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quinta-feira, 28 de março de 2024

As consequências do acordo nuclear iraniano

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İhsan Çaralan, Membro do Secretariado do Partido do Trabalho da Turquia - EMEP e editor do jornal Evrensel
İhsan Çaralan, Membro do Secretariado do Partido do Trabalho da Turquia – EMEP e editor do jornal Evrensel

As discussões sobre o programa nuclear iraniano, estabelecidas entre o Irã e o P5+1 (EUA, Rússia, Inglaterra, França, China e Alemanha), foram concluídas no dia 2 de Abril com um ‘acordo prévio’. Ambos os lados concordaram em assinar um acordo final no dia 30 de junho de 2015.

De acordo com o texto,  o Irã reduzirá o número de centrifugas usadas para o enriquecimento de uranio para dois terços das atuais e limitar o nível de enriquecimento a 3,7%. O Irã também deverá desativar uma de suas duas usinas nucleares e permitir a fiscalização de seu programa nuclear por parte das potências ocidentais pelos próximos 24 anos!

Em troca, as sanções da União Europeia serão retiradas imediatamente, e a  dos EUA serão retiraradas gradualmente.

O acordo foi recebido no Irã com ‘grande alegria’, com ‘raiva’ em Israel e com ‘ansiedade’ nos paises do Golfo Pérsico e da Arábia Saudita. Representantes dos países do P5+1 realizaram avaliações positivas do acordo, classificando-o como um “passo histórico”.

Sem dúvidas, a situação política e diplomática criada com o ‘acordo prévio’ indica para importantes mudanças no desenvolvimento da política interna (economia e diplomacia) e externa do Irã, em comparação aos últimos 36 anos. Da mesma maneira, importantes mudanças podem ocorrer nas políticas do Oriente Médio e das potências ocidentais.

O ‘governo reformista’ de Ruhani – que  recebeu seu mandato a partir de uma vitória eleitoral sobre Ahmedinejad – se moverá para abrir uma nova época nas relações com o Ocidente, da mesma maneira que tentará mudar as condições economicas que afetam a população profundamente. Assim, é possível dizer que os passos para abrir a economia serão tomados em conjunto com decisões políticas neoliberais, em ações semelhantes ao programa economico aplicado posteriormente a crise de 2002, na Turquia. Essa tendência certamente fortalecerá o governo de Ruhani: abertura da apertada economia iraniana, com o alívio das sanções e com apoio externo, introduzindo certas políticas que farão a vida dos iranianos mais fácil. Em resumo, os passos que seguirão o acordo ‘beneficiarão ambos os lados’ causando o ‘despertar’ do mercado iraniano e abrindo-o para os lucros ocidentais. Por óbvio que estamos falando de ‘benefícios’ para a  classe dominante iraniana e para o capital imperialista. Pode parecer que houve certo alívio para o povo iraniano que está celebrando nas ruas, mas com o acordo, a exploração imperialista se tornará mais forte e propagada e o domínio dos mullás será prolongado; Desde do dia 2 de abril, aconteceram muitos questionamentos sobre o ‘acordo prévio’; questões como “quem ganhou o que?”, “quem perdeu o que?”, “o que ocorrerá daqui pra frente?”, “pode-se confiar no Irã?”.. etc foram abordadas a partir de diferentes perspectivas. Esse é um debate que continuará até o dia 30 de Junho e vai muito além de saber sobre a ‘capacidade nuclear do Irã’ e as inspenções do ocidente.

Em todo caso, essa discussão não pode ser compreendida sem levar em conta os seguintes pontos:

1- A atividade do Califado Islâmico, da Al-Qaeda e de outras organizações terroristas islâmicas no Iraque e na Síria, guerras civis que se espalham também pelo Iêmen, a luta interna no Oriente Médio incluindo a ofensive militar contra o Iêmen liderada pela Arábia Saudita com o apoio ativo do Egito.

2-  A posição do Irã frente a esses acontecimentos, sua crescente influência dentro do “Crescente Xiita” que se estende do Irã até o extremo sul da Penísula Arábica, suas relações cada vez mais próximas com a Rússia e a China que podem interferir nos planos do Ocidente para a região.

3- As sempre onerosas intervenções ocidentais na região e a redefiniçãlo das fronteiras regionais; assim como as áreas de atividade determinantes para os imperialistas e as forças reacionárias na região.

