De acordo com a diretora-presidente do Instituto AMMA Psique e Negritude, Maria Lúcia da Silva, entre oito meses e três anos de idade, o ser humano já começa a notar as diferenças físicas entre ele e os outros. Assim também forma sua personalidade, buscando referências para se construir enquanto membro de uma sociedade.
Para as crianças negras e afrodescendentes, essa é uma realidade muito difícil.
A primeira referência que elas buscam são os pais, que, na maioria das vezes já vivem sobre influência de uma sociedade opressora, que não lhes permite carregar consigo as tradições, religiões e costumes afrodescendentes.
Logo em seguida, vem a escola. Lá, a criança deveria desenvolver uma opinião crítica e libertadora de si, porém, as escolas não cumprem o papel de valorizar a diversidade cultural. Assim, a criança negra, em seu cotidiano, busca a ideia do belo que é transmitida por meio de um processo excludente e preconceituoso pelas instituições de ensino.
Não é à toa que nos livros é contada apenas a história dos grandes líderes brancos e que tinham sempre o poder econômico nas mãos, sem dar importância de onde veio essa riqueza.
Na TV, literatura, gibis e desenhos animados, até pouco tempo, não víamos os negros e as negras como heróis ou personagens principais.
Ao contrário, aqueles que são afrodescendentes sempre aparecem na mídia, literatura e livros infantis como o marginal, ladrão, pobre, empregado, feio ou feia, como se todos negros nascessem fadados a viver eternamente à margem da sociedade e como se fosse um absurdo reivindicar direitos iguais.
Racismo, braço do capitalismo
O racismo é um instrumento de opressão, é um braço do capitalismo, usado para oprimir e marginalizar uma parcela da população. Segundo Clóvis Moura, “o racismo se desenvolveu como arma justificadora da invasão e do domínio das áreas consideradas ‘bárbaras’, ‘inferiores’, ‘selvagens’”. Assim, roubaram a cultura, crenças, costumes, língua, sistemas de parentesco, tudo o que construímos durante milênios.
O racismo é esse instrumento do capitalismo que oprime a criança negra e pobre e lhe causa efeitos como baixa-estima, negação da sua própria imagem, dificuldades de relacionamento e queda no rendimento escolar.
Quantos líderes negros nossas crianças conhecem? Quantas vezes contamos a história de heróis que lutaram contra essa sociedade opressora: Zumbi dos Palmares, Malcolm-X, Manoel Aleixo, Panteras Negras e tantos outros?
Nós mesmos, que estamos na luta, somos espelho para essas crianças? O que será que refletimos à medida que fazemos piadas, alisamos o cabelo e não assumimos o que realmente somos?
Devemos ser um exemplo de resistência para essas crianças e jovens, lutando contra o racismo e contra o capitalismo, que usa desse modo tão covarde para nos explorar e oprimir desde criança.
Thainá Siudá é da Coordenação do MLB