O assassinato do revolucionário Jaime Hurtado

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Jaime-Hurtado

No próximo dia 17 de fevereiro, completam-se 17 anos do vil e covarde assassinato, no Equador, de Jaime Hurtado Gonzalez, consequente com seu povo, fiel aos princípios do marxismo-leninismo e lutador pela pátria nova e pelo socialismo; de Pablo Tapia, deputado suplente; e Wellington Borja, assistente de serviços legislativos. Crime cometido a poucos metros do Supremo Tribunal Federal, da Segurança Legislativa e em frente a um posto de auxílio imediato, contando com negligência manifesta dos seguranças.

Jaime Hurtado nasceu no dia 07 de fevereiro de 1937 na miserável e atrasada Vila Malimpia, na municipalidade de Quinindé. A pobreza de sua casa se reflete no analfabetismo de seus pais, Esteban e Pastora; no trabalho duro de plantar banana, cana-de-açúcar e na retirada de coco, que Jaime enfrentou até seus 10 anos junto com seus sete irmãos maiores; o atraso na sua entrada na escola, na cidade de Esmeraldas; o trabalho como engraxate e ajudante no pequeno bar de seus pais.

As condições de sua pobreza, sua formação da classe humilde e camponesa, sua negritude e o trabalho na produção forjaram nele o futuro revolucionário, caracterizado desde jovem como homem de coragem e disciplina, tanto em seus tempos de estudante secundarista no Colégio Fiscal 5 de Agosto, de Esmeraldas, e no Colégio Eloy Alfaro, de Guayaquil, com uma bolsa de estudos; em suas atividades de liderança, sempre ligado com importantes e significativas responsabilidades como presidente da associação da Escola de Direito e candidato à presidência da Federação dos Estudantes Universitários do Equador na Universidade Santiago de Guayaquil. A tudo isso se soma seu amor ao atletismo e ao basquete, que o fez um grande atleta nos 110 metros com barreiras, 1.500 metros, disco e medalhista de ouro no salto triplo e na seleção de basquete dos clubes Atlético e Emelec, da cidade de Guayas.

Um salto qualitativo na sua vida foi quando o então idealista teve contato com os clássicos do marxismo-leninismo a quem leu, estudou e se identificou plenamente desde muito jovem, plenamente identificado no meio de sua prática social e política por sua consciência de classe. Com Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lênin e Josef Stálin aprendeu os princípios e as leis do materialismo dialético, histórico e da economia política, transformados em uma poderosa arma, que moldaram sua concepção de mundo e vida. Pela célebre obra O Capital, de Karl Marx, ele aprendeu que os escravos negros e as centenas que conduziram os barcos que ancoraram em sua cidade natal Malimpia eram força produtiva que ajudariam à acumulação primitiva de capital do sistema capitalista. Isso explica seu profundo conhecimento deste sistema de exploração, que questionou e criticou sempre que fez um discurso na tribuna e no Congresso Nacional, citando, muitas vezes, a frase de Marx de que o capitalismo “chegou ao mundo pingando sangue”.

Daqueles clássicos aprendeu que a natureza, a sociedade e tudo o que existe têm um caráter mutável e que toda sociedade morre para ser substituída por uma mais desenvolvida; que o capitalismo será substituído pelo socialismo e o comunismo, para a mesma melhoria qualitativa da humanidade e da lógica de seu desenvolvimento. Daí a sua convicção e prática social revolucionária, juntamente com os trabalhadores, com quem fundou a União Geral dos Trabalhadores do Equador (UGTE), sua relação com os agricultores, com professores, pequenos comerciantes, estudantes secundaristas e universitários, com a juventude, com os exploradores e oprimidos, que foram educados, organizados e orientados sobre a necessidade de uma Pátria Nova e do socialismo e em combate aberto contra governos civis e ditaduras militares.