As dimensões políticas, diplomáticas e militares dos problemas que surgem com o acordo, assim como a óbvia ‘futilidade’ da ‘solitária’ política externa turca frente a esses acontecimentos serão discutidas abaixo.

‘O inútil isolamento’ deu de cara com a muralha iraniana!

Está claro que, a seguir o ‘acordo prévio’, o governo iraniano pode respirar melhor em termos de sua política regional e interna e no que diz respeito a implementação de novas políticas econômicas. Da mesma maneira, os países que estão ‘no outro lado do acordo’, especialmente os EUA, Inglaterra, França e Alemanha ganharam uma grande vantagem em seus planos que incluem redesenhar as fronteiras na região. Essa vantagem é a normalização das relações com Irã! Isso facilitará a intervenção na região, de modo que será possível a comunicação direta com o Irã e criar a oportunidade de colocar o Irã diretamente contra a Arábia Saudita, o Egito e a Turquia; todos rivais do Irã na luta pelo ‘poder regional’. Considerando a influência do Irã sobre os Xiitas da região e sua participação nos conflitos do Iraque, Síria e Iêmen, esses acontecimentos limitarão severamente qualquer iniciativa que a Arábia Saudita, Turquia e Egito possam ter contra os imperialistas ocidentais.

Considerando as declarações passadas e atuais, enquanto estamos falando sobre o passo histórico dado pelo Irã na região – o maior e mais antigo rival da Turquia e seu maior vizinho na região – e as tentativas de mudar as fronteiras regionais, essas declarações não se referiram à Turquia em nenhum momento. Não houve necessidade disso! Isso significa que a Turquia não será importante para o Ocidente na reorganização e redesenho das fronteiras na região. Será assim, por óbvio, se a nova política externa Otomana se mantiver; se continuar a agir como um “grande irmão” e se “defender” a intervenção nos assuntos internos de países da região; se continuar a  jogar com as gangues terroristas islâmicas!

Foi sob essas condições que o Presidente Erdoğan realizou um dia de “visita de trabalho” ao Irã, celebrando o ‘acordo prévio’.

Em seu caminho para o Irã, Erdoğan não pode fazer seu tradicional discurso presidencial no aeroporto! Nesse visita, que discutiu economia e energia, ficou estabelecido que a atitude da Turquia sobre o Iêmen será informada ao Irã diretamente pelo presidente.

É sábido que a atitude turca no Iêmen não é particularmente bem-vinda no Irã. De fato, o apoio turco à Arábia Saudita no ataque ao Iêmen, e os discursos inflamados sobre as atitudes do Irã no Iraque, Síria e no Iêmen que ‘ultrapassaram a linguagem diplomática e cortesia’ causou reação no Irã. Por conta disso, 65 deputados iranianos exigiram do presidente Ruhani o adiamento ou cancelamento da visita de Erdoğan.

Teremos que esperar para ver o resultado da visita de Erdoğan em um momento em que o Irã está com a autoestima está se elevando e a relação entre os dois países piorando. É possível, no entanto, ter a certeza de que os acontecimentos futuros não favorecerão a Turquia.

Se os efeitos do ‘acordo prévio’ forem observados em conjunto, sim, é possível dizer que o Irã teve grande sucesso, inclusive em fazer o ocidente aceitar sua posição na região. Por outro lado, isso significa uma derrota para o Egito, Arábia Saudita e, especialmente, Turquia na disputa pelo papel de liderança na região. Israel se encontra no lado derrotaddo dessa vez. Mas o ‘acordo prévio’ não indicou o fim de um período de 36 anos de luta contra o Ocidente e uma nova relação cor-de-rosa. As relações Irã-Ocidente não alcançarão um nível ‘normal’ no curto prazo. As peças começaram a se encaixar pelo menos após o ‘acordo final’, em 30 de Junho.

No que diz respeito a nova política externa Otomana da Turquia – e suas tentativas de glorificar essa política como um ‘isolamento digno’ – não demorará muito para vermos sua ineficácia, mesmo dentro das novas condições de mercado no Oriente Médio.

İhsan Çaralan, Membro do Secretariado do Partido do Trabalho da Turquia – EMEP e editor do jornal Evrensel (http://www.evrensel.net/)

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