Após 12 anos no governo, o PT vive um momento de grande desgaste. Por não querer contrariar os interesses dos capitalistas, especuladores e ruralistas, os governos de Lula e Dilma gerenciaram a economia durante a última década garantindo os super-lucros dos setores privilegiados. Na área social, o governo procurou atender alguns setores com reformas e ampliação do crédito, mas que não tocaram, de fato, na principal contradição que é a enorme desigualdade social que existe no Brasil somada às péssimas condições dos serviços públicos.
Em junho de 2013, ficou evidente para quem ainda não queria ver o grande descontentamento do povo para com essa política de conciliação. A classe trabalhadora, com amplas parcelas da juventude à frente, foi às ruas para gritar em alto e bom som toda a sua revolta. O número de greves é o maior desde a década de 90 e, mesmo que seja necessário enfrentar as direções sindicais, os trabalhadores escolhem parar e exigir seus direitos.
No momento das eleições, toda essa revolta se expressou em uma importante rejeição à candidata do PT ao executivo nacional, até porque Dilma não apresentou nenhuma proposta que representasse um enfrentamento aos problemas do país. Dilma se propõe a ficar mais quatro anos no governo fazendo mais do mesmo.
No entanto, todo o trabalho das organizações populares durante os anos de governo do PT não foi em vão. O povo brasileiro cresceu sua consciência política ao ponto de ver claramente que o PSDB é um partido que governa apenas para os ricos e de nenhuma maneira expressa uma mudança que beneficie os trabalhadores. Aécio Neves, candidato do PSDB, permanece com uma quantidade ridícula de intenções de voto para quem conta com o apoio total e irrestrito da mídia dos monopólios e dos banqueiros.
A rejeição ao PT, no entanto, está desaguando em uma candidatura que vem se mostrando tão reacionária quanto a do PSDB.
Após a morte de Eduardo Campos, Marina Silva assumiu candidatura a presidente se apresentando como portadora da novidade. Por ser mulher, negra, de origem nas lutas populares e por ter se desvinculado do PT em 2010, Marina conseguiu capitalizar o sentimento de transformação social e a fé na mudança política, principalmente, das parcelas mais jovens do povo. A história que Marina não conta, no entanto, é como ela conseguiu chegar lá, quem a apoia, financia, e quem está por trás de seu verdadeiro projeto político, projeto esse que ela prefere esconder ou desconversar.
Itaú e Natura, uma aliança das elites
Foi a associação com dois grandes capitalistas que deu a Marina Silva a estrutura para iniciar a construção de seu partido (Rede Sustentabilidade) e impulsionar suas duas candidaturas a presidente. Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, e Guilherme Leal, bilionário dono da marca de cosméticos Natura e candidato a vice na chapa de Marina, em 2010, uniram-se para dar a ela todo o dinheiro necessário para a construção da “nova política”.
O programa de Marina Silva e da Rede é dúbio e tergiversa sobre diversos pontos, menos no que diz respeito à manutenção da atual política econômica, que significa a retirada de dinheiro da saúde, educação e áreas sociais para pagar a dívida pública mantendo altos índices de juros. O próprio banco Itaú, além de ser devedor do fisco, é dono de muitos títulos da dívida brasileira.
Marina é, dessa maneira, apenas uma nova cara utilizada pela extrema-direita para expressar seu já velho e surrado programa de privatizações, aumento do controle dos financistas sobre a economia, arrocho salarial, ataque aos direitos trabalhistas e submissão do Brasil aos interesses dos países imperialistas.
Marina tenta se apropriar de tudo que cheire a novidade ou que represente a última moda, com o objetivo de disfarçar a velhice de seu programa. Caiu como uma luva sua religião evangélica, a mesma que está em crescimento no Brasil com o declínio da Igreja Católica em número de fiéis. Assim, a candidata não hesita em se dobrar diante de ameaças de pastores reacionários como Silas Malafaia, por exemplo.
A defesa do meio ambiente também é uma bandeira da moda que a candidata empunha sem disfarçar oportunismo. Não se encontra em seu discurso uma única crítica ao uso intensivo de agrotóxicos pelos ruralistas do agronegócio, um verdadeiro veneno que é posto em nossa mesa, e a defesa da reforma agrária também é um ponto esquecido.
Sobre todo o resto, não é possível ter certeza quem vai de fato governar. Se é Marina Silva, que não conta com um partido legalmente constituído ou uma base social capaz de gerenciar o governo, ou se são os capitalistas que financiam e formulam sua campanha, e estão acostumados há anos na gestão do Estado.
Debater e explicar para a juventude
Fazer vencer o projeto da classe trabalhadora, o socialismo, significa também derrotar, do ponto de vista ideológico, o conteúdo e a forma da ideologia reacionária. É preciso explicar e debater com todos, mostrando que Marina é a nova cara do programa da extrema-direita, que foi derrotado na consciência de grande parte das pessoas e agora quer ressurgir com novos slogans e velhas práticas.
É preciso debater e explicar, em especial à juventude, que a novidade não está na forma do discurso, mas no conteúdo das ideias. São as ideias de igualdade social, fraternidade entre as pessoas e combate à exploração e ganância que representam o futuro, e não a velha proposta de manter a política econômica que beneficiou e vai continuar beneficiando os muito ricos.
Nesses pouco mais de 30 dias que faltam para as eleições, não podemos fingir que esse debate está acontecendo fora da nossa base social e que não nos diz respeito. Desmascarar a candidatura de Marina é desmascarar a nova cara que a extrema-direita pretende assumir no Brasil.
Jorge Batista, São Paulo
Muito interessante a análise do governo do PT e dos limites de sua atuação, tendo como base um modelo social democrata que, diga-se a verdade, trouxe melhorias na condição de vida dos trabalhadores, produzindo ganhos e elevação da qualidade de vida. No entanto, o PT conseguiu mover na estreita margem de manobra que se lhe apresentou, sem tocar nas questões básicas e nas contradições fundamentais da sociedade brasileira. Ao adotar essa postura, o PT e o governo Dilma, principalmente, afastou-se dos movimentos sociais (MST, por exemplo), aliás, uma consequência lógica do abandono da luta pelo socialismo expressa na “Carta aos Brasileiros”.
Ao abandonar a luta pelo socialismo e não confiar no movimento de massas, o PT hoje vê-se frente a frente com as suas contradições. Não vejo os movimentos de massa de junho de 2013 como uma manifestação dos trabalhadores, mas como o fruto da pequena burguesia descontente com a política governamental. Na sua essência esses movimentos não apontaram para uma superação do modelo capitalista, mas na repetição das palavras de ordem da direita (fim da corrupção, desconfiança com relação aos “políticos”, etc). Embora tenha respondido aos movimentos com políticas concretas (proposição de plebiscito e constituinte para reforma política) o PT, não conseguiu mobilizar os trabalhadores em defesa dessas bandeiras.
O vácuo dessa falta de visão política acabou por ser preenchido por Osmarina da Silva, máscara com que a direita pretende assumir do poder, deslocando o PT e implementando uma política de “austeridade” em benefício da burguesia financeira e interesses estrangeiros.
Nesta conjuntura, acho que as propostas do PT/Dilma, são o que há de melhor, ainda que seja o mais do mesmo. Não dá para apostar no pior.
Apoio Dilma mas entre Marina e Aécio fico com Aércio…Uma o pessoa de ultra esquerda se une a extrema direita por puro oportunismo me lembra historias muito tristes do oriente médio que até hj ninguém deu conta de consertar..