Em meio a uma turbulenta crise econômica e política que vive o país, ocorreu o 54º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Goiânia, Goiás, de 3 a 7 de junho. Mais de oito mil estudantes participaram do evento, que teve como tema central dos debates o ajuste fiscal do governo federal, os cortes na educação e a organização do movimento estudantil.
Esse foi o primeiro congresso após as Jornadas de Junho de 2013, que levou milhões de jovens às ruas em defesa de mais direitos, derrubando os preços das tarifas em mais de 100 cidades e mostrando a juventude que é possível lutar e mudar os rumos da história e de suas vidas. Para completar, o início do ano de 2015 não tem sido fácil para a educação, apesar do discurso oficial de que o Brasil é a Pátria Educadora.
Acontece que o governo federal impôs dois cortes de verbas no setor que, juntos, somam R$ 16,4 bilhões. A falta desse dinheiro é intensamente sentida pelos universitários brasileiros, principalmente pelo atraso de suas bolsas e o fechamento de restaurantes universitários, afetando a assistência estudantil, que é precariamente oferecida nas universidades, sem falar com os cortes vividos no Fies, programa de financiamento para os estudantes de faculdades privadas.
Quer dizer, muitas eram as questões a serem tratadas e debatidas no Congresso da UNE, merecendo destaque ainda a proposta de redução da maioridade penal em votação no Congresso Nacional, a democracia interna nas instituições de ensino, a criminalização dos movimentos sociais, entre tantos outros.
Contra o ajuste fiscal
No debate sobre os efeitos da crise econômica foi destacada pelos palestrantes a situação imposta para o Brasil, os objetivos do ajuste fiscal e como os trabalhadores e a juventude têm sofrido com essas medidas.
Algumas falas tentaram amenizar os efeitos do ajuste e negar a possibilidade de enfrentamento ao ajuste fiscal, buscando “blindar” o governo federal. Já o representante da Unidade Popular para o Socialismo (UP), Wanderson Pinheiro, enfatizou o sentimento e a disposição de luta do povo brasileiro na conquistar de seus direitos ao longo de nossa história, e que as mobilizações de março e abril mostraram o caminho para enfrentar o ajuste fiscal.
Um dos temas unitários abordados no Congresso foi a pauta da redução da maioridade penal, com a realização de um debate, como espaço de Conferência Livre da Juventude, em que os debatedores apresentaram dados e leituras sobre os efeitos da redução e a necessidade da atuação da juventude para barrar esta medida.
A luta grevista de professores e servidores da educação em todo o país foi lembrada com um concorrido debate com a presença do sindicato nacional dos professores universitários (ANDES-SN) e dos professores da rede estadual de São Paulo (Apeoesp), demonstrando o apoio dos estudantes e da UNE aos movimentos grevistas.
Rebele-se na UNE
Com uma bancada organizada em 15 estados, reunindo estudantes de instituições públicas e privadas, diretores de CAs e DCEs, a tese Rebele-se chegou ao Congresso da UNE com muita disposição para transformar a União Nacional dos Estudantes. Ao todo, mais de 500 lideranças ocuparam os grupos de debate e deram o tom de uma delegação comprometida com a defesa de uma educação de qualidade e contra os ataques promovidos pelo governo com o ajuste fiscal.
No plenário do Congresso, ao debater e deliberar sobre as resoluções políticas da UNE, lideranças da Rebele-se de Norte a Sul do país se intercalaram na tribuna homenageando estudantes vítimas da ditadura militar fascista e apresentando as bandeiras de luta para os estudantes dentro das propostas apresentadas pela chapa Oposição de Esquerda, formada com uma série de coletivos e juventudes de esquerda, comprometidas com esse programa.
Eleição da nova diretoria
Ao término do Congresso, a chapa da diretoria majoritária (UJS-PCdoB/PT/PDT) alcançou a maioria dos delegados, 2.367, e elegeu dez diretores na executiva da entidade. A chapa do “campo democrático” (Levante/PT), com 730 votos, elegeu três diretores na executiva e a chapa do “Fora, Dilma” (PPL/PSB), com 240, elegeu um representante. Por sua vez, a Oposição de Esquerda cresceu em 14% o número de delegados desde o último congresso, chegando a 704 votos, e saiu do 54° Congresso da UNE com três diretores na executiva.
Infelizmente, o controle burocrático e o aparato financeiro nas mãos da diretoria majoritária dão amplas possibilidades de perpetuação à frente da direção da UNE. O processo de eleição de delegados não é o mais eficiente, e o controle que se tem dessas eleições dá margem há vários questionamentos.
A União Nacional dos Estudantes precisa ser retomada para a luta em defesa dos estudantes, e esse é um momento de luta e enfrentamento em todo o país. Após o 54° Congresso da UNE é hora de fortalecermos a construção do movimento estudantil em cada universidade e faculdade, seja pública ou privada, para que possamos avançar nos direitos da juventude e na busca por uma educação de qualidade.
Coordenação Nacional da UJR