Como revolucionário consequente, militou em uma organização de novo tipo, como orientava Lênin; é, por isso que, em 1966, entrou nas fileiras do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador (PCMLE), e que, por seu compromisso com as tarefas revolucionárias, ocupou posições importantes de liderança do Partido. Sua atividade política estava intimamente ligada com sua profissão na defesa de direitos trabalhistas dos trabalhadores e camponeses, pequenos comerciantes e pessoas pobres vítimas de abusos e arrogância dos governos burgueses.

Como resposta política organizada contra a ditadura do triunvirato militar do final dos anos 1970, juntamente com a FTP, a FEUE e a FESE, Hurtado cumpre uma das tarefas mais importantes de sua vida para participar como membro fundador da Movimento Popular Democrático (MPD), em 17 de Março de 1978, e assim formar o Programa de Governo de trabalhadores, camponeses, professores e estudantes, como o antecedente mais próximo e significativo para a sua constituição; propósito claro e história de lutar pelas necessidades do povo do Equador; dos explorados e oprimidos por meio do slogan pela “conquista de um governo popular, patriótico, democrático e revolucionário para implementar resolutamente o seu programa e fortalecer a base para a conquista do socialismo”.

No mesmo ano, 1978, Jaime Hurtado é proposto como candidato à presidência da República pelo Movimento Popular Democrático (MPD); no entanto, pelo boicote do Tribunal Supremo Eleitoral, ao recusar o registo do partido, sua candidatura não se oficializou. Atos como este e outros parecidos organizados pelo Estado da burguesia e outras forças políticas se repetiram ao longo da história do MPD. Posteriormente, em 1979, por seus méritos e dedicação ao trabalho entre os mais pobres, transformou-se em deputado nacional pela primeira vez. Em 1998, foi novamente eleito como deputado e como candidato à Presidência da República, luta eleitoral em que participou duas vezes, tornando-se o primeiro deputado eleito e o primeiro candidato negro à Presidência. Nas suas intervenções, combateu a corrupção e a exploração. Ele levantou a necessidade de uma condução forte, organizando o país porque os equatorianos “precisam de um capitão que saiba aonde levar o barco e, em segundo lugar, que tenha experiência e capacidade suficientes para, em um mar agitado como o que vivemos hoje, poder levá-lo a um porto seguro”.

De 1990 a 1994, foi diretor nacional do Movimento Democrático Popular, conduzindo com decisão a realização de alterações quantitativas e qualitativas e fortalecendo sua unidade na construção e expansão de suas fileiras. Ele foi implacável contra aqueles que tentaram minar a linha política do Partido e sua disciplina, camuflados de esquerda, quando, na verdade prosperam à sombra de posições pseudorrevolucionárias.

Sua casa foi formada com Síria Angulo Alcivar, advogada de profissão, e seus filhos: Pastora Amira, PhD em bioquímica e farmácia, Fernanda Stalina, engenheira de alimentos, e Jaime Lenin, advogado, que, com seu próprio mérito e entrega suficiente, continua a levantar a posição política revolucionária de seu pai.

Desde aquele dia fatídico de seu assassinato, os encarregados de “fazer justiça” no país, acumularam centenas de versões, testemunhos, investigações e dezenas de medidas, em 9.000 páginas, 40 corpos de processo tratados por sete juízes, sem estabelecer com certeza os autores intelectuais do triplo assassinato, embora muitos suspeitos como autores tenham sido presos.

Jaime Hurtado González, lembramos de seu grande e sincero sorriso, sua franqueza e honestidade; sua ligação com o trabalho político revolucionário, sua coragem, seu entusiasmo sem tempo de descanso e posições inflexíveis porque “nós não podemos fazer, emepedistas, uma briga com lenços brancos. O MPD não pode, diante de um golpe sofrido em um lado da cara, virar o outro. O MPD é consciente de que não pode lidar com as mãos macias com quem, permanentemente, atropela o povo violentando os direitos fundamentais dos setores populares…”.

Nunca esqueçamos sua frase, antes de seu assassinato: “Senhora Presidente, quero falar hoje, e não amanhã”.

Fermín Ande, traduzido da Revista Rupturas, do Equador