Nem tudo está perdido na educação brasileira, principalmente quando prestamos atenção nas atitudes de quem está na parte debaixo da pirâmide, dentro das salas de aula ou da sala da direção das escolas.
A prova disso está no documentário Educação.doc. Este documentário, de grande qualidade, está dividido em cinco capítulos e disponível no YouTube para quem quiser assistir. E o motivo é que ele extrapola o debate tradicional sobre a educação pública brasileira e, principalmente, sobre a possibilidade de se construir uma escola pública de qualidade.
A dupla de cineastas, Lais Bodanzky e Luiz Bolognesi – que já haviam se destacado no filme Bicho de sete cabeças – rodou o país em busca de exemplos de escolas de qualidade para mostrar como elas conseguiram vencer as diversas dificuldades, sejam elas colocadas pela violência, pelo tráfico, pela pobreza ou pelos governos.
O documentário também conta com depoimentos de artistas que estudaram na escola pública, como o rapper Emicida e a atriz Camila Pitanga, e com a participação de especialistas, como o neurocientista Sidarta Ribeiro e a filósofa Vivian Mosé. Mas o grande destaque é o fato de debater a educação sobre a situação concreta das escolas e não com divagações de quem há muito não pisa em uma escola, como faz a mídia burguesa que só ataca os educadores.
Muitas saídas
Escolas de regiões diferentes do Brasil, mas todas na periferia, encontraram soluções para melhorar a qualidade do ensino. Em São Paulo, a EMEF Campos Salles, que fica no meio da favela de Heliópolis, a maior do Brasil, derrubou os muros que antes sustentavam cercas de arame farpado e se abriu para a comunidade. Mesmo caminho tomado pela Escola Epitácio Pessoa, que fica no Morro do Andaraí, no Rio de Janeiro e, literalmente, subiu o morro tocando samba.
No Piauí, a Escola Augustinho Brandão coleciona prêmios dos(as) estudantes nas Olímpiadas de Matemática e Química e em competições nacionais de educação, e lá a professora Socorro Vieira declara para a câmera que poderia ser convidada para qualquer profissão, mas não abandonaria o cargo de professora.
Manter viva a esperança
Para quem trabalha ou convive com o sistema educacional brasileiro é muito difícil acreditar que ainda se pode mudar a educação no Brasil, mas como diz o diretor da escola de Heliópolis, Braz Nogueira, “é preciso manter viva a esperança”.
Em tempos de grandes ataques à educação por parte dos governos – seja o federal, que cortou R$ 10,5 bilhões a educação, em 2015, sejam os estaduais, que massacram os professores – não é permitido a nenhum(a) educador(a), estudante ou pai/mãe de aluno se rebaixar e aceitar ficar no lugar que querem nos colocar. A educação é libertadora e só com ela podemos esvaziar as prisões e encher o mundo com a alegria que a juventude irradia quando pode se expressar e criar a esperança que a sociedade precisa.
Lucas Marcelino, professor da rede estadual de São Paulo