No último dia 2 de fevereiro, completaram-se 18 anos da morte de um dos maiores nomes de nossa cultura popular contemporânea: Chico Science. Com apenas 30 anos de idade e muito para contribuir com a nossa música, Francisco de Assis França partia em uma noite de 1997 em um trágico acidente automobilístico. Apesar de pouco tempo de carreira, ele deixava um novo caminho traçado na música popular brasileira, o “Manguebeat”, um movimento cultural estabelecido e um imenso vazio a ser preenchido.
A perda de Chico Science representou também a perda de um grande líder, como afirmou Lenine, ao dizer que “ele não se contentava apenas em estar no palco, queria dividi-lo com todos”. Sua figura demonstra a importância da formação política do artista, reforça a necessidade da organização coletiva, a ligação estreita com as grandes massas, bem como o papel do indivíduo na construção da história.
O líder do movimento Manguebeat representou, por meio de suas letras, necessidades sociais e humanas de um modo verdadeiramente inovador, com uma música que rompia com tudo que acontecia no país, ao mesmo tempo em que dialogava com diversas linguagens musicais, artísticas e culturais sem esquecer temas como desemprego, preconceito, consciência ambiental e as desigualdades sociais.
Como não bastasse apenas mostrar uma arte inovadora, sedimentou seu movimento, lançou um manifesto e, junto com outros grandes nomes como Fred 04 e Otto, apontaram uma direção a ser seguida para modificar a realidade da juventude de uma região, na época esquecida e entregue ao crime, ociosidade, preconceito e violência.
Criado em Rio Doce, subúrbio de Olinda, filho de um enfermeiro, ex-vereador e líder comunitário, Chico Science cresceu e formou sua identidade cultural entre os becos das casas populares e as manifestações de rua. “Antenado”, conseguiu interpretar a realidade e carências de uma geração recém saída de uma ditadura militar de 21 anos, que roubou, aprisionou e escondeu o que havia de mais avançado em nossa cultura até então. Com a censura e o controle dos meios de comunicação pelo regime, era difícil ter acesso até mesmo a discos e livros considerados “subversivos”, ausência que marcou a infância da geração de Chico (ele contava com 13 anos quando a censura foi extinta e decretada a Lei da Anistia).
Chico Science soube trazer para o centro do debate a necessidade de se valorizar a nossa cultura local de verdade. Ver a influência deixada por ele após a explosão do Manguebeat, e que se espalha até hoje, mostra o quanto sua obra teve profundidade, e o quanto ainda é moderna e atual. Chico cantou a cidade, o mangue, o morro, os anseios da juventude e hoje está mais presente do que nunca.
Chico Science Vive!
Cloves Silva, estudante de Letras da UFRPE e militante do MLC
*O termo malungo remete À história dos negros escravos, vindos para o Brasil nos chamados navios negreiros. Era assim que eles se chamavam, tanto nas embarcações quanto nos quilombos. O nome significa companheiro.