Passaram-se menos de 10 dias desde que milhões de gregos disseram ‘OXI’ (não) ao imperialismo alemão e decidiram seguir o caminho de um desenvolvimento soberano para o país, sem as imposições da troica, do FMI ou de outras instituições que, nos últimos anos, trataram de fazer definhar sua economia.
O governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras e do partido Syriza, no entanto, não teve coragem para defender a decisão popular e vergonhosamente capitulou ante as redobradas chantagens do imperialismo alemão e de seu ministro da fazenda, Wolfgang Schäuble. A verdade é que Tsipras usou o apoio que recebeu no referendo para voltar à mesa de negociação, onde esperava encontrar condições mais favoráveis. Ao invés disso, encontrou uma Alemanha disposta a humillhar a Grécia tanto quanto fosse necessário.
O novo acordo imposto sobre a Grécia inclui regras tão reacionárias quanto a revisão das leis trabalhistas do país, facilitando as demissões imotivadas; a privatização de quase todo o patrimônio nacional, com a criação de um fundo privado de mais de 50 bilhões de euros; e a obrigação do parlamento grego de aprovar todas as cláusulas em 48 horas, de maneira sumária.
Paul Krugman, economista keynesiano e prêmio nobel de economia, afirmou: “o que aprendemos nas últimas semanas é que ser um membro da zona do euro significa que os credores podem destruir a economia de um país caso este saia da linha… É mais evidente do que nunca que impor duras medidas de austeridade e sem alívio da dívida é uma política condenada ao fracasso, não importa o quanto o país esteja disposto a aceitar o sofrimento. E isso, por sua vez, significa que mesmo uma capitulação completa da Grécia seria um beco sem saída”.
Já Yanis Varoufakis, ex-ministro das finanças da Grécia demitido logo após o plebiscito para facilitar as negociações, declarou: “Nós fizemos a nossa dívida ainda menos sustentável em uma condição que prolongou ainda mais a austeridade e afundou a economia, transferindo essa carga para os pobres e criando uma crise humanitária”.
Na votação preliminar realizada no parlamento grego na última quarta-feira, 17 deputados do Syriza se abstiveram ou votaram contra o governo, fazendo com que Alexis Tsipras perdesse a maioria absoluta. As negociações com a Alemanha só prosperaram por contar com o apoio dos velhos partidos que levaram a Grécia à bancarrota, o PASOK (Social-democrata) e o Nova Democracia (Direita). A própria presidente do parlamento, Zoi Konstandopulu, se absteve da votação e outros quatro ministro do governo têm criticado o acordo.
Nas votações que devem ocorrer entre hoje e amanhã no parlamento grego, está claro que Alexis Tsipras não poderá aprovar este vergonhoso plano acordado com a Alemanha se não contar com o apoio do PASOK e do Nova Democracia, o que por si só demonstra o caráter reacionário e antidemocrático da proposta. Ao povo grego, não resta outra alternativa se não retomar um caminho há muito conhecido desde que este ajuste começou a ser aplicado: realizar greves e massivas manifestações para conquistar nas ruas a soberania popular.
Sandino Patriota, São Paulo.