Faleceu, aos 87 anos, neste 17 de abril, o escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Teve câncer duas vezes: em 2002, anunciou que a doença tinha atingido seu sistema linfático e, em 2014, a família informou que pulmão, gânglios e fígado estavam comprometidos. Por causa de sua idade avançada, o escritor não passou por novo tratamento, recebendo apenas cuidados paliativos.
Amigo íntimo de Fidel Castro, Gabriel García Márquez era “um homem com bondade de criança e talento cósmico”, segundo o líder da Revolução Cubana, que o chamou de “um homem do amanhã, ao qual agradecemos por ter vivido esta vida para contá-la”.
Os dois se conheceram nos primeiros dias da Revolução, em janeiro de 1959, quando Gabriel desembarcou na ilha como jornalista para cobrir a chegada ao poder dos guerrilheiros comandados por Fidel.
Crítico das ditaduras e regimes autoritários na América Latina, García Márquez permaneceu sempre fiel à Revolução Cubana e ao amigo estadista. “Nossa amizade foi fruto de uma relação cultivada durante muitos anos, onde pudemos desenvolver centenas de conversações, sempre muito agradáveis para mim”, relatou Castro, em 2008, quando recebeu Gabo (apelido de Márquez) e sua esposa Mercedes, dois anos depois da crise de saúde que o levou a se afastar da direção do Partido e do Estado cubanos, em 2006.
García Márquez, que fixaria por longo tempo seu domicílio em Havana, participou, em 1959, da formação da agência cubana de notícias Prensa Latina e, em 1986, da criação da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano e da Escola Internacional de Cinema de San Antonio de los Baños, a 30 km da capital.
Gabo, que recebia em seu lar frequentes visitas noturnas de Fidel, destacava no amigo “sua devoção às palavras, seu poder de sedução”. “Fatigado de conversar, descansa conversando”, escreveu sobre o líder cubano.
Sua história em comum poderia ter começado na Colômbia, já em abril de 1948: no dia seguinte ao assassinato do político liberal Jorge Eliécer Gaitán, Fidel Castro e Gabriel García Márquez, ambos com 21 anos, participaram da revolta que passou para a historia como “Bogotazo”. “Nenhum tinha notícias do outro. Não nos conhecíamos, nem sequer a nós mesmos”, recordou Castro em um artigo publicado em 2002 por ocasião do lançamento do livro “Viver para Contar”, do Prêmio Nobel de Literatura.
García Márquez serviu de emissário especial de Fidel junto ao presidente norte-americano Bill Clinton. Em 1994, participou da solução da crise que culminou em um acordo migratório entre Havana e Washington. Em 1997, Gabo levou a Bill Clinton uma mensagem de Fidel Castro em que propunha aos Estados Unidos cooperação na luta contra o terrorismo. A cooperação Cuba-EUA foi efêmera. Em setembro de 1998, Washington aprisionou os lutadores antiterroristas cubanos que alertavam sobre os planos e atentados criminosos que os extremistas de Miami organizavam contra a Ilha.
Gabo tinha muitos amigos, mas nenhuma amizade lhe marcou tanto como a que cultivou durante meio século com Fidel Castro. Eram tão próximos que, dizem, García Márquez mandava a Fidel os esboços de seus romances antes de publicá-los.
O escritor
Considerado o criador do realismo mágico na literatura latino-americana, García Márquez, apelidado pelos amigos de Gabo, foi um dos mais importantes escritores da América Latina. Nascido em 6 de março de 1927 na cidade de Aracataca, na Colômbia, morava no México havia mais de três décadas.
Autor de clássicos como Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera e Crônica de uma Morte Anunciada, entre tantos outros, Gabo começou a escrever como jornalista, no jornal El Universal, em Cartagena. Foi correspondente internacional na Europa e em Nova York, onde foi perseguido pela CIA por suas críticas a exilados cubanos e suas ligações com Fidel Castro.
Em 1982, García Márquez foi escolhido o vencedor do Nobel de Literatura “pelos seus romances e contos, em que o fantástico e o real se combinam num mundo densamente composto pela imaginação, refletindo a vida e os conflitos de um continente”, segundo o comitê que organiza o prêmio. Foi o segundo latino-americano a receber o prêmio, tendo sido o chileno Pablo Neruda o primeiro.
Em 1958, após retornar da Europa, casou-se com Mercedes Bacha, um amor de infância, com quem teve dois filhos: Gonzalo e o cineasta Rodrigo.
Da Redação, com informações de La Jornada e Opera Mundi