20 DE MARÇO, DIA DE LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO DE PORTO ALEGRE/RS

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                O dia 20 de março poderia ser apenas mais um dia para as estatísticas do trânsito brasileiro, afinal a média de mortes é de 50.000 por ano no Brasil. Mas em Porto Alegre/RS esse dia é emblemático, símbolo de luta. Em 2014 duas jovens mulheres estudantes da UFRGS foram assassinadas enquanto pedalavam. De manhã cedo, Patrícia, estudante de pedagogia, pedalava de casa para o campus centro da UFRGS para assistir a aula. No início da noite, Daíse, estudante de psicologia, pedalava na ZN para encontrar o namorado. Ambas foram atropeladas por ônibus.

                Em 2015, foi organizado pelo Coletivo Voz Ativa, com participação de independentes e da Massa Crítica,  um “bicicleato” para lembrar nossas colegas e protestar contra a opção política da administração municipal em privilegiar veículos automotores enquanto entrega vidas de ciclistas ao asfalto. Iniciamos o ato no estacionamento da Faculdade de Educação da UFRGS onde em uma vaga de estacionamento plantamos uma bergamoteira – ação repetida no dia 27, pois a prefeitura do campos arrancou a árvore, que novamente foi arrancada – atravessamos a cidade pedalando entre os locais dos atropelamentos e deixamos intervenções artísticas no asfalto: “Um ano sem patrícia e Daíse”.

                Em 2016, a pedalada foi menor, mas não menos marcante. Nos concentramos nos arcos do Parque Farroupilha e contamos com a presença de Marlene, mão de Daíse, e de Rita, filha de Joel Fagundes – ciclista assassinado em fevereiro de 2015 por um táxi. Pedalamos até a ponte estaiada da BR-448 para atender uma solicitação de Patrícia: suas cinzas ao Guaíba. De lá retornamos para o centro da cidade até o Parque Marinha do Brasil, onde encerramos o ato com algumas falas, que entre outras coisas chamaram a atenção dos ciclistas para necessidade de organização para barrar na marra os assassinatos. Pois através de determinação do Poder Judiciário, a Prefeitura de Porto Alegre está obrigada a cumprir a Plano Diretor Cicloviário, mas nega-se a executá-lo. Sem a pressão da massa continuará a construir ciclovias que ligam nada a lugar nenhum e atrapalham ainda mais o já caótico trânsito da capital gaúcha.

                Mas a luta por segurança no trânsito não apenas pelas nossas vidas (se já não fosse suficiente), é também contra o preconceito e conservadorismo da sociedade brasileira. É contra a burguesia imperialista que para manter os lucros de suas fábricas multinacionais financia campanhas de governos e distribui brindes para aliados no judiciário. É contra a burguesia nacional que enche os bolsos de grana explorando trabalhadores através das concessões do transporte ‘público’ urbano e rodoviário, por exemplo Porto Alegre, onde 19 famílias exploram 1,5 milhão de pessoas cobrando tarifas cada vez mais caras por serviço para vez mais precário.

                E para iniciar esse ciclo de lutas, decidimos revitalizar um local especial. O velódromo do Parque Marinha do Brasil, onde também está instalado um mosaico do primeiro fórum social mundial, está ameaçado de virar estacionamento devido à revitalização da orla do Guaíba. Obra que na verdade é só retorno do investimento às empreiteiras que financiaram a campanha do prefeito José Fortunati. Dia 22 de maio limparemos a pista e plantaremos não apenas as bergamoteiras dedicadas à Patrícia e Daíse, mas dezenas de árvores frutíferas. Mobilizar ciclistas, e seus amigos e familiares, para ocupar e transformar este espaço em área recreativa, mas também em campo de batalha e organização.