atingirem a puberdade e a fase adulta.
Em 2014 a vacina será distribuída para meninas de 11 a 13 anos, e em 2015 para meninas de 9 a 13, pois a meta do Ministério da Saúde é vacinar 80% do público-alvo, que atingirá aproximadamente 5,2 milhões de meninas. Dados que mais uma vez emitem um sinal de alerta: por que não estabelecer uma meta para atingir 100% das meninas?
O fato é que, apesar do avanço, quando se avalia sob a ótica da incorporação de mais uma vacina o calendário do SUS, infelizmente, ao observamos a situação sob a ótica das políticas de saúde pública e planejamento do governo, mais uma vez o governo federal opta por uma parceria público-privada para adotar uma medida no Ministério da Saúde.
A vacina será produzida numa parceria firmada entre o Instituto Butantan e o Merck, um dos maiores laboratórios do mundo, que tem como seu objetivo central o lucro e não a vida humana. Será investido R$ 1,1 bilhão na compra de 41 milhões doses da vacina durante cinco anos – período exigido pela indústria para que se transfira a tecnologia ao instituto brasileiro, para que então a vacina passe a ser produzida integralmente no país.
Mais uma vez assistimos à famigerada indústria farmacêutica, juntamente com um governo liberal, impedindo que os avanços da ciência e da tecnologia cheguem a todos e permitam que a saúde seja, de fato, um direito humano universal.
Esperamos que os 80% das meninas que pertencem ao público-alvo sejam imunizadas, e que os avanços tecnológicos e políticos não parem por aí. E que a constante luta dos profissionais que buscam um SUS 100% público e de qualidade continue ganhando força para melhorar a saúde e, consequentemente, a qualidade de vida da população.
Isabela Neves, biomédica
Belo Horizonte