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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O covarde massacre de Hiroshima e Nagasaki

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hiroshimaA rendição não tardaria. O Japão, único país do tripé nazifascista a resistir, não aguentaria por muito tempo. O fascismo italiano já havia sido nocauteado, mais pela luta popular (foram os guerrilheiros partisans que prenderam e executaram Mussolini), que por intervenção externa. A Alemanha assinara a rendição a 8 de maio de 1945, após a tomada de Berlim pelo Exército Vermelho Soviético (leia A Verdade, nº 172). A União Soviética declarara guerra ao Japão, fato que pesou mais que qualquer outro para a rendição japonesa, como afirmaram explicitamente historiadores e membros do governo na época.

Na verdade, o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades interioranas de Hiroshima e Nagasaki não tem justificativa do ponto de vista estratégico. Seu objetivo foi apenas impedir que a União Soviética, a principal vítima da Segunda Guerra, com 20 milhões de mortos, e a responsável pela derrocada da Alemanha, o fosse também pela rendição japonesa.

Na verdade, para conter a hegemonia do comunismo no mundo, os Estados Unidos, sem consultar nenhum dos países aliados, praticaram, há exatos 70 anos, o maior atentado terrorista da História da Humanidade, e demonstrou que se equiparava ao monstro nazista agonizante em termos de desprezo pelo povo, pela vida.

O massacre covarde 

Os habitantes de Hiroshima (350 mil) sofriam as consequências da guerra, naturalmente, mas não tinham sofrido nenhum ataque. Nem esperavam por aquele. Às 8 horas da manhã, viviam a rotina das primeiras horas do dia 6 de agosto de 1945. De repente, uma explosão violenta, uma claridade ofuscante e uma nuvem imensa, em forma de cogumelo, transformam tudo num inferno. Crianças, idosos, mulheres, homens, sem distinção, são atingidos pelas ondas radioativas das mais diferentes formas. Difícil contar, mas cerca de um terço da população morre de imediato. Quem sobrevive, implora para morrer, pois a situação, as dores são insuportáveis. “Pensem nas crianças mudas, telepáticas/pensem nas mulheres rotas, alteradas…”. Poucos sobrevivem. Um desses, Sumie Karamoto, que tinha 16 anos, relata:

Houve um estrondo, uma explosão reverberante e, no mesmo instante, um clarão de luz amarelo-alaranjado entrou pelo vidro do telhado. Ficou tudo tão escuro como noite. Um golpe de vento atirou-me no ar e a seguir no chão, contra as pedras. A dor estava apenas brotando quando o prédio começou a ruir em torno de mim… Aos poucos, o ar se aclarou e eu consegui sair dos destroços. No caminho para um dos centros de emergência vi muita confusão. As ruas estavam tão quentes que queimavam meus pés. Casas ardiam, os trilhos de bonde irradiavam uma luz sinistra e no local de um templo pessoas se amontoavam. Algumas respiravam, a maioria estava imóvel. No pronto-socorro chegava gente correndo, as roupas rasgadas, chorando, gritando. Alguns tinham o rosto ensanguentado e inchado, outros tinham a pele queimada caindo aos frangalhos de seus braços e pernas. Em um bonde vi fileiras de esqueletos brancos. Havia também os ossos de pessoas que tentaram fugir. Hiroshima tinha se tornado num verdadeiro inferno.”

O mundo emudece. Mas não bastava; um espetáculo apenas de horror não foi suficiente para satisfazer a sanha assassina da nova besta imperialista. Nagasaki (266 mil moradores) era uma cidade industrial, portanto, com maioria da população operária. Já havia sofrido alguns bombardeios com resultados ínfimos diante do que estava para acontecer no dia 9 de agosto, quando é lançado sobre a cidade, perto do meio dia, o mesmo artefato que destruíra Hiroshima. E o inferno se repete. “Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira, se é verdade, tanto horror perante os céus”, teria repetido o nosso poeta-maior da liberdade, Castro Alves.

Setenta anos depois, a “rosa radioativa, estúpida e inválida” continua fazendo vítimas, descendentes dos sobreviventes, que sofreram mutações genéticas, provocando doenças como câncer e leucemia. Os memoriais nas duas cidades atualizam anualmente o número de vítimas até os dias atuais, registrando, em 2014, 260 mil em Hiroshima e 160 mil em Nagasaki.

 

Como será a Terceira Guerra Mundial?

 

Deprimido, com certo remorso por ter ajudado a criar a bomba atômica, o grande cientista Albert Einstein afirmou, dias depois dos atentados: “Não sei com que armas se fará a terceira guerra mundial, mas a quarta será com paus e pedras”.

É que ele previa a evolução da “Little Boy” (nome com o qual cinicamente foi batizada a primeira bomba). O seu poder de destruição é café-pequeno ante as modernas bombas nucleares que compõem o arsenal das superpotências capitalistas (Estados Unidos, Rússia, China) e dos aliados dos EUA: França, Índia, Paquistão e Israel.

O aprofundamento da crise do capitalismo acirra a disputa de mercado entre as potências capitalistas, como aconteceu no século 20. Portanto, a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial não é algo improvável (segundo o papa Francisco, ela já começou). Hoje, o arsenal existente é capaz de destruir, em poucos dias, toda a Humanidade e extinguir a vida sobre a Terra.

Portanto, ou a Humanidade destrói o capitalismo ou o capitalismo destruirá a Humanidade. Este é o desafio do nosso tempo e, por isso, como alertou o poetinha Vinícius de Moraes, “Não se esqueça da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, a rosa com cirrose, a antirrosa atômica, sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada…”.

(José Levino é historiador)

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